Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 12

Rev . Medicina Desportiva informa , 2020 ; 11 ( 6 ): 10 . https :// doi . org / 10.23911 / comenta _ SEC _ 2020 _ nov
da Sociedade Europeia de Cardiologia sobre Cardiologia Desportiva e Exercício em Doentes Doença Cardiovascular

ComentárioRecomendações (*)

Prof . Doutor Hélder Dores Hospital Luz Lisboa , Human Performance Department – S L Benfica , NOVA Medical School . Lisboa
Foram recentemente publicadas em atletas veteranos , nos quais a as recomendações Sociedade pesquisa de doença coronária é o Europeia de Cardiologia sobre principal foco , é um aspeto largamente desenvolvido . Neste âmbito , cardiologia desportiva e exercício em doentes doença releva-se a importância da avalia- cardiovascular ( CV ). Este documento representa as primeiras recomendações europeias nesta temática , constituindo também um importante marco para a medicina desportiva .
Nos últimos anos foram publicados vários documentos de consenso em diversas patologias CV que constituem a base destas recomendações . Uma das principais dificuldades em estabelecer recomendações na área da cardiologia desportiva é o facto de , contrariamente a outras áreas , existirem poucos estudos randomizados ou prospetivos , resultando principalmente de análises retrospetivas e opinião de peritos . Desta forma a decisão continuará a depender muito da experiência clínica .
Como as doenças CV são a principal causa de morte súbita em atletas , a sua presença origina vários dilemas quanto à prescrição de exercício e eventuais restrições da prática desportiva . Contudo , importa salientar que a incidência de morte súbita no atleta é baixa e o exercício associa- -se a múltiplos benefícios para a saúde , factos que devem ser valorizados quando se pretende limitar a sua prática ou desqualificar um atleta . Neste sentido , estas recomendações são menos restritivas e aproximam-se das americanas , previamente publicadas .
Pela presença de uma ampla zona cinzenta em diversas patologias CV , um aspeto central deste documento é a importância da decisão partilhada , ou seja , o envolvimento do atleta , médicos de várias especialidades , profissionais do exercício e treinadores na tomada de decisão .
A estratificação de risco CV e a avaliação pré-competitiva , sobretudo
ção clínica e do conhecimento das características do exercício e da modalidade desportiva para orientar exames complementares adicionais . A prova de esforço máxima continua a ser um exame central , mas há cada vez mais lugar à inclusão de exames imagiológicos , tanto funcionais ( ex . ressonância magnética de sobrecarga , ecocardiograma de sobrecarga ou cintigrafia de perfusão miocárdica ) ou anatómicos ( ex . angio-TC cardíaca ).
Nas primeiras secções salienta-se ainda a importância do exercício recreativo , tal como em recomendações prévias de prevenção CV , sobretudo em indivíduos com fatores de risco CV ( ex . hipertensão arterial e diabetes ) ou doenças crónicas como a insuficiência cardíaca ou a doença coronária .
Em termos globais , as doenças graves ou instáveis , associadas a risco elevado de complicações durante a
(*)
Antonio Pelliccia ( Chairperson ) ( Italy ), Sanjay Sharma ( Chairperson ) ( United Kingdom ), Sabiha Gati ( United Kingdom ), Maria Back ( Sweden ), Mats Borjesson ( Sweden ) et al . 2020 ESC Guidelines on sports cardiology and exercise in patients with cardiovascular disease . European Heart Journal ( 2020 ) 00 , 1 _ 80 . doi : 10.1093 / eurheartj / ehaa605 prática de exercício , continuam a ser contraindicação para desporto competitivo , mas há várias particularidades que devem ser analisadas . Por exemplo , em atletas com diagnóstico genético de miocardiopatia hipertrófica ou ECG patológico sugestivo de miocardiopatia , mas sem fenótipo , não está contraindicado o desporto competitivo . Por outro lado , se na maioria das miocardiopatias com expressão clínica ligeira e baixo risco pode já ser admissível manter algum desporto , mesmo competitivo , a miocardiopatia arritmogénica é exceção , sendo sempre contraindicação absoluta pela sua associação independente com eventos arrítmicos malignos e morte súbita despoletados pelo exercício . Outro ponto muito desenvolvido é a doença valvular , salientando-se que , além da gravidade da doença , é fundamental conhecer as repercussões e a influência hemodinâmica dos diversos tipos de desporto , sobretudo na doença de grau moderado . Um aspeto ainda controverso é a prática desportiva na presença de dispositivos implantados , nomeadamente cardiodesfibrilhador . Neste contexto recomenda-se uma decisão individualizada , tendo por base a doença / motivo de implantação , o risco de choques inapropriados / apropriados , o risco de trauma torácico e consequências da ocorrência de síncope em modalidades específicas .
É importante sublinhar que este documento apresenta orientações que podem ajudar a tomar decisões na prática clínica , embora , tal como referido numa secção final , há vários aspetos ainda por esclarecer e que serão alvo de investigação futura . Em suma , mais que essencial para cardiologistas com experiência na avaliação de atletas , estas recomendações serão muito úteis e deverão constituir referência bibliográfica obrigatória para todos os médicos de medicina desportiva responsáveis pela avaliação pré-competitiva de atletas .
10 novembro 2020 www . revdesportiva . pt