Revista Elle 1 - 18 páginas | Page 10

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PADRÕES DE BELEZA NÃO SÃO A REALIDADE.

ÀS VEZES, ESQUECEMOS QUE ELES VÊM DE

UM GRUPO DE PESSOAS QUE

DECIDE O QUE É LEGAL HOJE.

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yia está há horas sendo foto- grafada e segue aperfeiçoando cada detalhe das imagens. Está cansada, mas domina o set com doçura. Conta sobre seus projetos com a calma de quem já passou por muito em mais de 20 anos de carreira (ela comple-

tou 40 de vida no dia 1 deste mês) São incontáveis campanhas e desfiles, mas é quando discorre sobre o trabalho de outras mulheres que sua fala se intensifica, e o cansaçõ parace dissipar. "Tantas mulheres fizeram coisas incríveis. É difícil pensar numa específica que me inspire. Mas há uma ativista, e seu nome é Nice Leng'ete. Ela advoga contra a mutilação genital e está realmente fazendo a diferença no Quênia", conta sobre a jovem que ajudou a cerca de 15 mil meninas a não passar por esse trauma. "Ela é uma garota comum. Não é alguém que tem muito, mas está usando sua voz para dizer que basta. Ela lutou contra sua própria cultura e passou por muita coisa até que começassem a entender o que ela estava dizendo. É incrível. É o tipo de pessoa que me inspira".

É interessante conhecer as figuras que motivam Liya. Mesmo se definindo também como uma mulher comum, acabou se transformando no que ela no que ela mesmo entende como uma pessoa inspiradora. Aconteceu na moda, ao sair da Etiópia aos 18 anos com o sonho de ser modelo e, mais tarde, se tornando uma referência ao virar a primeira modelo negra a assinar com a Estée Laude. Em seguida, veio o posto de embaixadora da Organização Mundial da Saúde. Assim como a ativista queniana, Liya nunca se conformou com a situação que viu de perto enquanto crescia na África: milhares de mulheres morrendo durante o parto por não ter acesso as instalações básicas de saúde. Por seis anos, ela ajudou a colocar esse problema na pauta dos países em desenvolvimento até abrir sua própria fundação. Sempre com seu país de origem em mente, ainda lançou a Lemlem, uma marca sustantável que tem como prioridade gerar empregos e valorizar o trabalho dos artesãos em escala global.

Com os pés no chão, Lyia, que chegou ao ranking de novas supermodels do respeitado portal Models.com, influenciou cada uma das áreas por onde passou sem deixar de ser crítica, principalmente quando o assunto é diversidade na moda. Afinal, mesmo 15 anos depois de sua campanha para a Estée Lauder, o racismo continua presente. "Esta é a questão: você não quer se uma coisa 'cool', A diversidade não pode ser uma tedência", diz ela. Não à toa, Raf Simons escolheu a icônica modelo etíope para fazer parte do novo momento da Calvin Klein. "A moda é política e o que o Raf está fazendo é elevar a barra ainda mais nessa jornada. Ele dá continuidade ao impacto que a Calvin Klein sempre teve, seja com jeans, seja com o underwear". Ele a colocou em seus três desfiles e também como o rosto do Eternity, um dos perfumes mais importantes da grife, que agora ganha uma nova versão, o Air.

Lemlem: a marca que valoriza o trabalho artesão.

Como você acredita que as mulheres podem encontrar o amor-próprio em um mundo com tantos padrões?

Acho que não há opção. Os padrões de beleza não podem influenciar o amor-próprio. Não há motivo para aceitá-los. Você tem que se amar porque não existe absolutamente nada de errado com você.

LIYA KEBEDE - SOBRE A LEMLEM

Você sempre pensou assim?

Eu acho que é uma coisa que acontece quando você vai ficando mais velha. Você começa a perceber que tem que aceitar quem é porque, de qualquer forma, ninguém pode ser você. Os padrões de beleza não são a realidade e às vezes esquecemos que eles vêm de um grupo de pessoas que decide o que é legal hoje, mas que amanhã pode virar outra coisa. E você não pode ficar subindo e descendo nessa dança porque, mesmo que tente, nunca vai alcançá-los.