Revista Duas Asas vol 1 | Page 26

Foto: Reprodução do instagram SIREN Foto: Antônio H. P. Pinheiro Se engana quem ainda pensa que o grafite é algo exclusivamente para ho- mens. A grafiteira Camila Santos, tam- bém conhecida como Siren, de apenas 21 anos, se destaca pelos inúmeros tra- balhos espalhados pelas ruas de Brasí- lia e de outros estados, nos mostrando que a participação feminina nesse meio tem se tornado cada vez mais comum. Desde de bem pequena já apresentava características inatas de que se tornaria uma grande artista, e, percebendo isso, sua família lhe incentivou dando alma- naques da “Turma da Mônica” cheios de passatempos e imagens para colorir. Conforme seu crescimento, foi desco- brindo outros tipos de materiais (como giz pastel e aquarela) e até hoje tudo que 26 lhe parece interessante vira uma forma aprender, testar e aplicar. Durante o en- sino médio o grafite acabou aparecendo como mais uma técnica; após ler livros a respeito, dando um pouco mais de atenção a todo tipo de arte grafitada nas ruas e reconhecer a quem pertencia es- ses trabalhos, Siren resolveu entrar em contato com um desses artistas o qual também lhe proporcionou fazer diver- sas amizades que permanecem em sua vida até os dias de hoje. Uma de suas grandes dúvidas no iní- cio foi de como reproduzir seus estilos de desenhos nas ruas utilizando spray, tendo que começar do zero, fazia letras em “Bombs” e “Throw-up”. Foi durante esse período que viu que grafite não era DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019 só uma técnica, e sim, um estilo de vida. Foi aos 16 anos que Siren começou a grafitar; — “Foi um pouco complicado pra mim no começo porque eu sempre fui mais quietinha, não gostava muito de sair e isso acabou me fazendo sair sozinha, aprender a me comunicar e me fez amadurecer em relação ao mundo que eu, na verdade, não conhecia.” Devido a distância entre ela e seus amigos também grafiteiros, Siren aca- bou aprendendo sozinha a como se portar nas ruas, em quais locais poderia entrar ou não (o que acabava colocando a sua vida em risco por pintar em becos escuros e passar por lugares aonde só haviam homens bêbados); tinha tam- bém o medo de em alguma abordagem policial ter seus materiais confiscados ou ser multada. Além de todos esses fa- tos, Siren teve consigo um receio maior: acabar sendo estuprada ou alguém lhe fazer algum outro mal. O fato de estar trabalhando não a deixa desatenta a tudo que acontece ao seu redor. Ainda existe Preconceito nesse meio, mas as mulheres querem conquistar seu devido espaço ultrapassando qualquer obstácu- lo que seja, para fazer com que o mundo reconheça sua capacidade. Formada em Design Gráfico, viu no spray uma forma de expressar e repre- sentar todo o empoderamento femini- no em sua arte urbana, e percebendo que muitos dos grafites que retratavam as mulheres eram sexualizados ou ti- nham uma representação de maneira vulgar, decidiu fazer sua arte para que fosse julgada a qualidade de sua pin- tura, retratando uma mescla entre a natureza e a imagem da mulher forte, vítima de assédios e agressões e suas reações; uma forma de exteriorizar uma opinião, ideia ou pensamento e mostrar que seus trabalhos podem sim estar de igual pra igual ou até melhor que o dos homens. Apesar de ser conhecida por suas belas artes urbanas espalhadas pelos mais diversos lugares de Brasília, Siren não se define como grafiteira, apenas uma artista que põe para fora tudo o que pensa e acredita ser sua arte, isso se dá devido ao fato de reconhecer estar sempre em constante mudança. Além do grafite, ela também possui trabalhos artísticos de bordado, pintura digital, pintura acrílica e xilogravura. Inspirada por Mangás, Animes e HQs, definiu seu estilo e traço com a mescla entre o cartoon e o estilo mais realista, mas o fator principal de sua influência, se tornando destaque e fa- zendo com que a identidade visual de seus trabalhos sejam reconhecidos em qualquer lugar, é a inspiração em sua avó, mãe, amigas e claro, a luta femi- nista. — “Em um contexto geral pen- so que podemos tirar inspiração até de experiências ruins, e como se você pegasse tudo isso e transformasse em combustível.” explica. DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019 27