realidade( aprender a protelar o prazer, a discriminar os afetos e condutas, a moderar os impulsos). CHAUÍ( 1984, p. 32.)
Chauí( 1984) faz uma divisão dos contos de fadas em dois tipos: o de retorno e o de partida. Respectivamente no primeiro a sexualidade se apresenta de forma disfarçada da genitalidade, são apresentadas como ameaçadoras, pois a criança ainda não está preparada para ela, a sexualidade permitida ainda é oral. Em contrapartida, nos contos de Partida a sexualidade terá prioridade e passa a ser aceita no momento em que os personagens atestam a sua maturidade. Dentro do exemplo de Chapeuzinho Vermelho, Chauí aponta a sexualidade do Lobo como animalesca e destrutiva, infantilizada ou oral, visto que pretende digerir a menina.
Em Branca de Neve, por exemplo, chamado por ela de Conto de partida, a adolescência é submetida a provações até ser ultrapassado rumo ao amor e à vida nova. Poderíamos relacionar outros contos como Bela Adormecida, às questões de maturidade, fertilidade e o dualismo entre o bem e o mau, etc.
A finalidade do conto é a de mostrar à criança, os valores e normas sociais e o sofrimento só acontece, devido a desobediências destas normas. Para Chauí( 1984) este é o compromisso do conto, situado entre o lúdico e a repressão.
No século XIX, ao lado desses contos, surge na Inglaterra, outro tipo de estória com fantasias, mas neste, o mundo adulto não é apresentado com divisões e dúvidas, bom e mau, difícil e desejável. No conto de Peter Pan, o menino que recusou crescer, ficando na Terra do Nunca, e em Alice no País das Maravilhas, a menina cujo autor não desejou que ela crescesse, conheceu a luta mortal e absurda com a Rainha do Baralho num tabuleiro de Xadrez.
Desta forma, percebemos que os contos devem ser problematizados na medida em que atendem a contextos históricos e são contados a partir de determinada realidade, pois Peter Pan e Alice foram imaginados num período conhecido como a moral vitoriana, quando a Inglaterra passava pela Segunda Revolução Industrial. Daí a recusa do mundo adulto por Peter Pan e por Alice.
De acordo com Chauí( 1984), podemos concordar com De Rossi, pois o tempo histórico é produto das ações, relações e formas de pensar dos homens e essas ações variam ao longo do tempo cronológico, podendo nos remeter aos contos de fadas que retratam diferentes realidades, os quais demonstram histórias coletivas repassadas em forma de contos.
Ler e interpretar os Contos de Fadas sob a ótica psicanalítica é uma das maneiras de saber construir o sentido da existência
ABRIL | 2017
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