Revista de Medicina Desportiva Março Março | Page 6

Rev . Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 2 ): 4-7 . https :// doi . org / 10.23911 / FMUP _ 2022 _ mar
Resumo e comentário
Dr . João Tiago Moutinho 1 , Dr . Sérgio Barros Cardoso 2
1
Medicina Geral e Familiar . ACeS Baixo Tâmega – Tâmega I ;
2
ACeS Grande Porto VII – Gaia
How sleep impacts performance in youth athletes 1
Introdução
O interesse no estudo da relação entre o sono e o desempenho desportivo tem vindo a aumentar pela perceção de que o sono adequado está relacionado com uma melhor performance e recuperação pós- -exercício . O artigo de Mark F . Riederer propõe-se a fazer uma revisão da literatura recente ( de 2018 a 2019 ), que tem em consideração alguns padrões do sono , sua duração e qualidade , e interferência no desempenho desportivo de jovens atletas . Para além das exigências desportivas , os jovens atletas também têm compromissos escolares , sociais cada vez mais exigentes , parecendo que na gestão entre as distintas atividades , o sono é relegado para um segundo plano , não sendo cumpridas as necessidades básicas recomendadas pela Sociedade Americana de Pediatria e pela Sociedade Americana de Medicina do Sono . As necessidades básicas para crianças dos 6 aos 12 anos de idade indicam 9-12 horas de sono por dia e os adolescentes ( 13-18 anos ) devem ter 8 a 10 horas de sono por dia .
Duração e qualidade do sono e a prestação desportiva
A maioria dos estudos revela que os jovens atletas dormem menos horas do que seria recomendada , comparativamente com os não atletas . O autor refere um estudo português ( Silva M G et al , in Eur J . Pediatr , 2018 ), realizado em 82 ginastas acrobatas ( 12,8 ± 3,1 anos de idade ), onde a maioria dormia menos de 8 horas / dia , as atletas femininas dormiam significativamente menos que as não atletas durante a semana , acordavam mais cedo , mas ao fim de semana ocorria o inverso , o sugere que as atletas tentavam recuperar do sono neste período . Num dos estudos ( n = 20 , 15 ± 1 anos de idade ) foi utilizado um Actiwatch para melhor caracterizar o sono , qualitativa e quantitativamente . Foi possível documentar que os atletas dormiam menos ( entre 7h28 ’ a 7h48 ’/ dia ) que os colegas não atletas ( entre 8h e 10h / dia ), assim como as atletas com menos tempo de sono referiram maiores níveis de stress . Nos estudos onde se compararam os resultados desportivos com os tempos de sono verificou-se a associação do melhor rendimento com o maior tempo de sono . Refere-se , ainda , quer a administração de uma dose melatonina ( 10mg ) a atletas adolescentes masculinos originou melhoria na velocidade e rendimento , mas não na precisão .
Sono e sensação de bem-estar
Existem cada vez mais estudos que tentam relacionar a qualidade do sono e a sensação de bem-estar dos jovens atletas . É um facto que a sensação de bem-estar é algo subjetivo e , portanto , com diferentes perceções individuais , mas de forma geral a duração de sono adequada foi relacionada com maior sensação de bem-estar , o mesmo não acontecendo com o exercício físico . Assim sendo , uma maior carga de exercício e menor tempo de sono associam-se , de modo independente , a maior sensação de fadiga , mais stress e sonolência , sendo que o fator mais determinante foi a duração do sono . O estudo realizado com 52 atletas jovens revelou que o bem-estar diário estava relacionado com o sono e não com o treino . Outro estudo analisado verificou que o aumento da carga de treino e a diminuição da duração do sono , também de modo independente , estiveram associados a aumento da fadiga , ao estado de espírito , ao stress e às dores .
Sestas e efeitos na prestação desportiva
Estudos prévios haviam demonstrado um efeito benéfico das sestas no desempenho desportivo . A meta-análise que incluiu 10 estudos , com 218 participantes , idades entre 18 e 24 anos , concluiu que a evidência sugere que a extensão do sono tinha os maiores efeitos benéficos no rendimento desportivo subsequente . Noutro estudo referido pelo autor ( Suppiah et al , 2018 ), a sesta de 30 minutos de duração teve efeitos opostos em jovens atletas asiáticos de dois desportos : melhorou o rendimento no sprint de 20 metros nos praticantes de atletismo ( n = 19 ; 14,8 ± 1,1 anos de idade ), mas diminuiu o rendimento em atiradores ( n = 12 ; 13,8 ± 1,0 anos de idade ).
Sono , exaustão e prestação desportiva
Existem poucos estudos que relacionem sono , o burnout e a prestação desportiva . O autor cita o estudo realizado por Gerber et al ( 2018 ) realizado em 257 atletas jovens de elite ( média de idades igual 16,8 anos ), no qual se verificou que 12 % a 14 % referiram sintomas de burnout e cerca de 4 % a 11 % referiram sintomas de insónia , tendo-se concluído os atletas com burnout têm mais frequentemente insónia e têm menos tempo na cama . Ou seja , os atletas em burnout devido ao desporto podem ter problemas no sono e efeitos negativos no rendimento e maior risco de lesão .
Sono e resposta hormonal
O autor refere apenas um estudo nesta temática ( O ’ Donnell et al , 2018 ), o qual incluiu 10 atletas ( 23,6 ± 6 anos de idade ). Os níveis de cortisol salivar foram significativamente
4 março 2022 www . revdesportiva . pt