Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 15

Tema 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 2 ): 13-16 . https :// doi . org / 10.23911 / osteoartrose _ joelho _ 2021 _ mar

Osteoartrose do Joelho e Corrida Recreativa : Uma Revisão Baseada na Evidência

Dr . Pedro Apolinário 1 , Dr . Filipe Cabral 2 , Dra . Cláudia Vieira 3 , Dr . Jaime Ribeiro 4
1
Interno de Medicina Geral e Familiar ( MGF ). USF Nova Mateus , Vila Real ; 2 Interno de MGF , Pós-graduação em Medicina Desportiva . USF Marco , Marco de Canaveses ; 3 Interna de MGF . USF Corgo , Vila Real ;
4
Assistente de MGF , Pós-graduação e Mestrado em Medicina Desportiva . USF Corgo , Vila Real .
RESUMO / ABSTRACT
A osteoartrose é uma das principais causas de dor articular e incapacidade , sendo a articulação do joelho a mais comummente afetada . A evidência da possível associação entre a corrida recreativa e o desenvolvimento desta patologia é ainda controversa e parca , sendo este o objetivo deste trabalho . Dos 409 artigos da pesquisa inicial , quatro foram incluídos nesta revisão . Concluiu-se que a corrida recreativa não predispõe ao desenvolvimento de osteoartrose clínica ou radiográfica do joelho , parecendo ter , pelo contrário , um efeito protetor .
Osteoarthritis is a major cause of joint pain and disability , with the knee joint being the most commonly affected . The aim of this study is to investigate the evidence about the possible association between recreational running and the development of this pathology which is still controversial and sparse . Of the 409 articles in the initial research , four were included in this review . It was concluded that recreational running does not predispose to the development of clinical or radiographic knee osteoarthrosis , on the contrary , it seems to have a protective effect .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Osteoartrose , joelho , corrida recreativa Osteoarthritis , knee , recreational run
Introdução
A Osteoartrose ( OA ) é a doença articular degenerativa mais comum , estando a prevalência a aumentar . 1 , 2 Esta patologia constitui uma das principais causas de artralgia e incapacidade e , embora possa acometer qualquer articulação , a articulação do joelho é a mais comummente afetada ( ≈12,4 % da população portuguesa ). 3 Múltiplos fatores de risco foram já identificados para o desenvolvimento da OA : idade avançada , obesidade , sexo feminino , atividade laboral , existência de lesões articulares prévias , etnia e fatores genéticos . 4 , 5 Todavia , a associação entre a atividade física , nomeadamente da corrida recreativa , e a OA do joelho ainda não foi estabelecida . 6-10
Os potenciais benefícios para a saúde da prática de atividade física são inegáveis . Correr de forma recreativa melhora a saúde cardiovascular ( diminuindo o risco de hipertensão arterial e de eventos cardiovasculares ) 11-13 , 26 , musculoesqueléticas ( melhorando a densidade mineral óssea ) 14 , 26 , respiratória , psicológica / neurológica ( melhorando o humor e a cognição ) 15-17 , 26 , diminuindo ainda a mortalidade por todas as causas . 18-20 A ideia que a corrida está associada ao desenvolvimento de OA do joelho é comummente observada e está enraizada na população em geral , sendo frequentemente utilizada como desculpa para a sua não realização , mesmo constatando-se que a OA do joelho seja mais comum em indivíduos sedentários . 21
O risco de lesão articular do joelho varia consoante a atividade física e desportos praticados . 22 , 23 Os estudos de Van Mechelen et al . 24 e Van Gent et al . 25 reportam uma incidência anual de lesões relacionadas com a corrida de 59 e 79 %, respetivamente . Efetivamente , as lesões musculares , tendinosas , ligamentares e ósseas são comuns , sobretudo associadas à sobrecarga . 26 Postulou-se que a OA do joelho se desenvolve após uma carga fisiológica excessiva sobre estruturas articulares normais ou após cargas fisiológicas normais em estruturas articulares comprometidas ( por exemplo , após lesão ). 27 O pico de carga na articulação do joelho durante a corrida é de aproximadamente três vezes maior ao observado durante a caminhada . 28-30 Contudo , os corredores não têm maior risco de OA do joelho que os não corredores , apesar de frequentemente experimentarem picos de carga articular mais elevados . O mecanismo do modo como as estruturas do joelho respondem individualmente à dinâmica e padrões de cargas cíclicas durante a corrida , principalmente por períodos prolongados , ainda não são claros , o que pode explicar esta diferença .
Dado o facto da OA do joelho requerer frequentemente a substituição total da articulação e causar comprometimento grave da qualidade de vida do paciente , torna-se imperativo o esclarecimento da influência da corrida recreativa no desenvolvimento desta entidade , de forma a clarificar se os profissionais de saúde podem recomendar a sua prática . Assim , o principal objetivo deste trabalho foi estudar a evidência científica entre a prática de corrida recreativa e o desenvolvimento de OA do joelho .
Métodos
Pesquisa nas bases de dados de Medicina Baseada na Evidência , National Guideline Clearinghouse ( NGC ), Canadian Medical Association Practice Guidelines InfoBase , Evidence based Medicine online , Guidelines Finder of National Electronic Library for Health do NHS Britânico , PubMed , The Cochrane Collaboration , Bandolier , DARE e nas referências bibliográficas dos artigos selecionados , de Normas de Orientação Clínica ( NOC ), Meta-Análises ( MA ), Revisões Sistemáticas ( RS ) e Ensaios Clínicos Aleatorizados ( ECA ) de artigos publicados desde janeiro de 2009 até dezembro de 2019 , na língua inglesa e portuguesa . Utilizaram-se os termos MeSH ” Osteoarthritis ”, ” knee ” e ” recreational run ”.
Os critérios utilizados para a inclusão dos artigos nesta revisão foram definidos segundo o modelo PICO : População – Adultos (> 18 anos );
Revista de Medicina Desportiva informa março 2021 · 13