Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 29

ocorre através da inibição direta do recetor do tipo 1 da angiotensina II , com consequente inibição da via dependente do Smad2 / 3 6-8 , 11 , à semelhança com o que ocorre em muitas outras patologias fibróticas ( fibrose pulmonar , doença renal , cardiomiopatias , aneurismas da aorta ). 2 , 5-7 , 10-13 Porém , ao contrário do verificado nestas últimas , a evidência da utilização do losartan como terapêutica promotora da diminuição do processo de fibrose e melhoria da regeneração e funcionalidade muscular após uma lesão muscular esquelética é , ainda , escassa .
Neste sentido , o principal objetivo deste trabalho consistiu em rever qual a evidência existente acerca da utilização do losartan no tratamento das lesões musculares .
Métodos
Foi realizada uma pesquisa de normas de orientação clínica , meta-análises , revisões sistemáticas e ensaios clínicos na MEDLINE e nas bases de dados National Guideline Clearinghouse , National Electronic Library for Health do National Health Service britânico , Canadian Medical Association Practice Guidelines Infobase , The Cochrane Library , DARE e Bandolier , a 1 de maio de 2020 , utilizando os termos MeSH “ Losartan ” e “ Muscles / injuries ”. Além disso , foram procurados ensaios clínicos concluídos e em curso nas plataformas clinicaltrials . gov e EudraCT . Foram incluídos artigos escritos na língua inglesa , francesa , espanhola e portuguesa , publicados nos últimos 15 anos e cujo objetivo principal consistia em avaliar o papel do losartan no tratamento das lesões musculares , quer em monoterapia , quer em associação com outras substâncias / terapias . Foram excluídos artigos que não cumpriam os critérios de inclusão , artigos duplicados ou presentes noutras meta-análises e / ou revisões sistemáticas e artigos de opinião .
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Resultados
Foram encontrados oito artigos que correspondiam aos critérios estabelecidos e que , por conseguinte , foram incluídos nesta revisão . Todos eles demonstraram que a terapêutica com losartan diminuía significativamente o processo de fibrose tecidual após lesão muscular , sendo esse fenómeno à custa da inibição do TGF-β1 . 2 , 6-12 Adicionalmente , ao aumentar o número de fibras musculares regenerativas ( centro-nucleadas ) na zona da lesão , a utilização de losartan aumenta a capacidade regenerativa local , sendo este , muito provavelmente , um mecanismo dose- -dependente. 2 , 5 , 6 Estes dois processos , aliados à capacidade aumentada de fusão e proliferação dos mioblastos , poderão explicar a potenciação funcional e da força muscular encontrada aquando da sua utilização . 2 , 5 , 7 Quando avaliada a terapêutica combinada de losartan com fatores de crescimento ou células estaminais , verificou-se a melhoria da capacidade de cicatrização e regeneração muscular superior à verificada aquando da utilização destas
7 , 8 , 10 , 12 terapêuticas isoladamente . Satoshi Terada et al . 7 desenvolveram um estudo animal que pretendeu explorar o efeito do tratamento com plasma rico em plaquetas ( PRPs ), losartan e sua combinação nas contusões musculares . Para tal avaliaram os efeitos da administração injetável de 20mL de PRPs um dia após um episódio de contusão muscular vs administração de 10mg / kg / dia de losartan três dias após lesão vs administração combinada destas duas substâncias vs placebo . Através da análise histológica local e aplicação de testes fisiológicos , os autores constataram que , além dos benefícios já supracitados , a utilização destes dois compostos em associação tem um efeito sinérgico na promoção e no aumento da capacidade de revascularização muscular ( secundário ao aumento da expressão de Vascular Endothelial Growth Factor ) e , paralelamente , na inibição do processo fibrótico , o que em última instância leva ao aumento da capacidade funcional e , subsequente , da melhoria da força muscular . Johnny Huard et al . 12 , além de corroborarem estes achados , salientam ainda na sua revisão , que a utilização combinada de PRPs com losartan , em doses equiparadas aos do estudo supracitado , está associada ainda a melhoria na capacidade de reparação cartilagínea pós-operatória . Jin-Kyu Park et al . 10 verificaram a ocorrência deste mesmo efeito sinérgico , neste caso com a utilização combinada de células estaminais derivadas de tecido adiposo ( ASCs ) e losartan – injeção de 5x10^5 ASCs no dia 1 pós laceração muscular e losartan ad libitum durante duas semanas juntamente com água numa concentração de 0.6g / L ). Para averiguar qual o papel do losartan em associação com células estaminais derivadas do tecido muscular ( MDSCs ) nas contusões musculares , Makoto Kobayashi et al . 8 desenharam um estudo no qual compararam os efeitos da administração de 3x10^5 MDSCs quatro dias após lesão vs a administração desse mesmo composto em associação com 10mg / kg / dia de losartan oral a partir do 3 .º dia pós-lesional . Mais uma vez , através da análise histológica local e de testes fisiológicos ( realizados duas e quatro semanas após lesão ), os autores constataram diminuição significativa do processo cicatricial fibrótico , aumento do número de fibras musculares regenerativas e aumento da capacidade funcional superior ao verificado aquando da administração destas substâncias em forma isolada .
A maioria dos estudos salienta ainda o excelente perfil de segurança e eficácia associado ao uso do losartan , devendo a sua utilização , por conseguinte , ser equacionada no tratamento não-cirúrgico das lesões
2 , 5-7 , 10 musculares esqueléticas .
Discussão
As lesões musculares constituem cerca de 1 / 3 de todas as lesões verificadas no futebol , sendo uma causa frequente de inatividade física . O processo de reparação muscular é bastante complexo e , não raramente , resulta na formação de uma cicatriz fibrótica . De todos os fatores de crescimento envolvidos neste processo cicatricial , o TGF-β1 constitui o principal agente profibrogénico responsável pela sua
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