Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 7

posturas estáticas prolongadas , elevam instantaneamente a pressão arterial , sendo que a exposição prolongada à AF laboral pode causar elevação da PA mesmo após o horário laboral . A AF de lazer pode também envolver trabalhos pesados , mas estes ocorrem , normalmente , por curtos períodos de tempo e sob condições controladas , não aumentando a PA durante as 24h . A PA elevada por longos períodos de tempo é um fator de risco de DCV . 4 . A AF laboral é , frequentemente , realizada sem tempo de recuperação suficiente .
Longos períodos de AF sem tempo de recuperação adequado , por exemplo longas horas semanais de trabalho , treinos de resistência extremos , podem causar fadiga e exaustão e aumentar o risco de DCV . Estudos sugerem que os treinos de resistência causam múltiplas adaptações cardíacas , provocando aumento do risco de desenvolver fibrilação auricular . Existe um vasto número de profissões que exigem que o trabalhador se mantenha fisicamente ativo durante 7 a 12 horas por dia , durante vários dias consecutivos e com períodos de descanso limitados . 5 . A AF laboral é frequentemente realizada com baixo controlo .
O controlo inadequado às condições de trabalho , tais como as tarefas realizadas pelo trabalhador , velocidade , horário , roupas de proteção , fatores de stress psicossocial e ambiente circundante , pode contribuir para os efeitos prejudiciais da AF laboral . Esta falta de controlo pode levar à exaustão e tal facto , eventualmente , explicaria o aumento de risco de DCV . 6 . A AF laboral aumenta os níveis de inflamação .
Os marcadores inflamatórios , como a proteína C reativa , aumentam durante a AF e permanecem elevados até o corpo recuperar . A AF laboral elevada por longos períodos de tempo , em dias consecutivos e sem tempo de recuperação adequado pode causar inflamação sustentada . Esta é uma das hipóteses colocadas para a etiologia da aterosclerose e outras DCV .
Comentário final
Vários estudos têm demonstrado que , de facto , a AF laboral intensa aumenta o risco de DCV e de mortalidade por todas as causas . As pesquisas , leituras e análises feitas sobre este importante tema revelam como é imprescindível estar mais desperta e atenta aos utentes que possam ter uma AF laboral intensa . Atendendo a que na ambiência onde exerço MGF os utentes com essas profissões coincidem , na sua maioria , com aqueles que apresentam níveis socioeconómicos mais baixos e menor grau de escolaridade ( que por si só são fatores que influenciam e condicionam o tipo de acesso a bens e serviços essenciais à saúde ), terei que manifestar uma especial atenção e estar ainda mais vigilante para com este tipo de utentes .
Em minha opinião é de crucial importância perceber os mecanismos que causam os efeitos deletérios na saúde , para que nós médicos possamos intervir de forma ainda mais eficaz . Como médicos de MGF , que acompanham o utente ao longo da vida , entendo que somos um agente privilegiado , pois podemos intervir e instituir estratégias direcionadas à prevenção de acidentes de trabalho , medidas de proteção individual e incentivo à medicina do trabalho .
Bibliografia
1 . Holtermann , Andreas , et al . The physical activity paradox : six reasons why occupational physical activity ( OPA ) does not confer the cardiovascular health benefits that leisure time physical activity does . 2018 ; 149-150 .
2 . JØ Rgensen , K . U . R . T . Permissible loads based on energy expenditure measurements . Ergonomics . 1985 ; 28.1:365-369 .
3 . Korshøj , Mette , et al . The relation of ambulatory heart rate with all-cause mortality among middle-aged men : a prospective cohort study . PLoS One . 2015 ; 10.3 .
4 . Sorokin , Alexey V ., et al . “ Atrial fibrillation in endurance-trained athletes . British Journal of Sports Medicine . 2011 ; 45.3:185-188 . a )
Alunos do Curso de Pós-Graduação em Medicina Desportiva da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2020 · 5