Revista de Medicina Desportiva Setembro 2020 Setembro 2020 | Page 13

Rev . Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 5 ): 11-13 . https :// doi . org / 10.23911 / SPMD _ 2020 _ set Exercício na Gravidez

Dra . Alexandra Coelho 1 , Dr . Gonçalo Cardoso 1 , Dra . Marta Brito 1 , Dra . Alexandra Queirós 2 , Prof . Doutora Maria João Cascais 3
1
Médico interno de formação específica de Ginecologia e Obstetrícia da Maternidade Dr . Alfredo da Costa – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central ( MAC – CHULC ); 2 Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia da MAC – CHULC ; 3 Especialista em Medicina Desportiva e Patologia Clinica – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central ( MAC – CHULC ), Docente na Nova Medical School . Lisboa .
RESUMO / ABSTRACT
A atividade física tem demonstrado inúmeros benefícios significativos em diferentes fases da vida , incluindo na gravidez , não apenas como adjuvante no controlo do ganho ponderal , mas também com implicações diretas na melhoria dos desfechos obstétricos . O benefício máximo é conseguido perante a prescrição individualizada baseada em esquemas de baixo impacto , intensidade moderada e frequência regular . Neste artigo pretende-se discriminar as alterações fisiológicas inerentes à prática de exercício na gravidez , permitindo a perceção global desta temática com enumeração de possíveis riscos e benefícios comprovados .
Physical activity has demonstrated numerous benefits at different stages of life , including pregnancy with direct implications for the improvement of obstetric outcomes . The maximum benefit is achieved with an individualized prescription based on low impact , moderate intensity and regular frequency schemes . This article aims to describe the physiological changes inherent to the practice of exercise in pregnancy , allowing a global perception of this issue reviewing possible risks and proven benefits .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Exercício-físico , gravidez , pós-parto Physical activity , pregnancy , postpartum
Introdução
A gravidez , pelo acompanhamento médico regular , constitui uma janela de oportunidade para o incentivo da prática de exercício físico . Embora as principais entidades nacionais e internacionais de medicina desportiva e de obstetrícia recomendem a realização de exercício durante a gravidez desde há mais de uma década 1 , muitos profissionais de saúde e grávidas mostram receio na sua implementação , o que conduz a um comprovado decréscimo acentuado da atividade física durante a gestação . 2-4
Alterações fisiológicas da gravidez
Durante a gravidez as alterações hormonais associadas à resposta
atenuada do sistema nervoso autónomo justificam diferentes alterações fisiológicas :
• Sistema Cardiovascular Ocorre diminuição da resistência vascular periférica ( RVP ) 5 , justificada pelo aumento da produção de óxido nítrico e pelo aumento dos estrogénios e da relaxina . Como consequência , ocorre ativação do sistema renina- -angiotensina-aldosterona , aumento da vasopressina e retenção de fluidos que resultam no aumento da volémia com hemodiluição . 6-8 Constata-se , ainda , aumento da frequência cardíaca ( FC ) pela redução do tónus parassimpático e ligeira intervenção do sistema nervoso simpático 9 , que irá culminar no aumento do débito cardíaco ( DC ) em repouso .
• Sistema respiratório
Ocorre maior sensibilidade ao CO 2 pelo aumento da progesterona , que se traduz no aumento do volume corrente e da ventilação por minuto . Acessoriamente , a posição mais elevada do diafragma condiciona o remodelling da caixa torácica 10 , com diminuição da capacidade residual funcional e da reserva expiratória de oxigénio . 11 , 12 Estas alterações levam à diminuição da tensão de
CO 2 arterial e aumento de O 2
, o que conduz ao aumento do pH arterial , acompanhado pela excreção renal de bicarbonato para compensar a alcalose respiratória . 9 , 13
• Metabolismo da glucose De modo a assegurar o fornecimento constante de glucose ao feto , existem mecanismos de difusão facilitada entre placenta e feto que condicionam a diminuição da glicemia em jejum de 15-20 %. 14 Na segunda metade da gravidez ocorre diminuição da resposta à insulina por resistência periférica à mesma como resultado do efeito hormonal ( HPL , progesterona , cortisol , prolactina ).
• Alterações musculosqueléticas / biomecânicas A conjugação entre o ganho ponderal localizado e as alterações hormonais contribuem para o aumento da lordose lombar 15 , alteração do centro de gravidade 15 e aumento da laxidão articular . 1 .
O aumento ponderal desproporcional na zona abdominal anterior , associado à fraqueza dos músculos retos abdominais , implica a adoção de uma estática com maior inclinação anterior da pélvis e aumento da lordose lombar . 17 Estas alterações trazem consequências às ligações musculares da pélvis , confirmado pelo uso preferencial dos músculos abdutores e extensores da anca e
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