CRIATUS DESIGN
“TODA ARTE É
ABSOLUTAMENTE
INÚTIL”
Haroldo Brito, designer gráfico e empresário de Brasília, entende sua área
como uma aliança perfeita entre processos criativos e empreendedorismo
“Toda arte é absolutamente inútil”, dis-
se Oscar Wilde. Embora não pareça, o
pensamento do escritor é, na verdade, um
elogio. Com este posicionamento, Wilde
trata a arte como algo biologicamente inútil
para o ser humano. De fato, o ser humano
precisa de coisas inúteis tanto quanto, ou
talvez ainda mais, precisam de coisas úteis.
Por exemplo, qual é a utilidade do amor?
Da amizade? Da devoção? Nenhuma. Po-
rém, ainda assim, por algum motivo, para
pessoas essas coisas lhe são, inexplicavel-
mente, fundamentais para seus espíritos, e
a arte é digna de se igualar a estas neces-
sidades inúteis. Por isso o pensamento de
Wilde é um elogio.
A filosofia deste escritor é uma forma
de se pensar sobre arte, tal como muitas
outras. No entanto, talvez pela sua época,
Oscar Wilde não pensou sobre um tipo
específico de arte que, curiosamente, en-
controu uma brecha em sua afirmação “a
arte é inútil”, pois esta arte tem sim uma
utilidade. Aliás, podemos a definir como
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“arte funcional”, uma arte que tem uma
função para as pessoas, uma função mer-
cadológica. Estamos falando de Design.
Design é uma arte, uma arte que po-
deria ser exposta em museus comuns,
mas tal exposição não é seu objetivo. Seu
objetivo, indo mais além, não é arrancar
expressões de encanto por parte de seu
público. Não. Seu objetivo é apenas agra-
dar a quem a vê, se mantendo em sua
memória, para, mais tarde, vender algo.
“Design é, antes de tudo, um negócio”,
disse Haroldo Brito.
Haroldo Brito, designer gráfico e em-
presário de Brasília, entende sua área
como uma aliança perfeita entre processos
criativos e empreendedorismo. Para Ha-
roldo, como em todas as vias do mercado,
os designers devem ser qualificados para
entender mais do que grids e trabalhos
finalizados em arquivos de computador,
devem também compreender os aspectos
e o funcionamento do mercado, do seu
nicho, onde poderia atuar, como estipular
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
o preço de seu serviço mediante estudos,
controle de vendas e gastos… enfim. Tudo
que diz respeito à parte administrativa de
seu próprio negócio, no caso, design.
Fundador e diretor da Criatus Design,
Haroldo Brito segue seus princípios para
sua carreira profissional, unindo seu co-
nhecimento proveniente de sua forma-
ção em Design Gráfico, aos seus anos de
experiência em gestão e no setor gráfico
em si. Ainda que atue em uma área mais
voltada para livros e diagramação, o pro-
fissional relata estar apto para receber o
trabalho que lhe for solicitado, sempre
dando o seu melhor. De acordo com
sua visão, o designer, para se destacar no
mercado precisa respeitar uma demanda
que, ao menos em Brasília, é muito gran-
de, a demanda de bom atendimento.
Apesar de a comunicação entre de-
signer e cliente ser fundamental para a
elaboração de determinado projeto, um
bom atendimento não é só primordial
para exclusivamente este segmento. Atu-
almente, está cada vez mais fácil encon-
trar relatos de pessoas que desaprovam
a comunicação de diversas empresas, de
diversos ramos. Ou seja, para qualquer
instituição, uma boa relação entre profis-
sional e cliente já é tida como um ponto
positivo, uma vez que se estabelece res-
peito entre as partes. Na Criatus Design,
o cliente terá isso em um nível mais evi-
dente. Segundo Haroldo, é extremamen-
te importante uma estável comunicação,
sempre prezando pela palavra do cliente
e, se for o caso, lhe fornecendo informa-
ções necessárias para a compreensão do
projeto a ser desenvolvido, uma vez que
um número considerável de pessoas ain-
da não obteve conhecimentos básicos no
quesito de design. Logo, quando a ocasião
pedir, é bastante proveitoso o profissional
explicar sua visão de forma clara e didáti-
ca, pois isso também faz parte do conceito
de “bom atendimento”.
Além disso, o empresário trabalha com
o cliente sob um tom de parceria, lhe for-
necendo conselhos apropriados para seus
negócios, dado que o desenvolvimento do
comprador pode ser também proveitoso
para o designer. O incentivar a projetos que
certamente lhe trará retorno é primordial.
Há, durante seu encontro com o cliente,
diálogo constante, proveniente deste mo-
mento de suma importância, a reunião
física entre ambas as partes. Embora os
tempos modernos terem trazido formas de
comunicação distintas das presenciais, ain-
da é mais vantajoso para o fortalecimento
da relação interpessoal entre profissional e
cliente a comunicação presencial.
“É nesta ocasião, olho-no-olho, que eu
atendo a pessoa. Eu costumo falar com o
cliente aqui quando ele chega, e ele só sai
daqui quando acaba de fato. Eu pego na
mão do cliente até o fim.”
Tudo, como Haroldo relata, é impor-
tante para a construção de seu sucesso
profissional, até mesmo o que poderia ser
tido como “tempo perdido”. Se um possí-
vel contratante discutir sobre um projeto
durante três horas e, no fim, não fechar o
negócio, todo este tempo ainda será con-
siderado útil, pois mais tarde este mesmo
contratante comentará sobre o profissio-
nal que discutiu atentamente sua propos-
ta. Ou seja, propaganda.
