Revista Duas Asas vol 1 | Page 20

CRIATUS DESIGN “TODA ARTE É ABSOLUTAMENTE INÚTIL” Haroldo Brito, designer gráfico e empresário de Brasília, entende sua área como uma aliança perfeita entre processos criativos e empreendedorismo “Toda arte é absolutamente inútil”, dis- se Oscar Wilde. Embora não pareça, o pensamento do escritor é, na verdade, um elogio. Com este posicionamento, Wilde trata a arte como algo biologicamente inútil para o ser humano. De fato, o ser humano precisa de coisas inúteis tanto quanto, ou talvez ainda mais, precisam de coisas úteis. Por exemplo, qual é a utilidade do amor? Da amizade? Da devoção? Nenhuma. Po- rém, ainda assim, por algum motivo, para pessoas essas coisas lhe são, inexplicavel- mente, fundamentais para seus espíritos, e a arte é digna de se igualar a estas neces- sidades inúteis. Por isso o pensamento de Wilde é um elogio. A filosofia deste escritor é uma forma de se pensar sobre arte, tal como muitas outras. No entanto, talvez pela sua época, Oscar Wilde não pensou sobre um tipo específico de arte que, curiosamente, en- controu uma brecha em sua afirmação “a arte é inútil”, pois esta arte tem sim uma utilidade. Aliás, podemos a definir como 20 “arte funcional”, uma arte que tem uma função para as pessoas, uma função mer- cadológica. Estamos falando de Design. Design é uma arte, uma arte que po- deria ser exposta em museus comuns, mas tal exposição não é seu objetivo. Seu objetivo, indo mais além, não é arrancar expressões de encanto por parte de seu público. Não. Seu objetivo é apenas agra- dar a quem a vê, se mantendo em sua memória, para, mais tarde, vender algo. “Design é, antes de tudo, um negócio”, disse Haroldo Brito. Haroldo Brito, designer gráfico e em- presário de Brasília, entende sua área como uma aliança perfeita entre processos criativos e empreendedorismo. Para Ha- roldo, como em todas as vias do mercado, os designers devem ser qualificados para entender mais do que grids e trabalhos finalizados em arquivos de computador, devem também compreender os aspectos e o funcionamento do mercado, do seu nicho, onde poderia atuar, como estipular DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019 o preço de seu serviço mediante estudos, controle de vendas e gastos… enfim. Tudo que diz respeito à parte administrativa de seu próprio negócio, no caso, design. Fundador e diretor da Criatus Design, Haroldo Brito segue seus princípios para sua carreira profissional, unindo seu co- nhecimento proveniente de sua forma- ção em Design Gráfico, aos seus anos de experiência em gestão e no setor gráfico em si. Ainda que atue em uma área mais voltada para livros e diagramação, o pro- fissional relata estar apto para receber o trabalho que lhe for solicitado, sempre dando o seu melhor. De acordo com sua visão, o designer, para se destacar no mercado precisa respeitar uma demanda que, ao menos em Brasília, é muito gran- de, a demanda de bom atendimento. Apesar de a comunicação entre de- signer e cliente ser fundamental para a elaboração de determinado projeto, um bom atendimento não é só primordial para exclusivamente este segmento. Atu- almente, está cada vez mais fácil encon- trar relatos de pessoas que desaprovam a comunicação de diversas empresas, de diversos ramos. Ou seja, para qualquer instituição, uma boa relação entre profis- sional e cliente já é tida como um ponto positivo, uma vez que se estabelece res- peito entre as partes. Na Criatus Design, o cliente terá isso em um nível mais evi- dente. Segundo Haroldo, é extremamen- te importante uma estável comunicação, sempre prezando pela palavra do cliente e, se for o caso, lhe fornecendo informa- ções necessárias para a compreensão do projeto a ser desenvolvido, uma vez que um número considerável de pessoas ain- da não obteve conhecimentos básicos no quesito de design. Logo, quando a ocasião pedir, é bastante proveitoso o profissional explicar sua visão de forma clara e didáti- ca, pois isso também faz parte do conceito de “bom atendimento”. Além disso, o empresário trabalha com o cliente sob um tom de parceria, lhe for- necendo conselhos apropriados para seus negócios, dado que o desenvolvimento do comprador pode ser também proveitoso para o designer. O incentivar a projetos que certamente lhe trará retorno é primordial. Há, durante seu encontro com o cliente, diálogo constante, proveniente deste mo- mento de suma importância, a reunião física entre ambas as partes. Embora os tempos modernos terem trazido formas de comunicação distintas das presenciais, ain- da é mais vantajoso para o fortalecimento da relação interpessoal entre profissional e cliente a comunicação presencial. “É nesta ocasião, olho-no-olho, que eu atendo a pessoa. Eu costumo falar com o cliente aqui quando ele chega, e ele só sai daqui quando acaba de fato. Eu pego na mão do cliente até o fim.” Tudo, como Haroldo relata, é impor- tante para a construção de seu sucesso profissional, até mesmo o que poderia ser tido como “tempo perdido”. Se um possí- vel contratante discutir sobre um projeto durante três horas e, no fim, não fechar o negócio, todo este tempo ainda será con- siderado útil, pois mais tarde este mesmo contratante comentará sobre o profissio- nal que discutiu atentamente sua propos- ta. Ou