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apenas 4,6 % dos doentes fibrose pulmonar . 19 Relatórios de autópsia de doentes com COVID – 19 relatam que a degradação da membrana alveolar é menos evidente que no SARS-CoV-1 , tornando consequentemente o grau de fibrose menos grave . Poderá tornar-se , assim , um importante fator de prognóstico na avaliação da função pulmonar . 6
Uma vez que o SARS-CoV-1 e o COVID-19 partilham o mesmo recetor de entrada ACE2 ( enzima conversora da angiotensina ), poderemos deduzir estratégias semelhantes de tratamento e seguimento destes
9 , 14 , 16 , 20 doentes .
O que sabemos até agora ?
Embora se preveja que grande parte dos doentes tenha uma recuperação total , alguns vão desenvolver sequelas pós infeção com gravidade variável , podendo contribuir com algumas limitações a longo prazo . 21 O dano pulmonar resultante da infeção por COVID-19 leva ao comprometimento das trocas gasosas ao nível dos alvéolos . 22-24 De acordo com Zheng et . al , 56.3 % dos doentes que tiveram Alta manteve queixas de fadiga e dispneia após atividade física , resultantes da regressão incompleta das alterações a nível pulmonar causadas pelo SARS-CoV-2 . Este autor sugere como estratégia de follow-up a realização de Rx pulmonar ou TC até resolução completa das lesões , bem como a realização de estudos funcionais respiratórios , nomeadamente a determinação de capacidade de ventilação forçada ( FVC ), volume expiratório forçado no 1 º segundo ( FEV1 ), rácio FEV1 / FVC e capacidade de difusão do monóxido de carbono ( DLCO ). 16
Em grande parte dos estudos publicados até à data , estes reportam alterações nas provas funcionais respiratórias , que podem durar até 12 meses ou mais , podendo tornar-se permanentes . Atingem maioritariamente a DLCO ( entre 50 e 66 % dos casos ), com redução de valores obtidos inferiores a 80 % do esperado , principalmente em casos de fibrose dispersa . 22 , 23 , 25 Em cerca de 55 % dos casos , os doentes demonstram um padrão restritivo de novo . Pressupõem-se que estas alterações sejam tão mais graves e permanentes consoante a gravidade da doença . 26
No que concerne à persistência de sintomas , em dois estudos , um com a duração de 6 meses e outro com a duração de 10 meses , constatou-se que os doentes ainda mantinham queixas de dispneia ( 14 % vs . 49 %), tosse , fadiga , ansiedade e distúrbios do sono . 27 , 28 Em 51 % dos casos os doentes apresentavam entre um e quatro sintomas que persistiram após infeção . 27
De acordo com Li J ., apesar do momento ideal para iniciar a reabilitação pulmonar em doentes com infeções moderadas estar ainda em estudo , é aconselhavel que estes doentes realizem treino respiratório , bem como treino aerobio leve . 24 Apesar da reabilitação , alguns doentes apresentam sequelas de lesões fibróticas que se traduzem na diminuição da tolerância à atividade física , nomeadamente por queixas de astenia ou dispneia . 16 A função pulmonar poderá ser largamente melhorada ao fim de seis semanas de reabilitação pulmonar , através de exercícios de reforço da musculatura torácica , nomeadamente dos músculos intercostais e da parede abdominal . 29 O teste da marcha de seis minutos também evidenciou melhorias significativas na capacidade aeróbia dos doentes previamente infetados ao fim do programa de reabilitação de seis semanas . 29 No entanto , em comparação com grupos controlo de doentes saudáveis , os doentes pós-Covid , nomeadamente os que necessitaram de ventilação mecânica invasiva , têm resultados no teste da marcha que atingem entre 67 a 81 % dos valores obtidos pelo grupo controlo , aos três meses , e 74 a 83 % ao fim de 12 meses .
A resolução imagiológica completa poderá ser observada quatro semanas após o início dos sintomas . 16 Desta forma , deve ser realizado um acompanhamento imagiológico até à resolução das alterações pulmonares ( nomeadamente padrão de vidro despolido , consolidações , padrão fibrótico ). Segundo Yu M , et al a última TC de seguimento realizada após a Alta apresentava espessamento intersticial e fibrose em metade dos doentes em estudo . 1 Num estudo realizado com oito doentes , que testaram novamente positivo após terem Alta , confirma- -se que na segunda admissão estes doentes não apresentavam sintomas e a TC pulmonar não tinha praticamente alterações . 3 No entanto , alguns estudos , com avaliações mais prolongadas , revelaram que ao fim de três meses , dois terços dos doentes mantinham alterações radiológicas , nomeadamente vidro despolido . 19 De acordo com Caruso D , et al , ao fim de seis meses , 72 % dos doentes apresentavam alterações em TC com lesões fibróticas . 28 De acordo com a British Thoracic Society , os doentes internados em enfermaria ou unidade de cuidados intensivos devem ser reavaliados clinicamente quatro a seis semanas após a Alta e devem realizar RX do tórax e provas de função respiratória após 12 semanas . Se após 12 semanas ainda persistirem sintomas , em doentes que não necessitaram de internamento e desenvolveram infeção moderada um RX do tórax de reavaliação , deverá ser realizado às 12 semanas após a Alta . 15
Embora as complicações graves mais frequentes digam respeito à área respiratória , tem vindo a ser demonstrado que outros sistemas , nomeadamente o cardiovascular , podem ser afetados , sendo um dos diagnósticos mais frequentes a miocardite . 30 , 31 Exames como eletrocardiograma , ecocardiograma , Holter e prova de esforço deverão ser ponderados tendo em conta a gravidade da
31 , 32
infeção e sintomas associados .
Dois anos após o início da pandemia , devemos neste momento considerar os doentes com COVID longo ( sintomas com duração superior a três semanas ) e síndrome pós- -COVID crónico ( sintomas com duração superior a 12 semanas ), os quais vão necessitar de avaliação global para abordar os problemas , físicos , cognitivos , psicológicos e sociais . 33
Como proceder no alto rendimento ?
Relativamente à avaliação de atletas após infeção por SARSCOV-2 , deve-se ter em conta que , mesmo os doentes com infeção assintomática / leve
Revista de Medicina Desportiva informa março 2022 · 13