Revista de Medicina Desportiva Março Março | Page 24

espasticidade , entre outros . O médico tem um papel fundamental ao prestar atenção às indicações , efeitos colaterais e possíveis efeitos sinérgicos do uso de múltiplos medicamentos na competição .
Existem muitos problemas sociais e legislativos relativos ao uso de drogas . O Comité Olímpico Norte- -Americano e o Comité Olímpico Internacional têm os seus próprios regulamentos quanto a drogas . Situações como a retirada da medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de 1992 à equipa americana de basquetebol em cadeira de rodas pelo uso de propoxafene ( usado legitimamente para tratamento de hiperhidrose ) são exemplo da importância do conhecimento destes regulamentos . 9
Espasticidade
O stress decorrente da atividade desportiva pode originar um aumento transitório da espasticidade . Durante cerca de 20 anos houve competições internacionais sob o patrocínio da Cerebral Palsy Internacional Sports and Recreation Association para atletas com PC de modo a permitir a sua inclusão no desporto . A evidência empírica foi a de um efeito positivo nos atletas . Adicionalmente , há estudos científicos que mostram benefícios do desporto e do exercício vigoroso , incluindo o treino de resistência para atletas com espasticidade . A hipótese atual é que a espasticidade parece habituar-se ao estímulo do stress . Nesta área há ainda questões que precisam de ser esclarecidas , nomeadamente a forma mais efetiva de treinar o músculo espástico e as consequências a longo prazo desse treino . 10
Atletas em cadeira de rodas
As lesões mais comuns são as tendinopatias da extremidade superior . Nestes atletas , há uso excessivo na propulsão , com trauma cumulativo e tendinopatia , em particular do ombro . As quedas e colisões com outras cadeiras de rodas originam com frequência fraturas dos metacarpos e das falanges . Outros fatores , como a diminuição da altura do assento das cadeiras numa tentativa de melhorar a performance , também predispõe para lesões ( ex . queimaduras por fricção ).
Muitas destas lesões podem ser prevenidas com programas de treino específicos , com especial foco na musculatura da coifa dos rotadores . Dada a natureza da propulsão em cadeira de rodas , estes atletas tendem a desenvolver excessivamente a musculatura anterior em relação à posterior . Dessa forma , torna-se necessário ao atleta em cadeira de rodas alongar frequentemente a musculatura anterior e fortalecer a musculatura posterior , especialmente os músculos rotadores externos e adutores da escápula . 5
Atletas amputados
O atleta amputado tem risco acrescido de lesão cutânea ou de quedas na prática desportiva . Existe a necessidade de verificar a adequação da prótese e o seu ajuste , limitar / adaptar o treino se o atleta apresentar alterações marcadas do coto e garantir um ambiente seco no coto de modo a prevenir a maceração cutânea . Há também alteração do centro de gravidade que conduz a risco aumentado de queda . A sua prevenção é fundamental , pelo que é necessário investir em exercícios de treino de equilíbrio estático e dinâmico . 10
Atletas com défice visual
Os atletas com défice visual não têm uma ideia visual em relação à superfície da rua e barreiras arquitetónicas que podem conduzir a lesões . Nestes atletas , há necessidade de adaptações , como a ampliação das marcas utilizadas , informação verbal e descritiva , e apoio de atleta guia / acompanhante .
Estes atletas podem ainda apresentar uma biomecânica diferente por causa de mudança da cadência , largura da passada e alterações posturais . Adicionalmente , podem ter maior dispêndio energético por falha do estímulo visual . Este facto pode conduzir à fadiga precoce e é um potencial de lesões por overuse . 3
Atleta com doença mental
Atletas com síndrome de Down participam nos Jogos Paralímpicos , porém a sua participação tem gerado controvérsia . A evidência mostra que estes atletas têm vários problemas ortopédicos , frequentemente não reconhecidos , como pé plano , instabilidade patelar e , sobretudo , instabilidade atlantoaxial ( figura 2 ).
Figura 2 – ( A ) Doente com Síndrome de Down com Instabilitade atlantoaxial . ( B ) Doente sem patologia 11
A instabilidade atlantoaxial tem uma prevalência de 8 a 31 % entre atletas com síndrome de Down e resulta de alterações esqueléticas e / ou da produção de colagénio . Este fenómeno pode ser assintomático ou resultar em queixas mielopáticas , incluindo dor e deterioração motora . Estes atletas devem evitar movimentos de hiperextensão , hiperflexão ou carga axial . É obrigatório a realização de uma radiografia da coluna cervical antes da participação em atividade desportiva , sendo que a evidência radiográfica de instabilidade cervical leva a impedimento permanente da competição . 12
Conclusão
O desporto é uma mais-valia para a pessoa com deficiência . Os riscos são reais , mas razoáveis . Na maioria dos casos , os riscos são excedidos pelos inúmeros benefícios fisiológicos , existenciais , psicológicos e sociais . Nesse sentido , o exercício deve ser visto como fármaco que , na dose ideal , se torna agradável e benéfico para o atleta .
É responsabilidade do especialista em reabilitação ajudar as pessoas com deficiência a alcançar os seus potenciais máximos em todos os aspetos da sua vida . A promoção da
22 março 2022 www . revdesportiva . pt