Revista de Medicina Desportiva Setembro 2020 Setembro 2020 | Page 26

atividades de vida diária , mantendo a estabilidade articular com pivot shift lateral negativo e teste de stress em valgus negativo . Teve a indicação para manter a realização dos exercícios de fortalecimento muscular progressivo , bem como treino propriocetivo em cadeia cinética aberta . A retoma ao desporto foi adiada até ao Inverno seguinte , no entanto foi possível manter a prática de natação .
Discussão
O esqui é um desporto de alto risco lesional o que leva a que , no contex to amador ou recreativo , muitas companhias de seguros de viagem não cubram lesões sofridas nesta prática desportiva , sendo usualmente necessário a realização de seguro de acidentes específico que inclua esta prática desportiva . A adoção de padrões internacionais para sistemas de fixação de botas de esqui mudou o perfil das lesões relacionadas ao esqui ao longo do tempo , assim como o uso generalizado de capacetes . 2 A compreensão dos mecanismos de lesão , fatores de risco e medidas preventivas pode diminuir a incidência de lesões relacionadas ao esqui .
O índice lesional em praticantes de esqui é maior entre os praticantes de nível intermédio ou avançado . 3 Independentemente do grau de experiência , o local mais frequente para a ocorrência de lesões no esqui é nos membros inferiores , mais especificamente os joelhos ( 1 / 3 a
Tipo I
Tipo III
2 / 3 das lesões ), seguido dos membros superiores ( 14 %) e pescoço e cabeça . 3-6 O tipo de lesão mais frequente é a lesão do ligamento cruzado anterior e / ou ligamento colateral medial do joelho ( 25 %). Seguem-se as entorses do punho e lesões da mão ( 4,5 %), as lesões no escalpe ou face ( 3,6 %) e as luxações glenoumerais ( 3,2 %).
Em comparação com praticantes de snowboard , as lesões resultantes de fraturas do rádio ou da ulna são muito menos frequentes , sendo esta lesão a mais frequente nos praticantes de snowboard ( 8 % das lesões totais ). 3 Com os avanços tecnológicos a nível dos equipamentos de proteção utilizados na prática deste desporto , especificamente a utilização de capacete , verificou-se diminuição no número de lesões nesta modalidade , com diminuição dos traumatismos cranianos . 6
Nos praticantes de esqui , apesar de ser um desporto com quedas em movimento de alta energia cinética , em que o atleta , como medida de proteção , se apoia nos membros superiores , lesões neste segmento como fraturas do úmero , cotovelo , rádio e ulna são pouco frequentes . 3 , 5 Contudo , importa referir que a lesão mais frequente no membro superior é a lesão no ligamento colateral ulnar na 1 ª articulação metacarpofalângica , conhecida como skier ’ s Thumb . 3 Esta lesão ocorre mais comumente durante a queda com a força aplicada sobre o polegar em abdução por o esquiador ainda se encontrar a segurar o bastão quando embate na neve .
Figura 2 – Classificação de Mason para fraturas da tacícula radial
Tipo II
Tipo IV
No que respeita às fraturas da tacícula radial , estas correspondem a aproximadamente 1 / 3 das fraturas do cotovelo 8 e em 35 % das situações associam-se a lesão ligamentar ou outra lesão óssea concomitante . Contudo , apesar da sua elevada incidência , poucos trabalhos a descrevem . Existem algoritmos orientados para uma melhor intervenção e tratamento desta lesão , muito orientados pela classificação de Mason que depende do tipo de fratura e do nível de desvio dos fragmentos ósseo : Tipo I – Fratura sem desvios ou minimamente desviado , sem bloqueio mecânico na prono-supinação Tipo II – Fratura com desvio superior a 2mm ou angulado , com possível bloqueio mecânico Tipo III – Fratura cominutiva e com desvio , bloqueio mecânico Tipo IV – Fratura da tacícula radial com luxação .
Atualmente há consenso relativamente ao tratamento conservador nas lesões de Mason tipo I . Este passa por imobilização por um curto período seguido de mobilização precoce , de forma a preservar a amplitude articular prévia à lesão . No que respeita às lesões de Mason tipo II , o tratamento também pode ser conservador , aplicando-se a regra dos 3 , isto é , se a fratura envolver menos que 1 / 3 da superfície articular , se houver menos de 30 % de desvio angular e se o desvio for menor que 3mm . Nas lesões Mason tipo III o tratamento é cirúrgico com redução aberta e fixação interna podendo ser necessário recorrer à excisão da tacícula radial , com ou sem artroplastia , e nos Tipo IV procede-se à redução das lesões e trata-se como as Mason III .
Estudos comparativos entre abordagem cirúrgica vs . tratamento conservador , em casos onde ambas as opções de tratamento são possíveis , não são conclusivos relativamente a qual a melhor opção terapêutica . 9-11 Em casos de fraturas cominutivas isoladas da tacícula radial sem instabilidade do cotovelo , a recessão da mesma demonstrou resultados satisfatórios . 12 A redução aberta e fixação interna ( RAFI ) tornou-se um método popular também com resultados positivos em fraturas da tacícula radial estáveis . 13 Um trabalho comparativo entre RAFI
24 setembro 2020 www . revdesportiva . pt