Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 36

da carga de treino . Estes autores avaliaram a execução de uma manobra de mudança de direção a 110 ° e identificaram três clusters de padrão de movimento com alterações nos planos frontal e sagital . De referir , também , que houve melhoria na força muscular dos músculos adutores da anca , apesar da ausência de exercícios isolados para fortalecimento deste grupo muscular , do controlo pélvico e da biomecânica da corrida linear e do movimento de mudança de direção . A melhoria da biomecânica , força muscular e sintomatologia traduziu- -se num retorno ao desporto sem dor ( em média em 9,9 semanas ) em 73 % dos casos . Estes resultados mostraram-se superiores aos apresentados por outros estudos com foco na abordagem anatómica , com protocolos de tratamento conservador 13-15 , ou mesmo tratamento cirúrgico . 16 , 17 Os programas de treino funcional com exercícios de correção biomecânica parecem ter uma boa aderência dos atletas quando realizados com a supervisão do fisioterapeuta , mas que muitas vezes são negligenciados se propostos sem supervisão . 18 Este achado é relevante , pois implica uma maior atenção do médico e dos fisioterapeutas à aderência aos exercícios para que a dosagem terapêutica seja alcançada e , consequentemente , sejam eficazes .
A questão de “ qual o padrão de movimento ideal ?” ainda se mantém . Aliás , apesar de ser possível agrupar défices funcionais em clusters 2 , existem outros específicos ao indivíduo 19 , o que implica o tratamento customizado aos défices do atleta . Ainda assim , um plano de reabilitação com foco no melhor controlo e coordenação inter- -segmentar e da função muscular ( força , potência , endurance e tempo de ativação ) com transferência para a corrida multidirecional e de alta intensidade demonstra bons resultados 2 e deve ser considerado no tratamento da síndrome pubálgica . De facto , a implementação de um programa de reabilitação ativo e a correta progressão entre cada um dos seus níveis , parece ser a chave para o tratamento bem-sucedido da síndrome pubálgica de longa evolução . Todavia , em casos refratários , pode ser necessário aplicar terapias adjuvantes , como as infiltrações ecoguiadas , bloqueios de nervo periférico ou mesmo o tratamento cirúrgico . No caso de necessidade de tratamento cirúrgico é importante que a reabilitação pós-operatória seja programada e faseada com progressões suportadas em critérios objetivos . 20
Durante todo o plano de tratamento devem ser implementados testes de avaliação e monitorização , com especial atenção para a presença de dor inguinopúbica , objetivada na escala numérica ou visual da dor . Elementos importantes nesta avaliação incluem a resposta à sessão de aquecimento , caminhada e / ou corrida , o squeeze test dos músculos adutores , os testes de resistência manual dos músculos adutores e os testes de stress púbico . A resposta a este tipo de testes é importante para a decisão de progressão nos níveis do plano de reabilitação , incluindo para a implementação da corrida linear e corrida com mudança de direção . 21 De todos estes fatores , a força dos músculos adutores parece ser o critério com evidencia científica mais forte para suportar a decisão de retorno ao desporto . 22 Tal como demonstrado acima , os défices biomecânicos funcionais devem ser avaliados antes e durante a reabilitação para ajustar o plano de tratamento 23 , 24 , como também devem desempenhar um papel na decisão de retorno ao desporto . 24 O uso de escalas para avaliar a preparação psicológica do atleta para retomar a atividade desportiva poderá ser um bom complemento à avaliação clínica e funcional . 25
Prevenção primária e secundária
Várias meta-análises mostram que um programa de prevenção generalizado , que inclua exercícios específicos dos músculos adutores ou programas de prevenção que sejam específicos para os músculos adutores são eficazes para a redução da incidência da síndrome pubálgica . 26 Dentre os programas de prevenção mais generalizados , o FIFA 11 + parece ser o mais eficaz , com uma redução do risco de cerca de 42 %) 26-29 , especialmente se realizado antes e após os treinos e jogos . 30 Relativamente aos exercícios específicos de prevenção , o Copenhagen adduction exercise , que é realizado a diferentes níveis de dificuldade , consegue reduzir 41 % do risco de problemas relacionados com a síndrome pubálgica . 31 No entanto , como o estudo avaliou o risco de problemas , que podem ir desde dor muscular de início retardado até lesões mais severas , o efeito deste exercício em lesões dos músculos adutores ainda não é claro . 26 O Copenhagen adduction exercise é eficaz no fortalecimento dos músculos adutores 32-34 e torna- -se assim um exercício com muita aplicabilidade para a prevenção da síndrome pubálgica . Numa sondagem de academias de futebol em Inglaterra 35 , foi encontrado que , apesar de a maioria das academias implementar programas de prevenção para a síndrome pubálgica , usualmente baseados em exercícios do core abdominal , apenas metade das academias implementam exercício de cargas excêntricas , como seria o caso do Copenhagen adduction exercise .
O tratamento da síndrome pubálgica é usualmente eficaz , com a maioria dos atletas ( cerca de 85 %) a demonstrarem melhoria nos resultados clínicos e funcionais , bem como a reportarem satisfação com o tratamento . No entanto , a taxa de sucesso varia muito entre os estudos , entre 27 % e 100 %. Quase todos os atletas , cerca de 91 %, conseguem retomar a prática desportiva . 36 É reportado que o retorno ao desporto demora em média 11 semanas , no entanto esta média é em muito influenciada por valores outliers , que podem ir desde 1 a 38 semanas 36 , sendo expectável que a maioria dos atletas regresse às quatro semanas . 22 Apesar do sucesso do tratamento da síndrome pubálgica , a taxa de reincidência é elevada , entre 15 % a 25 %. 37 , 38 Nestes casos de recorrência ( ou quando existe lesão combinada dos músculos adutores e abdominais ), o tempo de ausência para a reabilitação é usualmente superior . 37-39 Neste sentido , após o retorno ao desporto , é crucial que sejam implementados programas de prevenção secundária para reduzir o risco de reincidência da síndrome
34 março 2021 www . revdesportiva . pt