Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 31

Figura 1 – Acne de retenção e inflamatório de início rápido , associado a suplementos proteicos em frequentador de ginásio , de 18 anos de idade .
Figura 2 – Acne e dermite seborreica em jovem de 24 anos , frequentador de ginásios de musculação e consumidor habitual de suplementos proteicos .
Figura 3 – Foliculites por pityrosporum resistente a vários tratamentos tópicos e sistémicos em jovem de 21 anos , consumidor de suplementos proteicos e frequentador de ginásio .
Figuras 4 – Acne , foliculites e aumento de nevos associados ao uso de suplementos proteicos em jovem ( 18 anos ) frequentador de ginásio que pretendia aumento rápido da massa muscular
Prof . Doutor Hélder Dores Cardiologia . Hospital da Luz Lisboa ; Human Performance Department do Sport Lisboa e Benfica
Efeitos cardiovasculares dos esteroides androgénicos anabolizantes
Os esteroides androgénicos anabolizantes ( EAA ) estão entre as substâncias ilícitas mais frequentemente utilizadas , tanto para fins estéticos , como para aumentar a massa muscular e potenciar o rendimento desportivo . Apesar de permanecerem por esclarecer alguns aspetos na relação direta entre EAA e efeitos cardiovasculares ( CV ) adversos , pelas inconsistências dos estudos publicados , decorrentes de diferentes doses analisadas , métodos de administração utilizados e duração da exposição , o seu uso desregulado e em doses suprafisiológicas associa-se indubitavelmente a complicações CV . Estas complicações CV resultam fundamentalmente de perturbações cardiomiopáticas e do desenvolvimento de aterosclerose . Mais especificamente , o risco de eventos CV associados aos EAA surgem da alteração no perfil lipídico , tornando-o mais aterogénico com redução do colesterol HDL e elevação do colesterol LDL , calcificação vascular , disfunção biventricular sistólica ( com redução da fração de ejeção e de parâmetros de deformação miocárdica ), disfunção diastólica , alteração na modulação autonómica , elevação da pressão arterial , vasospasmo coronário , perturbações da condução e alterações miopáticas , como hipertrofia e fibrose miocárdica , constituindo substratos para arritmias potencialmente fatais , sobretudo durante a prática de exercício físico . Alguns estudos revelam que após a suspensão dos EAA pode haver normalização da função sistólica em vários casos , mas a disfunção diastólica é irreversível e a aterosclerose / calcificação coronária está diretamente associada com o tempo de exposição .
A complicação mais temida da cardiotoxicidade induzida pelos EAA é a morte súbita , mas estão também descritos casos de enfartes agudos do miocárdio , acidentes vasculares
cerebrais e outros eventos tromboembólicos . Relativamente à morte súbita , apesar dos mecanismos precisos permanecerem indefinidos , estão descritos quatro modelos fisiopatológicos que podem justificar o risco de morte súbita pelo abuso de EAA : 1 ) Modelo aterogénico ; 2 ) Modelo trombótico ; 3 ) Modelo do vasospasmo ; 4 ) Modelo da lesão miocárdica direta .
A pesquisa do abuso de substâncias ilícitas deve ser sempre equacionada durante a avaliação médico-desportiva dos atletas , mas exige uma elevada suspeita clínica em indivíduos com alterações ou complicações CV sem outra causa aparente , nomeadamente em praticantes de modalidades caracterizadas por predomínio de treino de força ( ex . culturismo , halterofilismo ou exercício em ginásio em nível recreativo ) ou naqueles que apresentem um desenvolvimento muscular esquelético desproporcional à intensidade ou volume de treino realizado .
Apesar de ainda haver muito por clarificar nesta área , e o real problema estar subestimado , a relação entre EAA e outras substâncias ilícitas com o desenvolvimento de doenças CV é óbvia e urge combater . A identificação precoce destes indivíduos e a sua sensibilização quanto aos potenciais riscos para a saúde dos EAA é essencial para prevenir as complicações clínicas .
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Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2021 · 29