Caso clínico 4
Rev . Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 3 ): 21-23 . https :// doi . org / 10.23911 / Pneumomediastino _ 2022 _ mai
Pneumomediastino num Jovem Atleta
Dr . Fernando Andrade Silva 1 , Dr . Manuel Vaz 2-4 , Dr . José Carlos Carneiro 2 , 3
1
Interno Formação Específica em Medicina Geral e Familiar – USF S Tomé , ACeS Santo Tirso / Trofa ;
2
Assistente Hospitalar de Pneumologia – Centro Hospitalar do Médio Ave ( CHMA ), EPE ; 3 Especialista em Medicina Desportiva ; 4 Centro de Medicina Desportiva de Guimarães ( CMAD )
RESUMO / ABSTRACT
O pneumomediastino espontâneo ( PME ) é uma patologia que se define como o vazamento não traumático de ar para o mediastino em indivíduos sem doença pulmonar de base . É uma entidade rara que se manifesta predominantemente em jovens adultos , sendo pouco comum o seu diagnóstico em idade pediátrica . Este caso clínico refere-se a um adolescente de 13 anos de idade , do sexo masculino , previamente saudável , que sentiu toracalgia um dia após uma sessão de atividade física intensa . O exame objetivo revelou crepitação subcutânea e a radiografia torácica sinais de pneumomediastino extenso . Encontrando-se estável e assintomático , teve Alta após dois dias de internamento . Far-se-á , também , uma revisão desta patologia no atleta jovem .
Spontaneous pneumomediastinum ( SPM ) is a disease that is defined by the non-traumatic leakage of air to the mediastinum in subjects without previous pulmonary disease . It is a rather rare entity which manifests predominantly in young adults being less common its diagnostic in pediatric age . The following case is about a 13-year-old male , previously healthy , that develops precordial pain a day after a strenuous physical exercise session . His physical examination includes palpable crepitus and chest radiography shows signs of extensive SPM . Being stable and asymptomatic , he was discharged after 2 days in the hospital . A review of the literature on this pathology will be also made .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Pneumomediastino , atleta , sinal de Hamman , toracalgia , enfisema subcutânea Pneumomediastinum in athlete , Hamman ’ s sign , precordial pain , subcutaneous emphysema
Caso clínico
Trata-se de um adolescente do sexo masculino , com 13 anos de idade , sem antecedentes pessoais e familiares relevantes e com o programa nacional de vacinação atualizado , incluindo vacina anual da gripe e COVID-19 .
Havia sido encaminhado ao Serviço de Urgência ( SU ) por toracalgia despoletada por sessão de atividade física intensa ( atletismo e futebol ) no dia anterior . O adolescente caracterizava a dor como sendo em moedeira , na região precordial e com irradiação cervical . Descreveu agravamento progressivo provocado por inspiração profunda , interferindo com a qualidade do sono durante a noite anterior e alívio parcial com repouso . Negou dispneia , sibilância , palpitações , tonturas , cefaleias , suores ou dor abdominal , mas referiu tosse seca sequelar a infeção do trato respiratório superior resolvida 3 semanas antes . À admissão , o doente aparentava bom estado geral , sem síndrome de dificuldade respiratória e com sinais vitais normais . A auscultação cardíaca e pulmonar e o exame neurológico eram normais . O exame objetivo revelou crepitação subcutânea indolor na região cervical proximal e abertura superior do tórax . No SU realizou ECG ( normal ) e teleradiografia do tórax , o qual revelou “... pneumomediastino extenso ... enfisema subcutâneo que se estende para a região cervical . Como achado na radiografia a presença de ar no canal medular ( pneumoraquis )”. Posteriormente , a TC revelou “... ar no espaço pleural e enfisema subcutâneo .”.
O adolescente foi admitido no hospital para vigilância clínica e tratamento sintomático . Após dois dias de internamento , encontrando- -se estável e assintomático , teve Alta médica com consulta de reavaliação agendada para a semana seguinte .
Patofisiologia
O pneumomediastino espontâneo ( PME ) é uma entidade que se manifesta predominantemente em jovens adultos , sendo raro o seu diagnóstico em indivíduos de idade pediátrica . O mecanismo fisiológico que mantém a integridade das paredes alveolares pressupõe um equilíbrio de pressões entre alvéolos adjacentes . 2 O requisito chave para desenvolvimento da patologia é a existência de um gradiente de pressão entre alvéolos e estruturas contíguas . Os fatores precipitantes que se associam à realização voluntária ou involuntária da manobra de Valsalva ( tabela 1 ) geram um gradiente de pressão intra-alveolar que condiciona hiperdistensão alveolar , acabando por resultar na sua rutura . 2 O desenvolvimento de um PME após rutura alveolar requer ciclos contínuos de respiração forçada de forma a que ar seja direcionado a favor do gradiente 2 , i . e . para áreas de menor pressão , como o mediastino . Chegando ao mediastino , o ar acumulado pode vazar para os tecidos cervicais e subcutâneos e menos comummente para o canal medular ou região retroperitoneal . 2 Se a pressão dentro do mediastino aumentar subitamente ou a descompressão através destas vias não for suficiente para aliviar a tensão , a pleura parietal mediastínica pode lacerar , resultando em pneumotórax .
Etiologia respiratória Etiologia gastrointestinal Outros Asma Vómitos Prática desportiva Fibrose quística Síndrome Boerhaave Convulsões
Infeção do trato respiratório superior e inferior
Perfuração gástrica
Trabalho de parto
Aspiração de corpo estranho Perfuração retal Doenças reumatológicas
Inalação de hélio , drogas e gases irritantes
Provas funcionais respiratórias
Revista de Medicina Desportiva informa maio 2022 · 21