Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 5

Rev . Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 6 ): 3-5 . https :// doi . org / 10.23911 / FMUP _ 2020 _ nov Aerobic performance among healthy ( non-asthmatic ) adults using beta2-agonists : a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 6 ): 3-5 . https :// doi . org / 10.23911 / FMUP _ 2020 _ nov Aerobic performance among healthy ( non-asthmatic ) adults using beta2-agonists : a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials 1

Dr . Filipe Cabral a )
Resumo e comentário
Interno de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar , USF Marco – ACeS Tâmega I – Baixo Tâmega ( Marco de Canaveses , Portugal ) MD , Pós-Graduado em Medicina Desportiva .
A asma é definida como uma inflamação crónica das vias aéreas caracterizada pela presença de sintomas respiratórios como dispneia , tosse , pieira e opressão torácica , que variam ao longo do tempo e em intensidade , e que estão associados a limitação , também ela variável , do fluxo de ar expirado . 2
Existe evidência suficientemente robusta que comprova que o exercício físico , per se , pode causar este tipo de sintomas 3 , o que pode explicar a superioridade da prevalência da asma em atletas de elite comparativamente à população geral ( particularmente em atletas de endurance e nadadores ). Efetivamente , em termos epidemiológicos , esta constitui a doença crónica mais comum em atletas .
O tratamento farmacológico da asma baseia-se na utilização de corticoterapia inalada e de β2-agonistas inalados pré-exercício e no alívio de sintomas .
Devido à potencial existência de efeitos ergogénicos associados à utilização destes últimos , as autoridades de antidopagem viram-se forçadas a regular e monitorizar a sua utilização . Nesse sentido , a Agência Mundial Antidopagem ( WADA ), que anualmente atualiza a lista de substâncias e métodos proibidos nos desportos de elite , proíbe , o uso de β2-agonistas com exceção :
• salbutamol inalado ( máximo de 1600 microgramas em 24 horas em doses que não podem exceder 800 microgramas a cada 12 horas )
• formoterol inalado ( máximo de 54 microgramas em 24 horas )
• salmeterol inalado ( máximo de 200 microgramas em 24 horas ). Nos últimos anos , tem-se constatado um aumento do número de atletas que requerem a autorização para o uso de β2-agonistas inalados , o que obviamente constitui uma preocupação para a comunidade médica . Além disso , atletas com história médica prévia de asma têm , de forma consistente , superado atletas sem esta patologia durante os Jogos Olímpicos . Por conseguinte , começou a existir alguma suspeita que atletas não-asmáticos estariam a utilizar esta terapêutica com a intenção de melhorar a sua performance . Nesse sentido , vários estudos foram desenvolvidos no sentido de averiguar qual o efeito dos β2-agonistas inalados na performance aeróbia de indivíduos saudáveis ( não-asmáticos ), com resultados muito controversos . Esta revisão sistemática e meta-análise pretendeu esclarecer , de forma mais perentória , essa questão .
Os autores realizaram uma pesquisa de ensaios clínicos randomizados publicados até dezembro de 2019 , em quatro bases de dados diferentes ( PubMed , Embase , SPORTDiscus e Web of Science ) que tivessem como objetivo avaliar o efeito da utilização de β2-agonistas ( nomeadamente , salbutamol , salmeterol , formoterol e terbutalina em monoterapia , ou combinação destes – administrados por via inalatória , oral ou intravenosa ) na performance aeróbia de atletas não-asmáticos . Não existiu qualquer restrição no que diz respeito à dose utilizada ou duração do tratamento . Estudos que avaliaram esse outcome em atividades com duração inferior a um minuto foram excluídos . Como outcomes secundários , os autores avaliaram ainda o impacto da utilização destas substâncias no VO 2
máx através da análise do ar expirado e na performance física , avaliada através do tempo à exaustão , distância percorrida num determinado intervalo de tempo predefinido , tempo para percorrer uma determinada distância e número de contrações até à falha .
Resultados
Performance aeróbia Com base nos 47 estudos incluídos ( n = 607 ) os autores concluíram que a utilização de β2-agonistas inalados , comparativamente ao placebo , não afeta a performance aeróbia ( Standardized Difference in Means ( SDM ) = 0.051 , 95 % IC −0.020 a 0.122 , p = 0.156 ), independentemente do tipo , da via de administração , duração ou dose de β2-agonista utilizado ( p > 0.340 ).
Performance física Quando analisaram o efeito da utilização destes fármacos na performance física também não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas ( SDM = 0.047 , 95 % IC −0.028 a 0.121 , p = 0.218 ), independentemente do tipo , da via de administração , duração ou da dose de β2-agonista utilizado ( p > 0.325 ).
VO 2
máx A utilização de β2-agonistas ( independente do tipo , via de administração , duração ou dose utilizada ) não afetou ainda , de forma significativa , o VO 2 máx ( SDM = – 0.013 , 95 % IC −0.118 a 0.092 , p = 0.809 ).
No sentido de averiguar a influência do nível de exercício físico realizado , tendo por base 11 estudos , os autores compararam atletas de endurance de alta performance ( definidos como sujeitos que treinavam mais do que 10h por semana ou com
VO 2 máx > 65mL / kg / min nos homens ou > 60mL / kg / min nas mulheres ) com atletas menos condicionados , e não constataram diferença significativa na resposta aos β2-agonistas ( p = 0.808 ).
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2020 · 3