Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 36

mulher atleta . No entanto , medalhas de ouro foram ganhas em todas as diferentes fases do ciclo menstrual .
Embora a subestimação da fisiologia única da atleta feminina tenha aumentado , ainda há muitas perguntas sem resposta . Em atletas de elite , no entanto , mesmo uma pequena mudança pode significar uma diferença entre o primeiro ou o segundo lugar . Particularmente na área de risco de lesões e regulação hormonal , são necessários mais ensaios clínicos randomizados no futuro .
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Lesões do ligamento cruzado anterior em atletas femininas
Dr . Artur Pereira de Castro Médico Especialista em Medicina Desportiva e Especialista em Ortopedia e Traumatologia Desportiva . Clínica Desporsano . Médico nas Olímpiadas de Sydney 2000 , Atenas 2004 e Londres 2012 . Lisboa
A prática desportiva tem vindo a aumentar exponencialmente e já faz parte do nosso dia a dia : enquanto conduzimos os nossos carros para o trabalho já é habitual encontrarmos pessoas a correr . O desporto dá saúde , mas também provoca lesões . Os médicos prescrevem exercício físico pelos benefícios para o tratamento e prevenção de várias doenças , tais como hipertensão arterial , diabetes , doenças reumatismais e outras .
Nos últimos anos o número de praticantes de atividade física aumentou , não só em desportos de laser , mas também em desportos de competição , profissional ou não . Do mesmo modo , o número de mulheres que praticam desporto tem também aumentado significativamente nos últimos anos . A FIFA estima que haja cerca de 29 milhões de mulheres a praticar futebol no mundo e espera que esse número atinja os 60 milhões até 2026 .
A rotura do ligamento cruzado anterior ( LCA ) é uma lesão comum no joelho , sendo mais frequente em atletas e resulta do movimento de entorse do joelho sem contacto , tipicamente na corrida com mudança de direção . Nos Estados Unidos , ocorrem por ano cerca de 200.000 lesões do LCA , das quais metade evoluem para a cirurgia ( ligamentoplastia ). Esta lesão é três vezes mais frequente nas mulheres e 10 a 35 % das roturas são parciais .
As roturas do LCA podem ser totais ou parciais e , neste caso , pode optar-se pelo tratamento conservador , mas cerca de 40 % delas evoluem para rotura total e acabam por ser operadas .
O que diferencia esta lesão nas mulheres em relação aos homens : 1 . Fatores genéticos ; 2 . Anatomia : ângulo quadricipital aumentado , maior valgismo , maior slope posterior do prato tibial , chanfradura intercondiliana mais estreita e menor área da secção do ligamento ;
3 . Hormonais : não há estudos definitivos que permitam relacionar a lesão com o ciclo menstrual ;
4 . Fatores neuromusculares : o efeito de protocolos de intervenção neuromuscular demonstraram reduzir a taxa de lesões em raparigas e mulheres adultas . As atletas quando fazem a receção ao solo após o salto , com os joelhos em flexão inadequada , cursam com valgo superior ao que é normal e em rotação externa , pelo que aumentam o risco de lesão do LCA ;
5 . A habilidade , destreza e o treino são fatores importantes ;
6 . Força muscular : a boa musculatura é um fator extrínseco importante na estabilidade do joelho .
7 . Fadiga : o cansaço físico diminui a capacidade de reação e aumenta o risco de lesão ;
8 . Honestidade : a agressividade , a intensidade e a maldade são menores no sexo feminino . O tratamento desta lesão pode ser conservador ou cirúrgico : o conservador através de programa de reabilitação e uso de joelheiras , e o cirúrgico com a realização da ligamentoplastia . O tratamento conservador pode ser considerado
nas lesões parciais , nos desportos sem movimentos de pivô ou em atletas de laser , já o tratamento cirúrgico é aconselhado nas roturas totais , nos desportos de pivô ou nos atletas profissionais . O momento de intervenção do tratamento cirúrgico continua controverso , mas parece consensual que se deve esperar pela desinflamação da articulação , cerca de duas a três semanas , pois o risco de artrofibrose é menor depois dessa fase . Na ligamentoplastia é necessário escolher um enxerto para substituir ou reforçar o LCA remanescente . Esse enxerto pode ser de cadáver ( aloenxerto ), mas preferimos o autoenxerto , que pode ser do tendão rotuliano , dos ísquiotibiais ou do quadricipital .
No programa de recuperação há a considerar o perfil psicológico do atleta , a idade , as expetativas , se é profissional ou não , o planeamento da época , a modalidade e o tipo de desporto . O atleta deve ser alertado para o longo e difícil programa de recuperação , com prazos que devem respeitar a biologia , a cicatrização e integração de enxerto , bem como o processo de ligamentarização do enxerto . O bom resultado é alcançado quando existe boa estabilidade do joelho , mobilidade total e fixação sólida .
O regresso à competição pode acontecer quando a atleta treinar sem dor e não ocorrer derrame articular , quando tiver bom tónus muscular , sem instabilidade nas mudanças de direção e , sobretudo , quando se sentir confiante .
A prevenção tem um papel muito importante nas lesões do LCA , pois diminuem o risco de lesão , e deve ser implementado nos escalões jovens e fazer parte do treino .
34 novembro 2021 www . revdesportiva . pt