Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 40

Discussão
A frequência das lesões do LCA em adolescentes tem aumentado 17 , tendo mesmo triplicado a incidência entre 1994 e 2006 nos Estados Unidos da América . 18 O tratamento da rotura do LCA nesta faixa etária continua controversa , com alguns autores a defenderem uma abordagem inicial conservadora em crianças e adolescentes com esqueleto imaturo . Em sentido oposto , o tratamento cirúrgico precoce com técnica cirúrgica adequada tem vindo a ganhar cada vez mais espaço , permitindo o retorno à atividade com estabilidade do joelho e prevenindo lesões meniscais e condrais secundárias . 19 , 20 A presença de fatores de risco associados para lesão meniscal e condral pode interferir com a tomada de decisão de tratamento . O atraso na reconstrução do LCA está associado a risco aumentado de 6 % no surgimento de lesão meniscal e condral por cada mês sem
3 , 21 , 22
cirurgia .
O resultado clínico da reconstrução do LCA em crianças e adolescentes é muito melhor que o obtido com tratamento conservador . 23-25 No entanto , deve ser tido em conta que aproximadamente metade destes pacientes irá necessitar mais tarde de uma reconstrução do LCA devido a instabilidade persistente e um terço irá também necessitar de cirurgia meniscal . 26
As técnicas cirúrgicas preservadoras da fise apresentam resultados favoráveis em seguimentos entre os 2 a 6 anos , sem evidência de dismetria dos membros inferiores ou deformidade angular . 24 , 25 , 27 As técnicas transfisárias híbridas e completas também reportam bons resultados , sem registo de dismetria , ou quando presente , mínima e clinicamente irrelevante . 28 Não existe literatura publicada sobre deformidades angulares resultantes da reconstrução do LCA em adolescentes .
A rotura do LCA em adolescentes associa-se frequentemente a lesões meniscais e condrais , particularmente entre os 10 e os 14 anos . 3 A frequência e o tipo de lesões associadas ( 66,7 %) reportadas neste estudo é similar à descrita na literatura . 3 A lesão associada mais comum em adolescentes , e particularmente associada a lesões agudas , é a rotura do menisco lateral . 21
A proporção de doentes submetidos a resseção ( 50 %) ou reparação meniscal ( 25 %) neste estudo foi sobreponível à reportada na literatura . 29 As lesões meniscocapsulares do terço posterior do menisco medial , conhecidas como ramp lesions , são lesões frequentemente associadas à rotura do LCA . A prevalência de ramp lesions associadas a rotura do LCA em adolescentes é similar à dos adultos , rondando os 20-25 %. 30 A inspeção artroscópica intercondilar ou através do portal póstero-medial pode ser indispensável para diagnóstico e tratamento destas lesões .
A rotura isolada das raízes meniscais são lesões relativamente incomuns em adolescentes , mas podem estar associadas a roturas do LCA . Apesar do entusiasmo em torno das roturas da raízes meniscais em adultos , existem poucos estudos sobre estas lesões em crianças e adolescentes . 31 A rotura da raiz posterior do menisco lateral é o mais comum e ocorre frequentemente associada à rotura do LCA . O índice de suspeita deve ser alto e deve ser rotineiramente avaliada artroscopicamente . 31 Até 35 % dos adolescentes sofre nova rotura do LCA , seja no mesmo joelho ou no contralateral , apresentando uma taxa de incidência seis vezes superior nos primeiros 24 meses . 32 , 33 Neste sentido , é importante reforçar a reconstrução do LCA com uma tenodese extra-articular lateral para proteger o LCA de laxidão ântero-lateral residual . Cerca de 20 % dos adolescentes no nosso estudo foram submetidos a procedimento de Lemaire modificado em associação à reconstrução do LCA . As nossas indicações para realizar a tenodese extra-articular lateral incluem :
• casos de revisão da reconstrução do LCA ;
• jovens com < 25 anos ;
• hiperlaxidão generalizada ( Beighton > 6 );
• a presença de um pivot-shift explosivo ( grau +++);
• laxidão rotatória excessiva medida com o Porto Knee Testing Device ( PKTD ). 34 Um estudo recente demonstrou que o uso de tenodese
extra-articular lateral associada à reconstrução do LCA transfisária na população pediátrica tem bons resultados ( apenas 5 % de nova lesão ), sem compromisso clinicamente relevante no crescimento do membro inferior intervencionado . 35
Conclusão
O padrão de lesões associadas na população pediátrica é relativamente diferente ao do adulto , sendo a frequência de lesões associadas inferior em crianças e adolescentes . Ainda assim , as lesões do joelho associadas à rotura do LCA são muito frequentes em crianças e adolescentes , particularmente as lesões meniscais . O diagnóstico e tratamento das lesões do joelho associadas à rotura do LCA é fundamental para a escolha da estratégia de tratamento mais adequada e estabelecimento do prognóstico .
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38 novembro 2021 www . revdesportiva . pt