Revista de Medicina Desportiva Março Março | Page 12

da tíbia através de um túnel ósseo ( figura 3 ).
A cerclage foi aplicada com o joelho em flexão de cerca de 60 ° de forma a permitir uma melhor mobilização ativa durante o pós-operatório . A força da reparação foi testada intra- -operatoriamente ( figura 4 ).
O doente iniciou exercícios isométricos do músculo quadricípite às 24 horas , foi-lhe permitida a marcha com suporte de joelheira articulada bloqueada em extensão , acabando por ter Alta hospitalar ao 3 º dia de pós-operatório .
• Na segunda semana , e após a cicatrização da ferida operatória , foi permitida por períodos a mobilização ativa e passiva do joelho até aos 60 º de flexão .
A
B
• À sexta semana de pós-operatório , o doente era capaz de realizar a flexão ativa máxima de 50 º no joelho direito e 55 º no joelho esquerdo .
• às 10 semanas a cerclage de descarga foi removida , tendo sido efetuado no mesmo procedimento manobras de artrólise indireta bilateral . Manteve programa de reabilitação progressivo com início de bicicleta estática e marcha sem restrição de carga e sem necessidade de ortótese .
Figura 3 – Cerclage de descarga retroquadricipital e ancorada à tuberosidade anterior da tíbia através de túneis transósseos , aplicada com o joelho em 60 º de flexão .
Figura 4 – Teste de estabilidade intra- -operatória da reconstrução tendinosa obtida
• Às 12 semanas o doente apresentava mobilização ativa de 100 º de ambos os joelhos .
• Aos 6 meses o doente apresentava mobilidade completa dos joelhos ( flexão de 140 º, extensão de 0 º), sem sinais de atrofia quadricipital e com integridade completa da força muscular ( figura 5 ). Voltou à atividade desportiva , sem dor , desconforto ou instabilidade em atividades de corrida , salto e bicicleta .
Discussão
As roturas do tendão rotuliano são mais frequentes nos homens com idade inferior a 40 anos e ocorrem tipicamente por um mecanismo indireto , num tendão previamente debilitado , ao invés das roturas do tendão quadricipital que ocorrem em indivíduos de mais idosos após traumatismo direto . 4 , 5 No caso apresentado , o doente relatou a presença de uma dor aguda após uma travagem e um movimento rotacional com os joelhos em flexão moderada , consistindo no mecanismo lesional mais descrito . 1
As roturas do tendão rotuliano podem ter diferentes fatores predisponentes : a presença de doença sistémica , a toma contínua de corticosteroides ou fluoroquinolonas e os microtraumatismos de repetição . 1 As doenças sistémicas mais frequentemente implicadas são o lúpus eritematoso sistémico e a doença renal crónica . Histologicamente , enquanto a primeira leva a um grau elevado de inflamação do tendão , a segunda leva a depósitos de amiloide com predisposição de rotura . 5 Os corticosteroides levam à diminuição da síntese de colagénio e a diminuição da vascularização sanguínea musculo-tendinosa . 6 Já os microtraumatismos de
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Figura 2 – Técnica de reconstrução utilizada com duas fileiras de sutura na forma de Krackow ( a ) transpostas para o polo superior da rotula através de dois túneis transósseos ( b ), sendo feito o nó no polo superior da rótula com o joelho em extensão ( c ).
Figura 5 – Resultado final obtido aos seis meses de pós-operatório
10 março 2022 www . revdesportiva . pt