Revista de Medicina Desportiva Maio | Page 29

Tema 2

Rev . Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 3 ): 27-29 . https :// doi . org / 10.23911 / Osgood-Schlatter _ 2022 _ mai

Doença de Osgood-Schlatter : do Diagnóstico ao Tratamento

Dr . Francisco Couto Valente , Ft . Rogério Pereira , Prof . Dra . Cristina Valente , Ft . Renato Andrade , Prof . Dr . João Espregueira-Mendes Clínica Espregueira – FIFA Medical Centre of Excellence
RESUMO / ABSTRACT
A doença de Osgood-Schlatter é uma apofisite de tração da tuberosidade anterior da tíbia . É uma doença autolimitada , tendo a sua resolução em até 90 % dos pacientes com tratamento conservador . A etiologia é desconhecida , não obstante da observação clínica do papel do stress mecânico do aparelho extensor do joelho na exacerbação dos sintomas . A frequência é maior no sexo masculino , entre os 10 e os 15 anos de idade e na população fisicamente ativa . A clínica revela dor anterior no joelho , com ou sem edema , que pode ser unilateral ou bilateral . O diagnóstico é clínico e o exame complementar a solicitar é a radiografia com duas incidências ( frente e perfil ). O tratamento suporta-se na modulação da dor e na gestão quantitativa e qualitativa de carga . A intervenção cirúrgica tem indicação em casos pouco frequentes .
Osgood-Schlatter disease is a traction apophysitis of the anterior tibial tuberosity . It is a selflimiting disease , with resolution in up to 90 % of patients with conservative treatment . Its etiology is unknown despite clinical observation of the role of mechanical stress on the knee extensor apparatus in exacerbating symptoms . It occurs more commonly in males , between 10 and 15 years old and in physically active population . Its clinics reveals anterior knee pain with or without oedema , which can be unilateral or bilateral . Its diagnosis is clinical , and the main complementary exam is a radiography with two incidences ( face and profile ). The treatment is based on pain control , and quantitative and qualitative management of the work loads . Surgery is recommended only in rare cases .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Osgood-Schlatter , apofisite , stress mecânico Osgood-Schlatter , apophysitis , mechanical stress
Definição
A doença de Osgood-Schlatter , ou osteocondrose da tuberosidade anterior da tíbia ( TAT ), é uma apofisite de tração que se caracteriza pela avulsão parcial ou fragmentação da apófise da tuberosidade anterior da tíbia . Esta é provocada pela tração contínua exercida pelo aparelho extensor do joelho . 1
Epidemiologia
Ocorre com maior frequência no sexo masculino , na faixa etária compreendida entre os 10 e 15 anos de idade e na população fisicamente ativa , afetando aproximadamente 10 % dos adolescentes . 2 O stress mecânico repetido e a hipersolicitação ao nível da interface tendão- -osso parece ser um denominador comum às apofisites de tração que se verificam em pré-adolescentes e adolescentes , particularmente em circunstância de um sistema esquelético geralmente imaturo . 3
Etiologia & fisiopatologia
A etiologia é desconhecida , contudo existem estudos que associam esta patologia a algumas variações que aumentam a força de tração no aparelho extensor sobre a tuberosidade anterior da tíbia : pés em pronação , joelhos valgos e em rotação medial e patela alta . Os fatores predisponentes incluem pouca flexibilidade dos músculos quadricípite e isquiotibiais e outras evidências de desalinhamento do mecanismo extensor . 4 , 5
Os movimentos característicos do futebol , basquetebol e outros desportos , além do grande volume de exercício físico comumente praticado pela população dessa faixa etária , são fatores predisponentes ao surgimento da doença de Osgood Schlatter . Além disso , fatores anatómicos , como a patela alta e o encurtamento músculo reto femoral , predispõem ao surgimento da patologia . 6
A condição é autolimitada , tem um início insidioso e ocorre secundariamente a atividades repetitivas que implicam um stress mecânico de tração exercido na TAT pelo aparelho extensor do joelho ( p . e ., saltar , rematar , acelerar , mudanças de direção , etc ). O tendão rotuliano insere-se proximalmente no ápex da rótula e distalmente na TAT que , de acordo com a classificação de Ehrenborg e Lagergren , inclui tecido cartilaginoso nas três primeiras fases : fase C – cartilaginosa ; fase A – apofiseal ; e fase E – epifiseal . A ossificação da TAT , assim como a maturidade esquelética , ocorre mais precocemente nas raparigas do que nos rapazes . Se aos 14 anos praticamente metade das raparigas estão na fase B ( óssea ), nos rapazes menos de 15 % alcançam a maturidade esquelética nessa idade .
É durante o período de imaturidade esquelética que a doença de Osgood Schlatter se desenvolve e suporta a sua definição . Perante esta indexação ao tempo e à circunstância dos processos de crescimento e maturação , interessa ponderar quando avaliamos raparigas ou rapazes face à importância do diagnóstico diferencial e às evidências relacionadas com incidência de lesões em períodos específicos dos processos referidos . 7 De particular importância , e que pode implicar no diagnóstico diferencial , é a recomendação para conhecer e ponderar a variação da incidência de lesões emparelhadas com os diferentes estados de maturação . A teoria predominante é que a tração repetida sobre a TAT leva a lacerações microvasculares , fraturas e inflamação , o que origina edema , dor e diferentes níveis de incapacidades motoras . 8
A TAT desenvolve-se como um centro de ossificação secundário que fornece fixação para o tendão rotuliano . O crescimento ósseo excede a capacidade da unidade musculotendiniosa de se estender o suficiente para manter a flexibilidade anterior , levando ao aumento da tensão na apófise . A fise é o ponto mais fraco na fixação músculo-tendão-osso ( em oposição ao tendão em um adulto ) e , portanto , fica em risco de lesão
Revista de Medicina Desportiva informa maio 2022 · 27