seja, propaganda. A confiança em seu trabalho tam- bém pode ser fundamental quando necessária. Se realmente o profissional dá o seu melhor para o projeto, não há o que temer na concorrência, assim pensa e age Haroldo Brito em relação à sua empresa, Criatus Design. “Se você vir aqui e me procurar, eu te atendo. Se eu sentir que fecho ou não fecho, eu vou te indicar outro designer e então você tira sua média. Com isso, de 10 clientes, pelo menos 8 voltam. Mas por que isso? Porque aqui tem atendimento, eu incentivo o cliente a vir aqui, ao meu escritório, bater um papo, dar um direcio- namento para ele.” Sobre sua forma de trabalhar ao longo de seu tempo de profissão, o empresário pôde modificar sua técnica, avaliando e se adaptando ao mercado e ao que melhor lhe atendia. Por uma questão mercadológica, ele sempre optou por elaborar suas obras no software de criação CorelDRAW, da Corel Corporation. Atualmente, todo seu trabalho está voltado para os programas de computador da companhia Adobe Inc., isto é, Photoshop, Illustrator, e, com mais destaque, Indesign. Seu conhecimento em relação ao processo técnico em programas de criação lhe propôs o fornecimento de dois cursos de softwares específicos para design, voltados para conhecimentos das ferramentas e diagramação. Embora possa esbanjar técnica quan- do se trata de programas e maneiras de compor, Haroldo frisa a importância da compreensão de todo o contexto de tra- balho, afinal, no mercado há profissio- nais extremamente competentes, cada um deles com estilos distintos uns dos outros. Portanto, independentemente do software, se um designer elabora bons projeto e, aliado a isso, pode compre- ender seu setor e como agir nele, estará sendo assim um profissional eficaz. E para compreender o mercado em si, o empresário explica que o profissio- nal não precisa se especializar em enco- mia, deve apenas observar o ambiente ao seu redor, pois este será o seu mais proeminente circulo de negócios. É de se aceitar que o país realmente está em crise e, de fato, os efeitos desta situação são sentidos todos os dias por todas as pessoas, o que, porém, deve afetar os profissionais do setor em questão de forma construtiva, avaliando mais cautelosamente os meios do ofício. Os serviços de um designer podem ser re- quisitados em qualquer meio, por isso, é importante para este especialista assi- milar o que poderá ser seu nicho. Deste momento em diante, ele poderá encon- trar meios de se estabelecer, em razão de que ainda pode haver um problema para iniciantes sobre a forma de como fixar um preço por seu trabalho e como cobrar por ele. Segundo o próprio Ha- roldo, avaliar o mercado pode ser mais fácil do que aparenta ser. — “Você não precisa perguntar para todo mundo quanto ganham. Pergunte ao fornecedor. Se quer saber se o setor industrial local está rendendo, pergunte a CEB (Companhia Energética de Brasí- lia)”, Haroldo ironiza. Indo mais além, o controle de tempo que se utiliza em pro- jetos pode ser fundamental. Saber por quanto tempo você trabalha em varia- dos tipos de composições deve facilitar o modo de se estabelecer um preço. Cobrar por tempo de trabalho é uma boa opção. Com um design mais limpo, “clean”, Criatus Design, comandada por Harol- do Brito, é responsável pela criação de inúmeras concepções criativas, dentre as quais, se destaca o projeto selecio- nado para compor o catálogo da 12ª Bienal de Design Gráfico, destinado à Fundação Real Madrid – Clinic Brasil. Trata-se de um kit esportivo entregue aos pequenos aspirantes a jogadores de futebol inscritos. Esta obra fora desti- nada aos clubes filiados ao Real Madrid localizados em todas as metrópoles do país. Desde seu conceito ao seu resul- tado final, Haroldo Brito trabalhou para a composição de todo o kit, o qual fora devidamente trabalhado em seus mínimos detalhes, tanto internamente quanto externamente. Seu trabalho, hoje reconhecido, não se dá por mero acaso. Nota-se que seus prin- cípios realmente foram postos em prática, uma vez que seus bons resultados podem ser perceptíveis claramente, até para lei- gos. Haroldo, no entanto, se arrepende de um pequeno detalhe: não ter começado com sua empresa contratando auxiliares, pois nos tempos atuais, sua estrutura seria maior. — “Quando comecei a empreen- der em 2010, abrindo o escritório, não trouxe pessoas para trabalhar comigo, nem fiz parcerias. Caso tivesse feito isso, hoje a Criatus já seria maior. Eu tive que entender, durante todo este tempo aqui, muita coisa no sentido de empreender, e essa coisa de lidar com o outro colabora- dor e ter essa força a mais, acho que faltou lá atrás.”, afirmou ele. Como sugestão aos novos ingressantes na carreira, Haroldo Brito deixa claro a importância de levar a sério sua profis- são, esta em toda a sua forma, levando não apenas a questão de processo cria- tivo, mas também os negócios em torno de tudo, a gestão. Se no mercado a maior parte dos formandos em design desiste de sua profissão algum tempo depois, é preciso se esforçar para se manter fiel aos deveres do ofício, compreendendo toda sua amplitude, não se deixando abalar pela real crise presente e não desistindo como muitos outros. “Lembre-se, Design é, antes de tudo, um negócio.” DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019 21