Revista de Medicina Desportiva Setembro 2020 Setembro 2020 | Page 22

Caso clínico 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 5 ): 20-22 . https :// doi . org / 10.23911 / CC _ fratura _ metatarso _ 2020 _ set

Osteossíntese com Placa em Fraturas de Stress do Quinto Metatársico em Atletas :

A Propósito de um Caso Clínico
Dr . Miguel Flora 1 , Dr . Jácome Pacheco 2 , Dra . Ana Luísa Neto 3 , Dr . Francisco Guerra Pinto 1
1
Assistente Graduado de Ortopedia ; 2 Interno de formação específica de Ortopedia . 3 Especialista em Ortopedia . Serviço de Ortopedia II , Hospital Ortopédico de Santana , Parede-Lisboa .
RESUMO / ABSTRACT
As fraturas de stress ou sobreuso do quinto metatársico são comuns em atletas , particularmente no futebol , obrigando geralmente a tratamento cirúrgico . Este consiste habitualmente na cruentação do foco e osteossíntese endomedular com parafuso . No entanto , esta opção terapêutica não está isenta de complicações . A osteossíntese com placa parece ser uma alternativa válida para o tratamento das fraturas e das suas complicações no quinto metatársico . Os autores fazem uma revisão concisa da literatura e apresentam o resultado de um caso em que um doente foi tratado com recurso a esta técnica .
Stress or overuse fractures of the fifth metatarsal are common in athletes , particularly in soccer , usually they require surgical treatment , being cruentation and endomedullary osteosynthesis with screw the most commonly used technique . This therapeutic option , however , is not free of complications . Plate osteosynthesis seems to be a valid alternative for the treatment of fractures and their complications in the fifth metatarsal . The authors make a concise review of the literature and present the result of a case in which a patient was treated using this technique .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Fratura de stress , quinto metatársico , osteossíntese com placa , futsal Stress fractures , fifth metatarsal , plate osteosynthesis , futsal
Introdução
As fraturas de stress ou de sobreuso definem-se como soluções completas ou incompletas da continuidade estrutural do osso como resposta a uma carga excessiva ou repetida , em que a osteogénese é insuficiente para compensar a reabsorção óssea . Foram inicialmente descritas por Breihaupt , em 1855 , em soldados que referiam queixas de dor plantar e edema após longos períodos de marcha . 1 , 2 Entre atletas foram descritas pela primeira vez em 1958 por Devas 1 , 3 , constituindo estas fraturas cerca de 10 % de todas as lesões ortopédicas nestas duas populações . 1 , 4 Este tipo de fraturas é mais comum nos membros inferiores , sendo que aproximadamente 49 % se localizam na tíbia , 25 % no tarso e 9 % no metatarso . 1 , 4
As fraturas de stress no escafoide társico e nos sesamoides são mais comuns entre os praticantes de ballet e atletas de ginástica aeróbica , ténis e voleibol . As fraturas de sobreuso do maléolo tibial , escafoide társico e metatársicos são mais frequentes no basquetebol , sendo que no futebol igualmente os metatársicos são localizações frequentes destas lesões . 1 , 5-7
Fatores intrínsecos e extrínsecos contribuem para que se verifiquem fraturas de sobreuso . Regra geral , os fatores intrínsecos são a idade , sexo , género , raça , qualidade óssea e balanços hormonal , menstrual , metabólico e nutricional , padrão de sono e alterações do colagénio . Os fatores extrínsecos são os relacionados com o tipo , ritmo e intensidade do treino , o equipamento utilizado , o local do treino , as condições ambientais , o tempo de recuperação insuficiente de lesões anteriores ou o tratamento inadequado das mesmas . 1 , 7-11
As fraturas do 5 º metatársico ( 5 º MT ) e suas complicações em atletas são mais comuns em desportos que envolvem rápidas mudanças de direção , com transferências bruscas do peso para a coluna externa do pé ( cutting sports ), como sejam o futebol , futebol americano , basquetebol e lacrosse 12 e provavelmente também o futsal . Para a FIFA ( Federation Internationale Football Association ) e alguns autores , estas fraturas são lesões graves e potenciais causadoras do fim da carreira desportiva . 13
São habitualmente classificadas segundo Lawrence e Botte em três zonas : I , II e III , sendo as fraturas da zona I extra-articulares e proximais à articulação entre o 4 º e 5 º metatársicos , as da zona II ao nível da referida articulação com eventual extensão à mesma e as fraturas da
14 , 15
zona III são distais à articulação .
A maioria das fraturas da zona I e as fraturas da zona II muito alinhadas e coaptadas são habitualmente tratadas de forma conservadora com imobilização e reabilitação funcional . As fraturas da zona II descoaptadas e fraturas da zona III devem ser tratadas cirurgicamente . 13 , 16 Quando as fraturas proximais do 5 º MT não são convenientemente tratadas ou quando o tempo de recuperação não é respeitado podem verificar-se atrasos de consolidação , fraturas de sobreuso ou pseudartroses , sobretudo nas zonas II e III .
O tratamento cirúrgico inicial destas fraturas é assim altamente recomendado em atletas e pode diminuir o elevado risco de atrasos de consolidação e pseudartroses associado às mesmas . 17-20 Nos casos em que se verificam atrasos de consolidação , pseudartroses ou fraturas de sobreuso , o tratamento das fraturas das zonas II e III torna-se mais complexo e adquire capital importância a quantificação da esclerose que possa existir , bem como a permeabilidade do canal medular para o planeamento cirúrgico . Torg 21 divide assim as fraturas de stress em três tipos : no tipo I persiste o traço de fratura , mas não existe esclerose do canal medular ; no tipo II existe atraso de consolidação com persistência do traço e esclerose do canal com obliteração parcial do mesmo , e no tipo III a obliteração do canal é total .
Caso clínico
Apresentamos o caso clínico de um praticante de futsal , 22 anos de idade , competindo nos campeonatos distritais e jogando habitualmente na posição de avançado , com
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