Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 35

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 2 ): 33-35 . https :// doi . org / 10.23911 / Clinica _ Dragao _ 2021 _ mar

A Tríade no Contexto da Síndrome Pubálgica .

Parte 4 : Avaliação biomecânica , tratamento e prevenção
Dr . Diogo Rodrigues-Gomes 1 , Dr . Sérgio Rodrigues-Gomes 2 , Dr . Renato Andrade 1 , Prof . Doutor João
Espregueira-Mendes 1 1
Clínica do Dragão , Espregueira-Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence ; 2 Grupo Unilabs – Radiologia Musculosquelética e Medicina Desportiva . Porto .
RESUMO / ABSTRACT
Nesta última edição ( parte 4 ) focamos a avaliação biomecânica , a prevenção e o tratamento . A avaliação biomecânica permite identificar possíveis défices funcionais que o atleta apresente e que possam estar associados à origem da síndrome pubálgica . O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico e discutimos as abordagens mais recentes , baseadas na reabilitação com foco no controlo inter-segmentar e na otimização biomecânica do movimento . Apresentamos ainda programas e exercícios que devem fazer parte da prevenção primária e secundária da síndrome pubálgica e que têm como objetivo reduzir a incidência da lesão e também diminuir o risco de recidivas .
In this last edition ( part 4 ) we focus on biomechanical assessment , prevention and treatment . The biomechanical assessment allows to identify possible functional deficits of the athlete and which may be associated with the origin of the groin pain . Treatment can be conservative or surgical and we discuss the most recent approaches , based on the rehabilitation with a focus on intersegmental control and biomechanical optimization of movement . We also present structured programs and exercises that should take part of primary and secondary prevention of groin pain and that aim to reduce the incidence of this injury and decrease the risk of recurrence .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Síndrome pubálgica , avaliação biomecânica , tratamento , prevenção Groin pain , biomechanical analysis , treatment , prevention
Avaliação biomecânica
A abordagem da síndrome pubálgica é fundamentada , classicamente , na procura da localização da estrutura responsável pelos sintomas , na expetativa de se aplicar o tratamento dirigido à estrutura lesada . Sabemos hoje que muitas alterações presentes nestas estruturas anatómicas , bem identificadas nos exames de imagem , são adaptativas e muitas vezes não têm relação com as queixas dos atletas . Houve , assim , necessidade de , além desta abordagem anatómica , avançar para uma avaliação biomecânica com manobras específicas da atividade desportiva para encontrar disfunções que pudessem estar implicadas na síndrome pubálgica . 1
Os sistemas de captura de movimento em três dimensões ( 3D ) permitem a avaliação biomecânica do controlo inter-segmentar . No caso da síndrome pubálgica , é direcionada especial atenção para a cinética e cinemática do tronco , pelve , anca , joelho e tornozelo . O controlo e coordenação do comportamento inter-segmentar estão relacionados com a capacidade que o atleta tem para produzir força e executar corretamente os movimentos de mudança de direção . Assim , podemos assumir que disfunções ( perda de controlo e coordenação inter-segmentar ) podem resultar em lesão tecidular , por excederem a capacidade de tolerância destas estruturas ( músculo , tendão , osso e articulação ). 2 São muitos os estudos que nos últimos anos têm demostrado que disfunções cinemáticas e cinéticas de vários movimentos e gestos desportivos estão relacionadas com o desenvolvimento e / ou prevalência da síndrome pubálgica , incluindo o forward step-down 3 , single-leg drop-jump 4 , 5 , manobras reativas de mudanças de direção 6-8 e o gesto desportivo de remate à baliza . 9 Importa realçar que o comportamento biomecânico varia entre atletas masculinos e femininos 10 , o que deve ser considerado aquando das avaliações cinemáticas e cinéticas .
A avaliação eletromiográfica também tem sido investigada em contexto com a síndrome pubálgica . Os estudos mostram uma relação entre o desenvolvimento e / ou a prevalência da síndrome pubálgica com uma menor ativação eletromiográfica dos músculos adutores e gracilis em movimentos de mudança de direção 11 e movimentos com a bola como o passe interior . 12
Tratamento
Tal como a abordagem clínica e diagnóstica , também o plano de tratamento da síndrome pubálgica tem evoluído ao longo dos últimos anos , refletindo a investigação clínica realizada .
Um importante estudo randomizado publicado em 1999 por Per Holmich e colegas 13 mostrou que um plano de tratamento com base num programa ativo de fortalecimento muscular e de controlo neuromuscular ( ambos com foco na estabilidade postural pélvica ) foi mais eficaz comparativamente a um plano de fisioterapia com modalidades passivas , incluindo terapia manual , eletroterapia e exercícios de alongamento .
Mais recentemente , outro protocolo de tratamento da síndrome pubálgica foi estudado , independentemente da entidade clínica , num grupo 205 atletas com diagnóstico de síndrome pubálgica . 2 Os participantes foram submetidos a um programa de reabilitação com foco no controlo inter-segmentar e na otimização biomecânica do movimento de mudança de direção . Este plano desenvolveu-se ao longo de três níveis de progressão , iniciando- -se com o fortalecimento muscular e o controlo neuromuscular individualizado nos grupos musculares envolvidos nos movimentos da anca e no controlo pélvico . Os níveis mais avançados incidiam no treino de corrida linear e multidirecional , incluindo movimentos de aceleração , sprint e mudança de direção . Era dada especial atenção à biomecânica do movimento , incluindo o controlo do tilt anterior da pelve e controlo do overstride , e à progressão
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