Foto: Reprodução do instagram
SIREN
Foto: Antônio H. P. Pinheiro
Se engana quem ainda pensa que o
grafite é algo exclusivamente para ho-
mens. A grafiteira Camila Santos, tam-
bém conhecida como Siren, de apenas
21 anos, se destaca pelos inúmeros tra-
balhos espalhados pelas ruas de Brasí-
lia e de outros estados, nos mostrando
que a participação feminina nesse meio
tem se tornado cada vez mais comum.
Desde de bem pequena já apresentava
características inatas de que se tornaria
uma grande artista, e, percebendo isso,
sua família lhe incentivou dando alma-
naques da “Turma da Mônica” cheios
de passatempos e imagens para colorir.
Conforme seu crescimento, foi desco-
brindo outros tipos de materiais (como
giz pastel e aquarela) e até hoje tudo que
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lhe parece interessante vira uma forma
aprender, testar e aplicar. Durante o en-
sino médio o grafite acabou aparecendo
como mais uma técnica; após ler livros
a respeito, dando um pouco mais de
atenção a todo tipo de arte grafitada nas
ruas e reconhecer a quem pertencia es-
ses trabalhos, Siren resolveu entrar em
contato com um desses artistas o qual
também lhe proporcionou fazer diver-
sas amizades que permanecem em sua
vida até os dias de hoje.
Uma de suas grandes dúvidas no iní-
cio foi de como reproduzir seus estilos
de desenhos nas ruas utilizando spray,
tendo que começar do zero, fazia letras
em “Bombs” e “Throw-up”. Foi durante
esse período que viu que grafite não era
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
só uma técnica, e sim, um estilo de vida.
Foi aos 16 anos que Siren começou a
grafitar; — “Foi um pouco complicado
pra mim no começo porque eu sempre
fui mais quietinha, não gostava muito
de sair e isso acabou me fazendo sair
sozinha, aprender a me comunicar e me
fez amadurecer em relação ao mundo
que eu, na verdade, não conhecia.”
Devido a distância entre ela e seus
amigos também grafiteiros, Siren aca-
bou aprendendo sozinha a como se
portar nas ruas, em quais locais poderia
entrar ou não (o que acabava colocando
a sua vida em risco por pintar em becos
escuros e passar por lugares aonde só
haviam homens bêbados); tinha tam-
bém o medo de em alguma abordagem
policial ter seus materiais confiscados
ou ser multada. Além de todos esses fa-
tos, Siren teve consigo um receio maior:
acabar sendo estuprada ou alguém lhe
fazer algum outro mal. O fato de estar
trabalhando não a deixa desatenta a
tudo que acontece ao seu redor. Ainda
existe Preconceito nesse meio, mas as
mulheres querem conquistar seu devido
espaço ultrapassando qualquer obstácu-
lo que seja, para fazer com que o mundo
reconheça sua capacidade.
Formada em Design Gráfico, viu no
spray uma forma de expressar e repre-
sentar todo o empoderamento femini-
no em sua arte urbana, e percebendo
que muitos dos grafites que retratavam
as mulheres eram sexualizados ou ti-
nham uma representação de maneira
vulgar, decidiu fazer sua arte para que
fosse julgada a qualidade de sua pin-
tura, retratando uma mescla entre a
natureza e a imagem da mulher forte,
vítima de assédios e agressões e suas
reações; uma forma de exteriorizar
uma opinião, ideia ou pensamento e
mostrar que seus trabalhos podem sim
estar de igual pra igual ou até melhor
que o dos homens.
Apesar de ser conhecida por suas
belas artes urbanas espalhadas pelos
mais diversos lugares de Brasília, Siren
não se define como grafiteira, apenas
uma artista que põe para fora tudo o
que pensa e acredita ser sua arte, isso se
dá devido ao fato de reconhecer estar
sempre em constante mudança. Além
do grafite, ela também possui trabalhos
artísticos de bordado, pintura digital,
pintura acrílica e xilogravura.
Inspirada por Mangás, Animes e
HQs, definiu seu estilo e traço com a
mescla entre o cartoon e o estilo mais
realista, mas o fator principal de sua
influência, se tornando destaque e fa-
zendo com que a identidade visual de
seus trabalhos sejam reconhecidos em
qualquer lugar, é a inspiração em sua
avó, mãe, amigas e claro, a luta femi-
nista. — “Em um contexto geral pen-
so que podemos tirar inspiração até
de experiências ruins, e como se você
pegasse tudo isso e transformasse em
combustível.” explica.
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
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