A confiança em seu trabalho tam-
bém pode ser fundamental quando
necessária. Se realmente o profissional
dá o seu melhor para o projeto, não há
o que temer na concorrência, assim
pensa e age Haroldo Brito em relação
à sua empresa, Criatus Design.
“Se você vir aqui e me procurar, eu
te atendo. Se eu sentir que fecho ou não
fecho, eu vou te indicar outro designer e
então você tira sua média. Com isso, de
10 clientes, pelo menos 8 voltam. Mas por
que isso? Porque aqui tem atendimento,
eu incentivo o cliente a vir aqui, ao meu
escritório, bater um papo, dar um direcio-
namento para ele.”
Sobre sua forma de trabalhar ao longo
de seu tempo de profissão, o empresário
pôde modificar sua técnica, avaliando e se
adaptando ao mercado e ao que melhor lhe
atendia. Por uma questão mercadológica,
ele sempre optou por elaborar suas obras
no software de criação CorelDRAW, da
Corel Corporation. Atualmente, todo seu
trabalho está voltado para os programas
de computador da companhia Adobe Inc.,
isto é, Photoshop, Illustrator, e, com mais
destaque, Indesign. Seu conhecimento em
relação ao processo técnico em programas
de criação lhe propôs o fornecimento de
dois cursos de softwares específicos para
design, voltados para conhecimentos das
ferramentas e diagramação.
Embora possa esbanjar técnica quan-
do se trata de programas e maneiras de
compor, Haroldo frisa a importância da
compreensão de todo o contexto de tra-
balho, afinal, no mercado há profissio-
nais extremamente competentes, cada
um deles com estilos distintos uns dos
outros. Portanto, independentemente do
software, se um designer elabora bons
projeto e, aliado a isso, pode compre-
ender seu setor e como agir nele, estará
sendo assim um profissional eficaz.
E para compreender o mercado em
si, o empresário explica que o profissio-
nal não precisa se especializar em enco-
mia, deve apenas observar o ambiente
ao seu redor, pois este será o seu mais
proeminente circulo de negócios. É de
se aceitar que o país realmente está em
crise e, de fato, os efeitos desta situação
são sentidos todos os dias por todas
as pessoas, o que, porém, deve afetar
os profissionais do setor em questão
de forma construtiva, avaliando mais
cautelosamente os meios do ofício. Os
serviços de um designer podem ser re-
quisitados em qualquer meio, por isso,
é importante para este especialista assi-
milar o que poderá ser seu nicho. Deste
momento em diante, ele poderá encon-
trar meios de se estabelecer, em razão
de que ainda pode haver um problema
para iniciantes sobre a forma de como
fixar um preço por seu trabalho e como
cobrar por ele. Segundo o próprio Ha-
roldo, avaliar o mercado pode ser mais
fácil do que aparenta ser.
— “Você não precisa perguntar para
todo mundo quanto ganham. Pergunte
ao fornecedor. Se quer saber se o setor
industrial local está rendendo, pergunte
a CEB (Companhia Energética de Brasí-
lia)”, Haroldo ironiza. Indo mais além, o
controle de tempo que se utiliza em pro-
jetos pode ser fundamental. Saber por
quanto tempo você trabalha em varia-
dos tipos de composições deve facilitar o
modo de se estabelecer um preço. Cobrar
por tempo de trabalho é uma boa opção.
Com um design mais limpo, “clean”,
Criatus Design, comandada por Harol-
do Brito, é responsável pela criação de
inúmeras concepções criativas, dentre
as quais, se destaca o projeto selecio-
nado para compor o catálogo da 12ª
Bienal de Design Gráfico, destinado à
Fundação Real Madrid – Clinic Brasil.
Trata-se de um kit esportivo entregue
aos pequenos aspirantes a jogadores de
futebol inscritos. Esta obra fora desti-
nada aos clubes filiados ao Real Madrid
localizados em todas as metrópoles do
país. Desde seu conceito ao seu resul-
tado final, Haroldo Brito trabalhou
para a composição de todo o kit, o qual
fora devidamente trabalhado em seus
mínimos detalhes, tanto internamente
quanto externamente.
Seu trabalho, hoje reconhecido, não se
dá por mero acaso. Nota-se que seus prin-
cípios realmente foram postos em prática,
uma vez que seus bons resultados podem
ser perceptíveis claramente, até para lei-
gos. Haroldo, no entanto, se arrepende de
um pequeno detalhe: não ter começado
com sua empresa contratando auxiliares,
pois nos tempos atuais, sua estrutura seria
maior. — “Quando comecei a empreen-
der em 2010, abrindo o escritório, não
trouxe pessoas para trabalhar comigo,
nem fiz parcerias. Caso tivesse feito isso,
hoje a Criatus já seria maior. Eu tive que
entender, durante todo este tempo aqui,
muita coisa no sentido de empreender, e
essa coisa de lidar com o outro colabora-
dor e ter essa força a mais, acho que faltou
lá atrás.”, afirmou ele.
Como sugestão aos novos ingressantes
na carreira, Haroldo Brito deixa claro a
importância de levar a sério sua profis-
são, esta em toda a sua forma, levando
não apenas a questão de processo cria-
tivo, mas também os negócios em torno
de tudo, a gestão. Se no mercado a maior
parte dos formandos em design desiste
de sua profissão algum tempo depois, é
preciso se esforçar para se manter fiel aos
deveres do ofício, compreendendo toda
sua amplitude, não se deixando abalar
pela real crise presente e não desistindo
como muitos outros. “Lembre-se, Design
é, antes de tudo, um negócio.”
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
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