Revista de Medicina Desportiva Setembro 2020 Setembro 2020 | Page 25

Caso clínico 2

Rev
. Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 5 ): 23-25 . https :// doi . org / 10.23911 / CC _ fratura _ tacicula _ radial _ 2020 _ set

Fratura da Tacícula Radial na Prática de Esqui

Dr . António Araújo 1 , Dr . Amílcar Cordeiro 1 , Prof . Doutor João Pinheiro 1 , 2
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Médico em formação específica em Medicina Física e de Reabilitação ( MFR ); 2 Especialista em MFR e em Medicina Desportiva . Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
RESUMO / ABSTRACT
Os autores descrevem um caso clínico de uma fratura da tacícula radial ocorrida durante a prática de esqui . Este tipo de fraturas ocorre habitualmente em quedas com o membro superior em extensão máxima e com posição do antebraço neutra , situações frequentes na prática desportiva . Podem ocorrer lesões concomitantes como rotura do complexo ligamentar colateral do cotovelo . A artroplastia da tacícula radial é cada vez mais frequente . A retoma desportiva após esta cirurgia ocorre pelas 12 semanas e o programa de reabilitação é um elemento decisivo na retoma funcional .
The authors describe a clinical case of a radial head fracture that occurred during skiing . This type of fracture usually occurs in falls on an extended upper limb with neutral forearm position , common situation in sports practice . Concomitant lesions such as rupture of the elbow collateral ligaments complex may occur . Radial head arthroplasty is increasingly common . Sports recovery after this surgery occurs at approximately 12 weeks and the rehabilitation program is a decisive element in functional recovery .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Lesões no esqui , fratura tacícula radial , artroplastia radial Sky injuries , fracture of the radial head , radial arthroplasty
Introdução
A queda é frequente na prática de esqui . As fraturas da tacícula radial são comuns e representam 1 / 3 de todas as fraturas do cotovelo . Estas fraturas tipicamente ocorrem com cargas axiais aplicadas ao antebraço , provocando contacto da tacícula radial no capítulo umeral . O espectro de gravidade destas fraturas é muito variável , podendo ocorrer desde fraturas com desvio mínimo até fraturas com grandes desvios ou muito cominutivas , necessitando de fixação cirúrgica , excisão ou eventualmente substituição . 1
Caso clínico
Sexo masculino , 33 anos , durante a prática recreativa de esqui alpino e após uma queda em decúbito dorsal com hiperextensão do membro superior esquerdo e antebraço em posição neutra referiu dor e deformidade acentuada do cotovelo ipsilateral .
O praticante foi dirigido ao serviço de urgência onde realizou radiografia ao cotovelo e foi diagnosticada uma fratura-luxação da tacícula radial complexa , Mason tipo III . Foi realizada redução aberta e fixação interna da tacícula radial com parafusos e colocada tala gessada durante cinco semanas .
Após remoção da tala gessada às cinco semanas de pós-operatório ,
Figura 1a – Fratura da tacícula radial submetida a redução aberta e fixação interna ( RAFI ) com parafusos ; b – artroplastia da tacícula radial após falência da RAFI apresentava dor local , intensidade 7 em 10 , e limitação das amplitudes articulares – 35 º -105 º flexão-extensão , 25 º -35 º pronação-supinação , tendo iniciado programa de reabilitação com vista ao controlo álgico e ganho de amplitudes articulares . Em consulta de reavaliação às 10 semanas apresentava melhoria parcial das amplitudes articulares – 25-140 º flexão-extensão e 45 º -60 º pronação-supinação , no entanto , por manter queixas dolorosas , foi solicitada radiografia do cotovelo onde se verificou perda de redução com evolução para pseudartrose ( figura 1a ).
Foi então reavaliado em consulta de Ortopedia , tendo sido decidida nova intervenção e foi realizada artroplastia da tacícula radial ( figura 1b ).
No período pós-operatório , o atleta reiniciou programa de reabilitação progressivo segundo três fases . Na primeira fase , após a primeira semana de pós-operatório , realizou crioterapia e TENS tipo C para controlo álgico e edema , mobilização ativa assistida em adução e com o cotovelo em posição neutra para ganho progressivo de amplitudes articulares , limitado pela dor local e processo cicatricial da ferida cirúrgica , mobilização ativa do ombro , punho e dedos para prevenir contraturas ou limitações articulares , e exercícios de preensão palmar e destreza manual .
A segunda fase do processo reabilitador iniciou-se pelas quatro semanas , já com um arco de movimento flexão-extensão 100-20 º, com dor controlada e sem edema ou sinais inflamatórios , com introdução do movimento pronação-supinação de forma ativa-assistida , fortalecimento em isometria dos flexores-extensores do cotovelo e punho e treino de atividades de vida diária integrando o membro superior esquerdo .
A evolução foi favorável e às oito semanas , com amplitudes articulares restabelecidas , à exceção de um défice de extensão de 10 º, iniciou a última fase de reabilitação com a introdução de exercícios de fortalecimento muscular dinâmico dos flexores-extensores do cotovelo e punho e supinadores-pronadores do antebraço , bem como treino propriocetivo em cadeia cinética fechada .
Às 13 semanas , data de alta da consulta , conseguia realizar as suas
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