camponês. As histórias que foram produzidas eram fantasias compiladas com a vida real; exploração da criança, madrasta; segundo casamento; o alimento escasso; ideia de irmão postiço para alimentar; varinhas mágicas e o que se buscava era uma boa quantidade de comida. Temos como exemplo de contos camponeses: Chapeuzinho Vermelho, Gato de Botas e a Cinderela. Os contos funcionavam como uma espécie de porta dos sonhos camponeses.
Podemos por meio dos contos de fadas entendermos que relação à sociedade tem estabelecido com a infância e que contribuem para a construção da história. Além disso, os contos falam sobre a miséria, fome, pobreza, apresentando-os como os maiores vilões que os personagens enfrentam. Numa das versões recolhidas por Perrault do ciclo da Cinderela, aparece o tema da subnutrição, bastante frequente nas versões camponesas desse conto.
Na versão de La Petite Annette, a madrasta de Anette dá a pobre menina apenas um pedaço de pão por dia e faz com que ela cuide das ovelhas, enquanto suas gordas e indolentes meias-irmãs ficavam pela casa sem fazer nada, jantando carneiro e deixando uma imensidão de louça suja para Anette lavar. Nesta versão, quando a menina está a ponto de morrer de fome aparece a Virgem- Maria na função de fada madrinha e lhe oferece uma varinha mágica para que ela produza um banquete todas as vezes que tocar numa ovelha negra. O encontro de Anette e seu príncipe são intermediados, por uma situação que envolve a concessão de comida. O príncipe diz que se casará com a donzela que conseguir colher mais frutas para ele. Como vimos os contos de fadas retratam realidades de determinado momentos, sendo úteis para voltarmos à determinada época e investigá-la.
No livro, O que Conta o Conto:“ os contos nos dizem algo sobre o ser humano que às vezes não sabíamos como formular, e o dizem de maneira bastante simples”. Bonaventure( 1992, p. 9).
O seu livro propõe uma abordagem dos contos de fadas como exemplo de trabalho com imagens, sem impor soluções, pois as imagens abrem visão para que outras possam surgir. O autor problematiza, questionando a forma como se conta o conto: como passatempo? Fuga da dura realidade? Para outros os contos contêm uma moral própria que podemos passar para a criança de maneira indireta e talvez mais fácil. Os bons sempre vencem; os maus, preguiçosos, invejosos são destruídos. A criança órfã de mãe sofrerá na mão da madrasta cruel? Os filhos mais velhos sempre acabam mal. Que Pedagogia seria essa?
Segundo Bonaventure, as crueldades vão contra nossos princípios.“ Assim do ponto de vista da educação moral e humana, até parecem contar uma lição duvidosa e ambígua”. Bonaventure( 1992, p. 11 – 15).
Bonaventure( 1992) questiona o que conta o conto? Por que se continua lendo e contando estórias de Branca de Neve, Cinderela, João e Maria entre outras? O autor evita termos dos grandes mestres da Psicologia
ABRIL | 2017
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