as cirurgias foram realizadas pela mesma equipa cirúrgica no Hospital Santa Maria ( Porto ).
Após confirmação clínica e imagiológica do diagnóstico de rotura do LCA , a maturidade esquelética foi avaliada clínica e radiograficamente ( escala de Tanner e Rx mão ). Os adolescentes pré-púberes ( Tanner I e II / idade óssea < 10-12 anos ) foram submetidos a reconstrução com técnica extrafisária ( over-the-top no fémur e anterior na tíbia , sem túneis ósseos ) ou técnica totalmente intrafisária ( túneis femoral e tibial na epífise ). Os adolescentes púberes ( Tanner III e IV / < 1-2 anos para encerramento fise / idade óssea 12 anos ) foram submetidos a técnica transfisária híbrida ( over-the-top ou totalmente epifisária no fémur e transfisária na tíbia ). Técnicas transfisárias convencionais foram utilizadas em adolescentes em fase pós-púbere ( estadio Tanner V / idade óssea ≥ 14 anos ).
Para avaliar o padrão de lesões associadas à rotura do LCA foi analisada a frequência e o tipo de lesões associadas do joelho ( menisco , cartilagem e ligamentos colaterais ). Este padrão foi também comparado com a incidência de lesões associadas do joelho em adultos com lesões do LCA ( n = 245 ).
Resultados
Um total de 84 crianças e adolescentes submetidos a reconstrução do LCA foram incluídos neste estudo . As características da população em estudo podem ser consultadas na Tabela 1 .
Tabela 1 . Características demográficas dos participantes ( n = 84 )
Idade ( média ± DP )
Figura 1 – Padrão de lesões associadas a rutura do LCA .
15,8 ± 1,7 anos Sexo ( F / M ) 23 / 61 ( 27,4 % / 72,6 %) Lateralidade ( Dt º/ Esq ) 44 / 40 ( 52,4 % / 47,6 %)
Figura 2 – Comparação da taxa de lesões associadas à rutura do LCA entre crianças / adolescentes e adultos .
Cerca de 2 / 3 dos adolescentes com rotura do LCA apresentaram lesões do joelho associadas ( figura 1 ), sendo a lesão meniscal a mais frequente ( 64,3 %). O menisco lateral foi o menisco mais frequentemente envolvido , representando quase metade dos casos em que existia lesão do menisco . Relativamente às lesões meniscais , destaque para a lesão de ambos os meniscos e rotura da raiz meniscal em 16,7 % e 7,4 % dos casos , respetivamente . Apenas 1 / 3 dos adolescentes não apresentou lesão meniscal associada . Cerca de metade dos adolescentes foram submetidos a meniscectomia parcial para tratamento da lesão meniscal . Em 19 casos ( 35,2 %) foi possível realizar a reparação meniscal . Adicionalmente , em 7,4 % foi realizada a reinserção da raiz meniscal por técnica transtibial .
As lesões focais da cartilagem foram observadas em apenas 3,6 % dos adolescentes . Outras lesões associadas do joelho ( rotura do ligamento colateral medial ) foram reportadas em apenas um caso .
Do total dos 84 adolescentes submetidos a reconstrução do LCA , em 60 ( 74,1 %) foi utilizado o tendão patelar autólogo homolateral , com técnica transfisária e fixação justa-articular com parafusos de interferência . Nos restantes casos ( 25,9 %), a reconstrução do LCA foi realizada com isquiotibiais ( gracilis + semitendinoso – G-ST ) autólogos homolaterais . Dos casos com enxerto G-ST , em apenas um dos casos se realizou a reconstrução extra-fisária , sem túneis ósseos ( over- -the-top fémur e anterior na tíbia ), tendo sido realizado nos restantes a técnica transfisária com feixe quádruplo de G-ST . Em 19 % dos casos foi adicionalmente realizada tenodese extra-articular lateral ( Lemaire modificado ) para controlo da instabilidade rotatória ântero-lateral .
Comparativamente ao padrão de lesões associadas no adulto , na população pediátrica o menisco lateral é mais frequentemente lesado em associação com a rotura do LCA ( figura 2 ). Nos adultos a frequência global de lesões associadas do joelho é superior , com destaque para as lesões condrais ( 9,6 %) e a rotura do menisco medial ( 29,7 %). A lesão isolada no LCA é mais frequente em adolescentes do que em adultos .
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2021 · 37