Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 26

foram os mais detetados nas amostras de urina colhidas aquando do controlo de antidopagem .
A testosterona tem ação andogénica ( masculinizante ) e anabólica ( construção de tecidos ). É sintetizada a partir do colesterol , no homem mais de 95 % é produzida nas células de Leydig dos testículos , ao passo que nas mulheres é produzida essencialmente nos ovários e nas glândulas suprarrenais . Pode ser convertida em 5 alfa-diidrotestosterona ou convertida em estradiol ou estrona , e o fígado inativa-a , sendo os metabolitos resultantes excretados pelo rim . As funções ergogénicas , anabólicas e anti-catabólicas no tecido muscular e nervoso levam ao aumento da massa muscular , potência e resistência e hipertrofia num efeito dose- -dependente . Uma meta-análise indicada neste documento revelou que o uso de EAA aumentou substancialmente a força muscular , mais que o placebo , e que os ganhos em força e hipertrofia muscular foram superiores em sujeitos treinados do que em não treinados . Outro estudo citado refere que houve ganho no peso e na massa magra entre 5 % e 20 % com o uso de EAA . Contudo , os autores referem que deve haver cuidado na análise dos resultados devido às diferentes metodologias dos estudos e diferentes doses de EAA consumidas em estudos clínicos e no ambiente quotidiano , assim como devem ser considerados os padrões alimentares e de suplementos e as estratégias de stacking .
Os androgénios exógenos podem ser administrados por via oral ( bem absorvida , mas rapidamente metabolizada ) e parentérica , e também sob a forma de creme , spray nasal , bucal , subcutânea , patches e gel . A administração intramuscular permite a entrada mais lenta na circulação sanguínea , aumentando a duração da ação . Refere-se , também , que apesar da literatura ser escassa , os efeitos dos EAA duram várias semanas , havendo duas referências que indicam ausência de efeito após 12 semanas .
O documento indica de modo exaustivo os efeitos laterais associados ao consumo de EAA , mas realça que a investigação neste contexto tem sido comprometida pela variabilidade nas doses e padrões de uso e pelo uso concomitante de outras drogas / medicamentos , os quais são também utilizados para minimizar os efeitos laterais . A figura 2 seguinte resume os efeitos laterais nos diversos sistemas e aparelhos biológicos . A maior parte da informação é recolhida através de questionários autoadministrados , o que poderá condicionar ainda mais a qualidade das conclusões . Num destes , verificou-se que entre 23 % e 64 % indicaram a existência de efeitos laterais considerados minor ( atrofia testicular , acne , retenção de líquido , insónia , disfunção sexual e ginecomastia ).
Existem também consequências no aparelho cardiovascular , como sejam diminuição do HDL-colesterol e alteração da coagulação . As perturbações psiquiátricas e do estado de espírito também são descritas . Por disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-testículo ( supressão da secreção de LH e de FSH ) existe alteração da espermatogénese com consequente infertilidade . Não há indicação da associação com o cancro da próstata , mas refere-se no texto que na terapêutica de reposição com a testosterona ocorre um pequeno aumento do antigénio específico da próstata ( PSA ). A ginecomastia pode ocorrer até 54 % dos utilizadores de EAA . A elevação das enzimas hepáticas ( AST e ALT ) revela alteração do funcionamento do fígado , apesar de não serem enzimas hepáticas específicas e poderem estar elevadas na agressão muscular após o exercício físico . A alteração enzimática ocorre com o consumo oral , mas não ocorre com o consumo por via intramuscular da testosterona ou dos seus ésteres . A morte precoce em utilizadores de EAA na carreira desportiva tem sido referida ( com maior massa cardíaca ), assim como a partilha de seringas , a qual poderá causar
Figura 1 – Padrão de consumo de EAA predominantemente em utilizadores masculinos
Figura 2 – Possíveis efeitos laterais do uso e abuso dos EAA
24 novembro 2021 www . revdesportiva . pt