Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 17

que não há risco aumentado de desenvolver gonalgia ( 0.83 vs 0.71 , p = 0.002 ) ou alterações radiográficas de OA do joelho ( 0.83 vs 0.78 , p = 0.01 ) ou outros sintomas de OA ( 0.81 vs 0.64 , p = 0.0006 ) entre corredores vs não corredores , respetivamente . Deste modo , os autores concluíram que a corrida recreativa não parece agravar a sintomatologia ou o risco de alterações radiográficas e consequente desenvolvimento de OA do joelho . A principal limitação deste trabalho , prendeu-se com o facto da variável em estudo , a corrida , ser apurada retrospetivamente , podendo ter sido influenciada pelo viés de participação e de informação ( memória ).
A análise dos artigos incluídos na revisão encontra-se resumida no Quadro I .
Discussão
Dos quatro artigos incluídos nesta revisão , todos apoiam a inexistência de relação causal entre a corrida recreativa e o desenvolvimento de OA do joelho 26 , 32-34 , dois sugerem um efeito protetor da corrida recreativa no
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desenvolvimento de OA do joelho e três estudos apontam os desportos federados como predisponentes ao
32 , 33
desenvolvimento de OA do joelho .
Estes dados são corroborados pelo estudo de Ross H . Miller e colaboradores 35 ( 2014 ) que , embora não conclua que os corredores tenham um risco reduzido de OA do joelho em comparação com os não corredores , oferece uma explicação biomecânica para a não existência desta associação . Os autores tiveram como objetivo comparar o pico de carga da articulação do joelho e a carga por unidade de distância ( PUD ) entre a caminhada e a corrida . Incluíram 14 adultos saudáveis ( 7 homens e 7 mulheres ) que foram submetidos a caminhada e corrida a velocidades selecionadas . Os indivíduos incluídos eram saudáveis , recreativamente ativos e sem história de trauma no joelho . Os resultados mostraram que o pico de carga foi três vezes maior na corrida comparativamente à caminhada ( 8,02 vs 2,72 peso corporal , p < 0,001 ), mas sem diferenças estatisticamente significativas na PUD ( 0,80 vs 0,75 peso corporal por metro , p = 0,098 ). Tal pode ser explicado pelo facto de , comparativamente à caminhada , a duração relativamente curta do contacto com o solo e a distância relativamente longa das passadas na corrida parecerem atenuar o efeito de altas cargas articulares de pico .
Por sua vez , a revisão não sistemática de Lefèvre-Colau , M . et al . 36 ( 2016 ) que teve como objetivo determinar o papel da atividade física ( desportos recreativos e federados ) no desenvolvimento de OA do joelho e anca , também corrobora os resultados obtidos na presente Revisão Baseada na Evidência ( RBE ). Da análise de 31 artigos , 106380 indivíduos com idades entre 20-87 anos , os autores concluíram que a atividade física recreativa ou federada moderada , independentemente do tipo de desporto , não constitui risco consistente para OA clínica ou radiográfica do joelho e anca ( p > 0.38 ). Contudo , alguns dos estudos incluídos nesta revisão não sistemática não fazem a distinção entre a OA do joelho ou anca , não clarificam qual a atividade desportiva praticada , nem o
Quadro I – Resumo dos artigos incluídos . ER – Estudo Retrospetivo ; FR – Fatores de Risco ; IC – Intervalo de Confiança ; IMC – Índice de Massa Corporal ; MA – Meta Análise ; NE – Nível de Evidência ; OA – Osteoartrose ; OR – Odds Ratio ; RS – Revisão Sistemática .
Referência
Hansen , P . et al . ( 2012 , EUA ) 26
Kate , A . et al . ( 2016 , Inglaterra ) 32
Eduard , A . et al . ( 2017 , Espanha ) 33
Tipo de estudo
RS
População / Intervenção Resultados NE
49 artigos incluídos ( n = 25276 ), idades entre 27-70 anos Associação da corrida e OA do joelho ( 16 artigos ) e OA da anca . Outcomes : gonalgia , sintomas musculosqueléticos , edema , alterações imagiológicas de OA do joelho .
RS / MA 15 estudos incluídos : 11 coorte ( 6 retrospetivos ) e 4 caso-controlo ( n = 8753 ) Adultos ( 27 – 69 anos ), expostos a qualquer forma de corrida ou jogging ( incluindo desportos relacionados com corrida , como triatlo e orientação ). Outcomes : diagnóstico de OA do joelho , marcadores radiográficos de OA do joelho , cirurgia ao joelho devido a OA , gonalgia , incapacidade articular do joelho .
RS / MA
25 artigos incluídos 7 coorte prospetivos e 18 caso-controlo ( n = 125810 ) 2 grupos ( corredores vs não corredores ) Avaliados FR adicionais para OA : idade , sexo , peso , carga de trabalho ocupacional , lesão anterior , anos de exposição à corrida , nível de corrida ( competitivo vs recreativo ) e comparados quanto ao desenvolvimento de OA da anca ou joelho ( clínica ou radiográfica ) – OA joelho 19 artigos .
Lo , G . et al .
ER
n = 2637 participantes , 55.8 % mulheres , idades entre os
( 2017 , EUA ) 34
45 e 79 anos , IMC médio 28.5kg / m 2
Avaliar a relação da corrida com o desenvolvimento de gonalgia , rigidez e alterações radiográficas de OA do joelho
A literatura existente falha em apoiar uma associação ou relação causal entre corrida de baixo / moderado volume e OA ; A literatura existente é inconclusiva sobre a relação entre a corrida de alto volume o desenvolvimento de OA .
Não há diferença no diagnóstico de OA do joelho entre corredores recreativos e controlos da mesma coorte em 8 anos de follow-up , OR = 1.00 ( 95 % CI , 0.27-3.68 ); Os estudos sugerem um efeito protetor da corrida contra a cirurgia devido a OA do joelho , OR = 0.46 ( 95 % IC , 0.30-0.71 ); Houve aumento significativo do risco de diagnóstico de OA do joelho em corredores federados quando comparados com os controlos , OR = 1.79 ( 95 % CI , 1.10-3.54 ).
A prevalência de OA da anca e joelho foi de 13,3 % ( 11.62-15.2 ) em corredores competitivos , 3,5 % ( 3.38- 3.63 ) em corredores recreativos e 10,2 % ( 9.89-10.58 ) nos controlos . OR para OA da anca / joelho entre corredores recreativos vs controlos foi de 0.66 ( 95 % IC ), p = 0.0001 ; O estilo de vida mais sedentário , a longa exposição (> 15 anos , p = 0.01 ), a corrida de alto volume e / ou alta intensidade ( p = 0.0001 ) estão associados a OA da anca e / ou joelho .
Não há risco aumentado de desenvolver gonalgia ( 0.83 vs 0.71 , p = 0.002 ) ou alterações radiográficas de OA do joelho ( 0.83 vs 0.78 , p = 0.01 ) ou outros sintomas de OA ( 0.81 vs 0.64 , p = 0.0006 ) entre corredores vs não corredores respetivamente .
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Revista de Medicina Desportiva informa março 2021 · 15