Fotos: Reprodução do instagram
VERSO EM BARRO
JÚLIA PINHEIRO
Miguel Gomes
16
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
O artesanato, hoje em dia, é mais
do que aquilo feito com elementos e
ferramentas básicas encontradas facil-
mente. A época atual esbanja um di-
versificado conjunto de peças, sendo
estas apresentadas em vários forma-
tos e plataformas, das quais poderiam
ser inimagináveis há tempos atrás. A
internet, por exemplo, dispõe de infi-
nitas possibilidades de se apresentar
tal específico tipo de arte, particular
em seus aspectos e atualmente, as re-
des sociais podem ser descritas como
excepcionais ferramentas mercadoló-
gicas, perfeitas para divulgação e ven-
das de trabalhos pessoais, atingindo
públicos de setores localizados, tendo
a disposição formas de se contabilizar
métricas próprias e adaptáveis.
Júlia Pinheiro, estudante de psicologia,
é hoje responsável pela página do Insta-
gram Verso em Barro, dedicada a peças
de artesanato com cerâmica, aliando a
plataforma à tinta. A artista conta que de-
senho e pintura sempre estiveram presen-
tes em sua vida, mas as teve como práticas
amadoras. Em 2016, a estudante adentrou
no mundo da cerâmica, e em 2017 à arte
da pintura em porcelana como meio pro-
fissional. Ela conta que sua intenção não
era fazer disso seu principal trabalho, mas
gostou tanto da prática que — “acabou
sendo consequência”.
Em sua visão o artesanato em Brasí-
lia, tal como a cultura e a arte em geral,
não é devidamente valorizado, o que
pode tornar o mercado deste segmen-
to um tanto quanto complexo de se
trabalhar e ter resultados. No entanto,
ainda assim, Júlia conta como pode ser
gratificante para si própria o meio em
que se situa profissionalmente, uma
vez que pode contar com a ajuda de
seus colegas artesãos, os tendo como
uma comunidade, onde todos podem
auxiliar para o crescimento da área.
O BARRO SUGESTÃO
O barro
toma a forma
que você quiser Você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer “Só vai! Compartilhe seu
processo com os outros, com
quem sabe mais, com quem
sabe menos. A gente tem muito
a aprender com os outros,
principalmente com quem”tá”
trabalhando há mais tempo!”
Paulo Leminski Júlia Pinheiro
“Eu tento valorizar essa questão do
“crescer junto” muito mais do que a com-
petição. Por exemplo, com outros cera-
mistas, é muito legal se apoiar, fazer feira
juntos e conhecer outras pessoas. Isso é
bem forte entre os artistas!”.
Como em todos os pólos, sempre há
dificuldades que podem ser encontra-
das por todo e qualquer profissional,
seja ele iniciante ou já experiente. Para
Júlia, apesar de esta questão ainda se
tratar de um debate voltado a questões
pessoais, (afinal, nem todos terão as
mesmas dificuldades), ela ainda pode
frisar o que mais lhe traz contratempos
em relação ao seu ofício: o preço e sua
forma de se apresentar.
A artista conta que há partes do
trabalho que são subjetivas, sendo
assim difícil para uma pessoa leiga,
desinformada quanto ao processo,
valorizar e compreender os custos das
peças. Muito embora, a mesma ainda
diz que tal problema pode ser con-
tornável com o devido diálogo com o
cliente, compartilhando com ele todo
o processo de criação, peça por peça.
Fazendo uso de argila e cerâmica, Júlia conta que não tem de se preo-
cupar quanto ao seu estilo, uma vez
que essa característica pessoal não
vem de uma decisão particular, mas
sim uma conquista adquirida com o
tempo de carreira. — “O que eu pos-
so dizer é que eu sempre tento pen-
sar nessa coisa bem íntima que há
no barro e a porcelana, essa coisa da
pessoa que for comprar, pegar uma
xícara de café e sentir sua mão nela,
sentir o quentinho do café ou do chá
é uma coisa bem íntima, principal-
mente da pessoa ter na casa dela. Eu
tento sempre pensar nisso pra passar
uma emoção boa”, relata.
Dentre suas fontes de inspirações
destacam-se artistas contemporâneos
como Gustav Klimt, Paulo e trabalhos
expostos na internet, em redes sociais
como o Instagram e Pinterest. Seu pro-
cesso criativo conta com técnicas mais
intuitivas, onde a arte pode surgir a
qualquer momento, até mesmo quando
a argila ainda está sendo produzida. Ela
lembra de Paulo Leminski, que em um
de seus poemas o autor ironiza exata-
mente com este exemplo.
DUAS ASAS Brasília, segunda-feira, 10 de junho de 2019
17