Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 16

Intervenção – Corrida recreativa ; Controlo – Ausência de prática de corrida recreativa ; Outcome – OA do joelho ( clínica , radiográfica , cirúrgica ). Foram usados como critérios de exclusão , artigos duplicados , artigos de opinião , artigos de revisão clássica de tema ou sumários de sites na Internet , artigos redigidos noutras línguas , discordância com o objetivo da revisão , estudos em modelo animal , realizados apenas em atletas federados e estudos que incluíram pacientes com lesões articulares prévias . Para avaliar a qualidade dos estudos e a força de recomendação foi utilizada a escala de Strength of Recommendation Taxonomy ( SORT ), da American Family Physicians . 31
Resultados
Dos 409 artigos iniciais , 4 preencheram os critérios de inclusão : 3 RS , das quais duas com MA , e 1 estudo retrospetivo ( ER ) ( figura 1 ).
O trabalho de Hansen P . et al . 26 ( 2012 ) teve como objetivo rever a literatura existente , estudos in vitro e in vivo , sobre a possível associação entre a corrida e o desenvolvimento de OA do joelho e / ou da anca . Com base nos 16 artigos incluídos sobre OA do joelho , os autores concluíram que não existe associação ou relação causal entre a corrida de baixo- -moderado volume e o desenvolvimento de OA do joelho . A literatura existente é inconclusiva sobre a relação entre a corrida de alto volume e o desenvolvimento de OA . Fatores como o aumento da idade , a lesão articular prévia e o Índice de Massa Corporal ( IMC ) elevado estão , segundo os autores , associados a aumento do risco de desenvolvimento de OA . Além disso , os resultados desta RS suportam ainda
Figura 1 – Diagrama da avaliação dos artigos incluídos na Revisão Baseada na Evidência ( RBE ). que os corredores mais velhos , na globalidade , são mais saudáveis que os não-corredores da mesma idade , pelo que a prática deve ser promovida . De salientar como limitações do estudo a não possibilidade de exclusão de potencial viés de seleção e de poderem existir outras variáveis de confundimento que não foram tidas em conta nos estudos incluídos nesta revisão , tais como : o tipo de calçado utilizado , o tipo de passada , o tipo de piso onde foi praticada a corrida e o próprio limite temporal utilizado , já que a OA se desenvolve ao longo de um período prolongado no tempo .
Kate A . et al . 32 realizaram , em 2016 , uma RS com MA cujo objetivo principal era averiguar a existência da associação entre a prática de corrida e o desenvolvimento de OA do joelho . Para tal , compararam indivíduos adultos expostos a qualquer forma de corrida ou jogging ( incluindo desportos relacionados com corrida , como triatlo e orientação ) com indivíduos não corredores , no que respeita ao desenvolvimento de OA do joelho . Os outcomes incluídos foram : diagnóstico de OA do joelho , alterações radiográficas compatíveis com OA do joelho , cirurgia por OA do joelho , gonalgia e incapacidade associada a alterações da articulação do joelho . Com base nos 15 artigos incluídos os autores concluíram não existirem diferenças estatisticamente significativas entre os corredores recreativos e os controlos no diagnóstico e alterações imagiológicas sugestivas de OA do joelho em 8 anos de follow-up [ Odds Ratio ( OR )= 1.00 ( 95 % CI , 0.27-3.68 )]. Os autores denotaram um efeito protetor da corrida contra a cirurgia do joelho devido a OA [ OR = 0.46 ( 95 % IC , 0.30-0.71 )]. Todavia , no que respeita à corrida de elevado volume , os autores verificaram aumento significativo do risco OA do joelho em corredores federados quando comparados com os controlos [ OR = 1.79 ( 95 % CI , 1.10-3.54 )]. As limitações desta RS com MA devem- -se ao facto da maioria dos estudos não especificarem o modo como foi feito o recrutamento dos mesmos ( podendo existir um viés de seleção ), não terem tido em conta o
IMC , a existência de lesão prévia e haver uma enorme variedade no que diz respeito ao tempo , distância , intensidade e volume de exercícios realizados .
Eduard Alentorn-Geli 33 e colaboradores publicaram , em 2017 , uma RS com MA com o objetivo de avaliar a associação de OA da anca e joelho com a corrida e explorar a influência da intensidade da corrida nessa associação através da apresentação clínica ou de evidência de alterações radiográficas . Com base nos 25 estudos incluídos na RS e 16 incluídos na MA os autores concluíram que a corrida recreativa tem um papel protetor no desenvolvimento de OA da anca e do joelho , dado que a prevalência foi significativamente inferior nos corredores recreativos quando comparados com os controlos ou os corredores federados ( 3.5 % vs 10.2 % vs 13,3 %, respetivamente ). O OR de OA da anca e / ou do joelho entre corredores recreativos vs controlos foi de 0.66 ( 95 % IC , 0.57-0.76 , p = 0.0001 ). Os autores verificaram que o estilo de vida mais sedentário , a longa exposição a corrida de elevado volume (> 15 anos ) e / ou elevada intensidade estão associados a maior risco de OA da anca e / ou joelho . Como limitações , este trabalho incluiu estudos muito heterogéneos e nos quais não existiu uma definição clara do grupo de controlo sedentário . Além disso , alguns corredores estiveram expostos simultaneamente a outros tipos de desporto e o nível de corrida foi apenas adquirido por informação dos participantes e não por métodos quantitativos .
O estudo retrospetivo de Lo , G . et al . 34 , de 2017 , pretendeu avaliar a relação da corrida com o desenvolvimento de gonalgia , outros sintomas de OA e alterações radiográficas de OA do joelho . O estudo decorreu ao longo de 10 anos , entre 2004 e 2014 , tendo incluído 2637 participantes , 55.8 % do sexo feminino , média de idades de 64.3 anos e IMC médio de 28.5 kg / m 2 . A avaliação dos outcomes foi feita através de questionários de avaliação de sintomas e registo de atividade física . Foram comparados corredores e controlos não corredores , tendo a intensidade da corrida sido categorizada em três níveis : baixa , média e alta . Os resultados revelaram
14 março 2021 www . revdesportiva . pt