Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 4

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 2 ): 2 . https :// doi . org / 10.23911 / Entrevista _ 2021 _ mar

Entrevista

Dr . Luís Sousa e Silva Médico internista . Medicina Desportiva . Santarém
Foi médico da União Desportiva de Santarém durante anos . Naquele tempo era mais difícil ser o médico de equipa ?
Entrei para a U D Santarém em 1984-85 . Fui médico de todos os escalões de futebol . Realizei exames de aptidão , tratei lesões , doenças intercorrentes , fiz palestras sobre alimentação , dopagem e o repouso , para atletas e pais . Fiz muitos jogos com a equipa sénior e alguns com os juvenis e os juniores . Tive apoio de vários médicos , como por exemplo , o Prof . Rodrigues Gomes e os Drs . Fernando Ferreira , Fonseca Esteves , João Paulo Almeida , Bernardo Vasconcelos , Pereira de Castro , entre outros , aos quais manifesto a minha eterna gratidão . No clube fui também médico de todos os escalões masculinos e femininos de basquetebol , e duas vezes por semana assistia aos treinos no pavilhão . Fomos campeões nacionais de basquetebol , femininos , e depois tive a oportunidade de ir a duas eliminatórias da Taça dos Campeões Europeus de basquetebol feminino . Foi muito difícil dar assistência a 500 atletas por ano . Ainda tive tempo para colaborar com a A F Santarém e com a Federação Portuguesa de Futebol ( FPF ) na organização e direção de cursos de treinadores , massagistas e árbitros . No judo participei em cursos para treinadores . Fui também dirigente e como Presidente do G . F . Empregados no Comércio de Santarém fui à Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins e jogámos com o TTC Basel , da Suíça . Foi uma atividade muito intensa ligada à medicina desportiva e , no final , pouco tempo sobrava para mim e para a minha família .
Que diferenças nota em relação à atualidade nos tratamentos , nos exames , no relacionamento ?
Os tratamentos evoluíram muito , mas a competência dos colaboradores era grande , os equipamentos não se comparam aos atuais . A observação no campo do mecanismo de lesão , quando possível , a história clínica e observação cuidadosa eram fundamentais , após o que se realizavam os exames de imagem .
A relação foi excelente com dirigentes e com jogadores , salvo algumas exceções , o que me pareceu normal , já que conheci largas dezenas de dirigentes .
Também esteve muito envolvido no andebol ...
Em 1995 a convite do Dr . Pereira de Castro ingressei na F . P . Andebol ( FPA ). Estreei-me na Seleção A Feminina , na Noruega , no apuramento para o Campeonato da Europa . Fui responsável Médico na preparação da Selecção Sub-19 masculina para o Europeu / 99 , em Cascais . Acompanhei a Seleção A masculina para o apuramento Europeu , na eliminatória com a Macedónia , em Braga e em Escópia . Ajudei na preparação da dupla de arbitragem Macau / Goulão para o Mundial do Qatar . Ao Serviço da FPA comunicava ativamente com os restantes médicos da FPA e com os médicos dos clubes na tomada de decisões referentes às participações em estágios .
Depois foi também médico no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior ( CAR ). Aqui as exigências eram maiores , contactos com atletas e treinadores estrangeiros ...
Em final de 2000 ingressei no CAR e fui responsável pelos atletas brasileiros da CBTri , que estagiaram até 2007 , e pelos atletas da marcha atlética e da Federação Portuguesa de Natação . Chefiei a equipa clínica da Academia de Futebol Inglesa VSI durante ano e meio . Colaborei com os médicos da FPF , da FPA , e com os médicos dos Comités Olímpicos da Suécia , Holanda e Para-Olímpicos da Holanda . Dei apoio médico a provas de ciclismo e a Etapas de Rio Maior do Campeonato do Mundo de Marcha Atlética . Para levar a cabo estas tarefas tive o apoio e confiança do Prof . Sacadura da natação , dos colegas Maria João Cascais , João Paulo Almeida e Gomes Pereira , assim como do Dr . Roberto Nahon , médico chefe da CBtri e do Comité Olímpico do Brasil .
É um médico simples , cultiva a modéstia e aprecia os jovens médicos . Acha que temos a Medicina Desportiva ( MD ) garantida no futuro ?
Os colegas mais novos são brilhantes , ativos e competentes . É um privilégio ser substituído por todos estes colegas a quem desejo felicidade e a realização profissional como eu tive . Estou certo de que o futuro da MD está garantido .
O exame médico-desportivo ( EMD ) é um tema atual que o preocupa . O que pensa sobre o que se passa ?
O EMD tem de ser rigoroso como toda a prática médica e deve inclui a história clínica , geral e desportiva , e ser depois apoiada por estudos complementares de acordo com a informação clínica . Deve ser realizado “ por quem sabe ”, pois é um ato de grande responsabilidade , e no qual o atleta e a família depositam expetativa e confiança .
Recentemente faleceu um mestre da MD , o Dr . J Fonseca Esteves . Causou-lhe muita mágoa ...
Foi com muita mágoa e tristeza que vi partir o Dr . Rui Faria , da FPA e colega de curso , e mais recentemente o Dr . Fonseca Esteves , grande defensor da Medicina Desportiva , com quem privei nove anos na SPMD e muitos mais anos no Centro de Medicina Desportiva de Lisboa .
Na sua experiência clínica com atletas certamente que terá algumas histórias ...
A meio da época , na 2 ª divisão do futebol , houve um jogador que perdeu rendimento desportivo , foi bastante estudado e nada se encontrou . Através do enfermeiro soube que tinha doado sangue para ter três dias de folga na tropa ! Mas também de me lembro de situações clínicas desagradáveis : um atleta brasileiro com miocardiopatia grave , pós-viral , recuperado seis meses depois , e outro atleta olímpico com persistência do canal arterial com significado clínico .
2 março 2021 www . revdesportiva . pt