Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 5

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 2 ): 3-6 . https :// doi . org / 10.23911 / FMUP _ 2021 _ mar Dra . Júlia Machado Ribeiro 1 , 3 , Dra . Lurdes Rovisco
Branquinho 1 , 3 1
Médica Interna de formação específica em Medicina Física e Reabilitação ; 2 Centro Hospitalar Universitário do Algarve ; 3 Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra .
Coronavirus disease 2019 and the athletic heart emerging perspectives on pathology , risks , and return to play 1
Resumo / comentário
Kim et al . publicaram , em outubro de 2020 , uma revisão de literatura e recomendações para responder a uma questão bastante atual : como orientar um atleta com COVID-19 ? 1
A COVID-19 pode ser assintomática ou sintomática . A sua gravidade é determinada clinicamente e são considerados sintomas ligeiros : anosmia , ageusia , cefaleia , fadiga ligeira , sintomas respiratórios superiores ou gastrointestinais ligeiros ; os sintomas moderados incluem febre superior a 30 graus , arrepios , mialgias , letargia e dispneia ; sintomas graves implicam intolerância ao exercício , sensação de opressão torácica , tonturas , palpitações e síncope .
Uma possível consequência de infeção viral é a miocardite , que causa 4 a 7,5 % das mortes súbitas cardíacas em atletas . 2 Em atletas com COVID- 19 não hospitalizados está ainda por esclarecer a prevalência de lesão cardíaca , bem como as implicações cardiovasculares ( CV ) a longo prazo . Porém , em doentes hospitalizados com COVID-19 , as lesões cardíacas ocorrem em mais de 20 % dos casos . 2
Tendo em conta o desconhecimento das consequências CV da COVID-19 , esta publicação é pertinente porque permite uma melhor alocação de recursos humanos e financeiros na estratificação de risco dos atletas com COVID-19 ( ver tabela ).
Como saber se um atleta com COVID-19 desenvolve lesão miocárdica ?
Não há ainda uma definição claramente aceite do que constitui a lesão miocárdica por COVID-19 em atletas . 1 Os estudos realizados em doentes hospitalizados com COVID- 19 , na sua maioria com idades bem superiores às dos atletas , sugerem que uma percentagem considerável tem lesão miocárdica , mas estes achados não foram replicados em jovens atletas . Além disso , há uma sobreposição de marcadores de lesão miocárdica pela COVID-19 com algumas alterações fisiológicas do atleta .
Qual a abordagem perante níveis elevados de troponina de alta sensibilidade ( hs-Tn )?
Ainda não se sabe qual o valor desta variável na deteção de lesão miocárdica e no prognóstico em atletas previamente saudáveis e assintomáticos ou com doença ligeira . Todavia , valores elevados de hs-Tn condicionam pior prognóstico em doentes hospitalizados com COVID-19 . A medição dos níveis séricos de hs-Tn no atleta deve ser realizado 24 a 48 horas após o exercício físico e , se anormal , repetido após um período semelhante de repouso . Valores persistentemente elevados implicam a realização da ressonância magnética cardíaca ( RMC ).
A decisão de retorno à prática desportiva ( RPD ) perante níveis de hs-Tn elevados deve basear-se na probabilidade pré-teste de lesão miocárdica . Se esta for alta , se existem sintomas sistémicos e / ou CV , deve ser considerada a possibilidade de existir miocardite e seguirem-se as respetivas guidelines 2 , 4 , 5 ; se a probabilidade pré-teste for baixa , atletas assintomáticos ou doença ligeira , o RPD pode ser mais rápido , mas sempre progressivo e sob vigilância .
Qual a importância da RMC no atleta com COVID-19 ?
Segundo os autores , de momento não há evidência científica que sustente o rastreio por ressonância a todos os atletas com COVID-19 . A RMC é importante no diagnóstico de miocardite em atletas com uma probabilidade pré-teste moderada-alta . Neste caso , se a RMC for normal devem considerar-se outras etiologias que justifiquem o valor elevado da hs-Tn ; se for anormal , deve ser feita uma abordagem de acordo com a patologia subjacente . Nos atletas com baixa probabilidade pré-teste , as anomalias isoladas na RMC não devem ser consideradas indicadoras de lesão miocárdica por COVID-19 . Neste caso , recomenda-se a estratificação de risco com prova de esforço ( PE ) máxima e Holter , bem como RPD com acompanhamento clínico apertado .
Como estratificar o risco CV num atleta com COVID-19 ?
Os autores desenvolveram um algoritmo de decisão que determina a necessidade de estratificação de risco CV consoante a gravidade da infeção ( figura ). Quando indicada , a estratificação é feita através da avaliação clínica , realização do eletrocardiograma de 12 derivações ( ECG ) e do ecocardiograma e análise de hs-Tn . A RMC pode estar indicada nalguns casos selecionados ou perante resultados anormais nos exames anteriores , podendo ser ainda necessários a PE máxima ou a monitorização pelo Holter por 24
Tabela – Custo de exames de cardiologia no Serviço Nacional de Saúde ( SNS ) 3 Exame Custo para o SNS (€) Preço para o doente (€) hs-Tn 9,40 1,80 Eletrocardiograma 6,50 1,20 Ecocardiograma a partir de 53,20 10,20 Holter 43,70 8,40 RMC a partir de 127,90 24,50 Prova de esforço 32,10 6,20
Revista de Medicina Desportiva informa março 2021 · 3