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Exercício em clima frio em idade pediátrica
submáximo . Juntamente com a progressiva depleção das reservas energéticas , estes são importantes fatores que conduzem ao encurtamento do tempo até à fadiga . É com a instalação desta que o risco de hipotermia e lesões causadas pelo frio aumenta significativamente .
Aclimatação
A evidência existente nesta área é ainda parca e contraditória , pelo que a existência de uma verdadeira aclimatação ao frio é objeto de amplo debate na literatura . Young et al propõe a existência de três padrões de aclimatação naqueles que são expostos regularmente a estas condições :
• a habituação , caracterizada por atenuação das respostas fisiológicas habituais ao frio ;
• a aclimatação metabólica , caracterizada pelo incremento da termogénese ;
• a aclimatação por isolamento , via promoção dos mecanismos que conservam calor .
Bibliografia
1 . Brukner P , Khan K et al . Brukner & Khan ’ s Clinical Sports Medicine ( Volume 2 ). 5 th ed . New South Wales : McGraw-Hill Education Australia , 2019 .
2 . Kenney WL , Wilmore JH , Costill DL . Physiology of Sport and Exercise . 6th ed . Human kinetics , 2015 .
3 . Castellani JW , Young AJ . Human physiological responses to cold exposure : Acute responses and acclimatization to prolonged exposure . Autonomic Neuroscience . 2016 ; 196:63-74 .

Exercício em clima frio em idade pediátrica

Prof . Doutora Carla Rêgo Pediatra no Hospital CUF Porto . Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto . Professora Convidada da ESB- Universidade Católica Portuguesa . Investigadora do Pro-Nutri do CINTESIS
O exercício realizado em ambiente frio induz um aumento da termogénese , tendo em vista a prevenção do arrefecimento corporal excessivo .
A criança emprega estratégias termorreguadoras diferentes do adulto , na dependência de diferenças anatómicas , fisiológicas e psicológicas . Tem uma razão superfície-massa corporal mais elevada , menor taxa de sudação , maior vascularização periférica no calor ( por vasodilatação ) e maior vasoconstrição no frio , resultando na menor velocidade de aclimatização comparativamente ao adulto . Também é diferente a sua percepção do risco , na dependência da menor experiência e capacidade decisória , resultantes do seu desenvolvimento cognitivo .
Efetivamente , quer numa perspetiva psicológica / comportamental , quer especialmente numa prespetiva meramente biológica , ao se comportar de forma particular na regulação térmica , a criança está em desvantagem relativamente ao adulto no que respeita ao controlo da temperatura corporal em ambiente frio , tendo em conta dois fatores : maior superfície corporal e menor panícula adiposa subcutânea . A velocidade da perda de calor corporal ( via convexão , condução e radiação ) depende da superficie corporal ( SC ) e , quanto mais pequeno é o indivíduo , maior é a SC por unidade de massa corporal , estando pois a velocidade de arrefecimento corporal inversamente correlacionada com a idade . No que respeita à panícula adiposa , a gordura é um verdadeiro isolador térmico , pelo que quanto mais espessa é a adiposidade subcutânea , maior a preservação da temperatura corporal , particularmente em meio aquático . Esse facto torna-se relevante quando , como referido , a vascularizaçao cutânea decresce com o exercício , reduzindo a convecção do calor corporal para a periferia , sendo então a velocidade da perda de calor corporal limitada pela lentificação da condução através da lâmina de tecido gordo subcutâneo .
Existem efeitos deletérios da prática de exercício por crianças / adolescentes em ambiente frio que importa conhecer , mas sobretudo evitar : a hipotermia , a queimadura pelo frio e a broncoconstrição .
Hipotermia
As crianças / adolescentes mais suscetíveis a hipotermia são as desnutridas , quer por baixo peso constitucional , quer consequente a patologia ( ex : fibrose cística , anorexia nervosa , etc ). Frequentemente , são crianças mais pequenas , pelo que apresentam maior SC , à qual acresce a reduzida lâmina de panícula adiposa subcutânea . Outro grupo vulnerável , particularmente em desportos na água , são as crianças com baixa estatura ( frequentemente constitucional ), por apresentarem uma elevada razão SC / massa corporal . Em desportos de elevada intensidade de produção de calor e consequentemente de sudação ( ex : hóquei no gelo ), deve ser chamada a atenção para o risco de hipotermia durante os períodos de descanso / intervalo , caso não se proceda ao adequado aquecimento corporal .
Atuação 1- Desporto ao ar livre : a ) avaliar as caracteristicas do tempo ; usar camadas de roupa seca e confortável ( sintética , de polietileno , em contacto com a pele e nunca de algodão ; depois , uma ou várias peças de lã e , finalmente , um impermeável ), as quais serão retiradas ou usadas conforme a necessidade ; b ) deve ser dada particular proteção aos dedos das mãos e aos pés . Quando o fator de arrefecimento resultante do vento for de 15-20 graus ° ou inferior , a criança deve usar também proteção facial . 2- Desporto na água ( natação ): a ) sempre que possível , a temperatura da água deve ser 1-2 ° superior à do adulto ; b ) durante o treino a criança deve ser aconselhada a sair da água cada 15-20 minutos , particularmente as mais jovens e as com menor índice de massa corporal . Devem aproveitar estas paragens para garantir uma adequada hidratação oral ; c ) Os nadadores em águas frias devem aplicar em toda a superficie corporal uma camada fina ( 1-2 mm ) de lanolina ou um óleo corporal .
Queimadura pelo frio
São mais frequentes em áreas expostas ( particularmente na região
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2020 · 13