Revista Digital - Sete Pecados Capitais Revista Digital - Sete Pecados Capitais | Page 8
Conto
A fábula do deus soberbo e do lago quase proibido
Numa Terra Distante, não importa do quê, viviam deuses. Apesar de serem
todos deuses, todos imortais, havia uma hierarquia e havia um manda chuva, um
deus no topo. Como todo o seu povo, por serem deuses, se achava muito
importante e acreditava que podia fazer o que quisesse, de vez em quando o
deus-mor criava umas regras, inventava umas complicações, só para lembrar
alguns deuses mais insolentes que ali quem mandava era ele.
Uma das regras ditava que: a cada cidadão de Terra Distante era permitido
apenas 100 banhos no Lago Azul durante a sua existência. Se desobedecerem,
não verão mais o Lago. Regra clara e objetiva. Acontece que o Lago Azul era tão
cristalino, com águas divinalmente cálidas, rodeado por uma idílica cascata e
habitado por peixes da cor do paraíso, que era impossível chegar perto sem
querer nele se banhar. Com tanto medo de extrapolar o limite permitido de
banhos no Lago por existência, alguns deuses nem chegavam perto tamanha a
tentação. Mas, não Feuz.
Feuz, um deus bonachão conhecido tanto pela sua graça e alegria como
pela sua arrogância e soberba, acreditava que essa regra era uma pegadinha do
deus-mor. Porque ele o teria colocado, e talvez aos outros deuses, em Terra
Distante se não fosse para ele se divertir como bem entendesse? Para banhar-se
quantas vezes pretendesse? Assim, sem ligar para a regra, Feuz jogava-se no lago
sem fazer contas. Porém, seus amigos mais próximos contavam os banhos de
Feuz e o advertiam para o perigo. Só que Feuz zombava de tal preocupação e de
seus amigos. Ele sabia o que estava fazendo, ele era um deus, ele era Feuz?
Quando Feuz completou 90 banhos, uma cúpula de deuses sábios o visitou
implorando para que ele não mais se banhasse. Nunca qualquer deus tinha
chegado ao limite de banhos e ninguém sabia o que poderia acontecer com o
Lago ou com Terra Distante. Mas Feuz desdenhou e decidiu fazer graça para
provar que estava certo: “vou entrar dez vezes hoje mesmo no lago e a seguir
conversamos”. Os sábios rogaram aos céus, os deuses mais próximos tentaram
dissuadi-lo e até os que não o conheciam comentaram que tal ação seria de uma
estupidez tremenda. “Estúpido são eles que não aproveitam tão deliciosa
dádiva”. E entrou no Lago uma, duas, nove vezes. Ao chegar à décima vez, olhou
para a plateia que o assistia de longe, fez uma gracinha, acenou para todos e
jogou-se no lago num pulo de barriga.