Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 41

Echocardiographic Characterization of Female Professional Basketball Players in the US
Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 2 ): 39 . https :// doi . org / 10.23911 / Comenta _ ecocard _ basq _ fem _ 2021 _ mar

Comentário

Echocardiographic Characterization of Female Professional Basketball Players in the US

JAMA Cardiol . 2020 ; 5 ( 9 ): 991-998 .
Prof . Doutor Hélder Dores Hospital da Luz Lisboa . Human Performance Department – Sport Lisboa e Benfica . NOVA Medical School . Lisboa
Este estudo publicado no JAMA Cardiology , por Shames S e colegas , teve como objetivo principal avaliar a estrutura e a função cardíaca por ecocardiograma transtorácico em basquetebolistas do género feminino . A sua relevância prende- -se com a escassez de dados sobre a remodelagem cardíaca nestas atletas , sub-representadas nos estudos prévios , comparativamente a atletas do género masculino . A ausência de valores de referência , especificamente em basquetebolistas e atletas com área de superficial corporal ( ASC ) semelhante , dificulta o diagnóstico diferencial entre remodelagem fisiológica e patológica , sobretudo miocardiopatias .
Neste estudo transversal foram incluídas 140 basquetebolistas da Women ’ s National Basketball Association ( WNBA ), na época de 2017 , 75 % afro-americanas , idade média 26,8 ± 3,9 anos , estatura = 183 ± 9cm ; ASC 2,02 ± 1,18m 2 . Na avaliação pré- -competitiva realizaram ecocardiograma transtorácico e de exercício , interpretados segundo as recomendações da American Society of Echocardiography e European Association of Cardiovascular Imaging .
Das atletas estudadas , 26 % e 42 % tinham , respetivamente , dimensões aumentadas do ventrículo esquerdo ( VE ) e do ventrículo direito ( VD ), com relação linear entre dimensões e ASC . A espessura parietal máxima do VE variou entre 6-14mm , 56 % com espessura 10mm , mas apenas numa atleta > 13mm . Relativamente à geometria do VE , a maioria das atletas ( 64 %) tinha geometria normal , 16 % hipertrofia ( sobretudo excêntrica , 11 % vs . 5 % concêntrica ) e 19 % remodelagem concêntrica . O diâmetro médio da raiz da aorta foi igual a 31mm e houve apenas duas atletas com dimensões aumentadas . A aurícula esquerda encontrava-se dilatada em 18 % e a direita em 41 % das atletas . Em termos funcionais , a fração de ejeção VE foi < 52 % em 15 % das atletas , normalizando em todas durante o exercício .
Como conclusões , os autores salientam : 1 ) o aumento das dimensões das cavidades cardíacas é frequente em atletas da WNBA ; 2 ) as alterações estruturais são influenciadas pela ASC e remodelagem fisiológica ; 3 ) o estudo pode contribuir para a definição de valores de referência para a remodelagem cardíaca em basquetebolistas de elite do género feminino .
Comentário
Apesar de existirem poucos dados sobre os parâmetros ecocardiográficos em atletas do género feminino , estes resultados não são muito surpreendentes . Contrariamente ao reportado previamente , em que a influência do género na remodelagem cardíaca era muito marcada , esta diferença tem-se diluído nos últimos estudos , porque as exigências e as características do exercício são cada vez mais semelhantes entre o desporto feminino e o masculino .
A prevalência das adaptações cardíacas estruturais não difere da descrita em atletas do género feminino de outras modalidades , mas uma especificidade desta população é o facto das medições indexadas à ASC serem maioritariamente normais . Por outro lado , da mesma forma do descrito em basquetebolistas do género masculino , é frequente a presença de dimensões aumentadas .
Contudo , uma diferença importante é o facto de nas mulheres ser pouco frequente o aumento da espessura parietal , devendo uma espessura > 12mm motivar avaliação adicional para excluir patologia subjacente . Outro dado interessante é a confirmação da remodelagem do VD pela influência mista de exercício dinâmico e estático nesta modalidade . Outra particularidade em basquetebolistas , nomeadamente nas atletas mais altas , é a suspeita da síndrome de Marfan , sendo crucial a avaliação cuidada da artéria aorta . A dilatação da aorta é muito rara em atletas , não sendo uma adaptação fisiológica e justificando investigação adicional .
Entre as limitações do estudo destacam-se a reduzida dimensão da amostra , o viés de seleção nas características étnicas , maioritariamente de origem africana , não permitindo generalizar os resultados , e a ausência de um grupo controlo com ajuste para altura e ASC .
Em suma , este estudo demonstra que a remodelagem cardíaca é muito frequente em basquetebolistas do género feminino , com alguns parâmetros dentro dos critérios de diagnóstico de miocardiopatias , justificando na sua análise a integração de múltiplas características , incluindo da atleta e do desporto praticado . Salienta-se que , apesar da sua utilidade e relevância , a realização do ecocardiograma transtorácico em atletas requer diferenciação para reduzir os casos falsos positivos decorrentes da interpretação errada destas adaptações fisiológicas como patológicas .
Revista de Medicina Desportiva informa março 2021 · 39