Revista de Medicina Desportiva Março 2021 Março, 2021 | Page 10

informação estatística podesse ser consultada e assim aumentar o seu grau de sensibilização e de responsabilização . Já agora , poder-se-ia incluir informação breve sobre a nutrição , o sono e antidopagem , por exemplo . Crie-se o manual do atleta . Por outro lado , inscrever o filho no clube desportivo é também um ato de confiança . Confia-se que o clube dará boas instalações , equipamento e treinadores para a melhor prática desportiva no sentido da qualidade e do rendimento . Confia-se que terá um apoio médico adequado na prevenção ( exame médico-desportivo – EMD , por exemplo ) e no tratamento das lesões , confia-se que as viagens serão seguras e as refeições adequadas . Confia-se ... ou não se quer saber . O mais importante , o que dá mais visibilidade e vaidade são outros aspetos . Paco Chacón refere que “ muitos pais compram chuteiras por 120 euros para os seus filhos , mas não fazem os testes deste tipo que salvam vidas e custam 30 ”. No WhatsApp , o grupo Medicina Desportiva Portugal lamentou as ocorrências fatídicas e comentou também a aparente desvalorização do primeiro passo para a prática desportiva : o exame médico-desportivo . Um médico referiu que “ continua a desvalorização dos cuidados médicos preventivos no desporto . Ficam com fisioterapeutas nos clubes e acham que basta . Estes casos têm de ser aproveitados para reforçar a importância do EMD ”, o que mereceu a resposta de outro médico bastante mais experiente : “ Totalmente de acordo . Estou farto de ver fazerem o exame médico- -desportivo a 20 jogadores em 2-3 horas , só com tira de urina , sem história clínica , sem exame objetivo e sem exames complementares ”. Contudo , é preciso ter cuidado , pois refere um outro médico que “ o pior é que esta malta não tem noção que , mesmo fazendo tudo direito , o risco não é zero !” E pergunta : “ Quando é que os clubes irão entender a importância de um EMD bem executado e com os ECD necessários e adaptados à exigência desportiva ?” Outro colega concorda , pois há “ casos em alta competição que morrem no exercício de funções e que estavam exaustivamente estudados ...” Mas se o risco médico
da prática desportiva não é nulo , então é necessário implementar planos de contingência para atuação imediata na eventualidade destas ocorrências . Um médico já com muita experiência no futebol profissional tem uma sugestão estruturante : “ Acho que nestas situações deveríamos tentar perceber se o jogador teve todos os cuidados médicos no imediato . Equipas de intervenção de emergência nestes jogos é crucial . Poderia ser o suficiente para salvar esta vida ( claro que estou a falar sem saber se o atleta teria alguma patologia cardíaca ). Acho fundamental apetrechar os clubes de condições de emergência médica nos jogos ”, o que é corroborado por um médico cardiologista desportivo , que refere que “ além de ser importante uma avaliação pré-competitiva adequada é crucial um apoio de emergência adequado .” Morreram atletas que apenas faziam o que gostavam , praticar desporto de competição . As causas e todos os aspetos operacionais em torno deles serão apurados e certamente que algumas conclusões e responsabilizações surgirão . Não voltaremos a ver estes atletas a sorrir e a encantar com as suas jogadas e com o seu convívio . Esperemos que as suas mortes não tinham sido em vão , foi “ uma infeliz notícia , mas que deve servir de alavanca para a sensibilização da sociedade e para a mudança do paradigma ”.
(*) https :// www . noticiasaominuto . com / desporto / 1661050 / apos-morte-de-joga- dor-do-alverca-soam-campainhas-em- -espanha
Professor Doutor Hélder Dores Cardiologista desportivo
A morte súbita em atletas é um evento trágico com enorme impacto social . Embora já seja tarde , este problema deve ser encarado como prioritário pelas entidades responsáveis , garantindo : 1 . Avaliação pré-competitiva adequada – realizada por profissionais com diferenciação , sobretudo na interpretação do ECG ; 2 . Recintos desportivos ‘ cardio-protegidos ’ – disponibilidade de desfibrilhação e formação dos profissionais , desde atletas ao staff de retaguarda . Apesar do risco ‘ não ser zero ’ é possível salvar mais vidas .
Dr . José Pedro Marques Presidente do Colégio de Medicina Desportiva da Ordem dos Médicos
Os casos recentes de morte súbita no desporto nacional fazem com que os holofotes mediáticos incidam de novo sobre este tema . Que o momentum seja aproveitado pelos agentes desportivos para refletirem se fazem tudo ao seu alcance para evitar estes episódios dramáticos , alocando os recursos necessários para uma avaliação pré-participação adequada e uma rápida e eficaz resposta em caso de emergência .
Dra . Beatriz Marinho Presidente da Associação de Médicos Internos de Medicina Desportiva
Urge refletir para a necessidade da formação e educação dos agentes desportivos e atletas . Na minha opinião , é essencial a educação em cuidados básicos de saúde e suporte básico de vida destes grupos , visto que na grande maioria das vezes serão os primeiros ( e únicos !) a assistir primariamente uma paragem cardiorrespiratória ou outro evento major .
8 março 2021 www . revdesportiva . pt