COMO FOI SEU INICIO NO FUTEBOL?
Tive sorte de ter o apoio da minha família. Meu pai, que também queria ser jogador, me levava para treinar com ele ainda pequena e, quando entrei no time de Pelotas. cidade próxima à nossa (Roque Gonzales) ele dirigia mais de 1.200 km, todo os fins de semana para eu jogar. Minho mãe também me ensinou a ter disciplina, que é uma das maiores lições da vida. Não tive irmãos para brincar, mas, como cresci um uma cidadezinha de interior, vivia na rua com as outras crianças e jogando bola com os meninos. Na escola, nosso time feminino começou a se destacar. Muitas vezes, voltei chorando para casa porque me chamavam de "menina-macho”. Não entendia por que não podia jogar futebol. Com o tempo, compreendi que eram pessoas com pensamento pequeno e antigo, e não ouvi nem liguei mais para isso.
QUAL AVALIAÇÃO FAZ DE SUA TRAJETÓRIA?
Comecei a trabalhar com 14 anos e ganhava R$ 200. Comparando com as meninas que estudavam comigo e ainda estão pagando para estudar, estou bem, né? Eu recebo meu dinheirinho, já ajudei a familia e, hoje, consigo guardar. Sei que não dá para jogar futebol para sempre; é uma carreira super-curta e preciso pensar no futuro. Sou feliz e realizada, mas ainda quero conquistar um título de expressão. Nós temos o ouro da Copa América, do Sul-Americano. Falta o de um Mundial ou uma Olimpíada para cravar nosso time na história. Então, apesar desses dez anos, sinto que falta viver muita coisa.
QUAL A SUA EXPECTATIVA PARA ESTA COPA?
A melhor possível! Ela está sendo completamente diferente porque os olhos estão voltados para nós, com diversas marcas esportivas envolvidas e canais transmitindo os jogos. já dá para sentir mais apoio. Nosso time não está vindo de um momento muito bom, pois algumas derrotas abalam mesmo a confiança, né? É normal, é do futebol. Mas não temos tempo para lamentar, o Mundial está aí e precisamos levantara cabeça, deixar
o que rolou para trás, olhar para a frente e pensar em tudo o que podemos fazer de bom. É uma competição muito curta, o primeiro degrau é a classificação e sabemos que serão três jogos muito difíceis: contra a Jamaica, Austrália, Itália. Na última Copa, as australianas nos tiraram da competição com um único gol e nos provocaram. No ano seguinte, nas olimpíadas, demos o troco, mas ainda estamos com elas engasgadas, sabe? [risos]
VOCÊ JÁ FOI COMPARADA À MARTA, A JOGADORA BRASILEIRA MAIS FAMOSA
E SEIS VEZES ELEITA A MELHOR DO
MUNDO. O QUE ACHA DISSO? Quando eu era mais nova, ouvia muito "a Andressinha é a promessa da seleção". Só que sempre fui muito consciente, e a verdade é que não vai existir outra Marta. O que ela fez e faz é surreal, é um ponto fora da curva. Eu sou a Andressinha e quero fazer minha história, sem contar que as minhas características não têm nada a ver com as dela. Marta é uma jogadora rápida, agressiva, que faz gois. Eu sou do tipo que distribui e acaba pensando mais o jogo. São habilidades opostas. Já tive e ainda tenho o prazer de jogar com ela, uma pessoa incrível e com quem tento aprender ao máximo. E ambas queremos a mesma coisa: um título de Mundial. Marta diz que trocaria todas as suas Bolas de Ouro por uma taça. É isso, tem que ter sororidade. Se ela ganhar eu ganho também, a vitória é coletiva.
Seleção Brasileira Feminina: Andressinha, quase 10 anos de Seleção Brasileira
G
ENTREVISTA
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