Revista de Medicina Desportiva Maio | Page 21

com o agachamento no ângulo póstero-externo . Refere que nunca teve derrame articular ou sensação de instabilidade . Repetiu a RMN três meses depois , a qual foi novamente normal . Foi reavaliado e colocada a possibilidade de ( sub- ) luxação do menisco , tendo sido referenciado para ortopedia , que manteve a suspeita clínica inicial e o orientou para cirurgia artroscópica . No ato cirúrgico foi constatada a rotura dos ligamentos meniscopoplíteos , com rotura contígua do muro meniscal , tendo sido realizada sutura do menisco externo na zona do hiato poplíteo .
Fisioterapia
A fase de reabilitação foi dividida em 3 fases : proteção , reabilitação funcional e retorno à atividade . A fase de proteção ( 6 semanas após cirurgia ) teve maior foco no controlo da dor / edema , mobilização patelar , manutenção da extensão do joelho e treino de controlo neuromuscular do quadricípite . A progressão da amplitude de movimento foi limitada a flexão a 70 ° até à 3 ª semana , 90 ° até à 6 ª. O fortalecimento dos isquiotibiais foi evitado nesta fase . Durante esta fase realizou marcha com auxilio de duas canadianas sem carga do membro operado .
Os critérios da progressão para a fase de reabilitação funcional ( 6 ª à 12 ª semana ) incluíram amplitude de movimento passiva de 90 °, ausência de derrame articular e controlo neuromuscular do quadricípite . Iniciou o retorno gradual a marcha sem canadianas . Esta fase teve como foco o fortalecimento em cadeia cinética fechada , incluindo agachamento acima dos 90 ° de flexão , lunges e step-ups , bem como treino sensório-motor em apoio unipodal . O fortalecimento dos isquiotibiais foi iniciado nesta fase .
A fase de retorno à atividade ( 12 ª à 16 ª semana ) teve como foco o aumento do controlo neuromuscular e o fortalecimento muscular , tendo sido iniciado o fortalecimento em cadeia cinética aberta . Iniciou-se , também , o retorno gradual à corrida e progressivamente o retorno à atividade desportiva especifica .
Os critérios para retoma à atividade desportiva utilizados foram os seguintes :
• Força muscular do quadricípite e isquiotibiais > 90 % que o lado contralateral
• Défice no rácio de força muscular quadricípite / isquiotibiais < 10 %
• Diferença Hop tests < 10 % do lado contralateral
• Diferença Y-teste < 10 % do lado contralateral
• Diferença de salto vertical < 10 % do lado contralateral
• Questionário IKDC = 100 .
Em início de agosto , com 10 semanas de evolução , iniciou treinos individuais na praia , mas mantinha dores com a realização de alguns movimentos e com a flexão em carga do joelho . Realizou RMN de controlo em 12 / 8 / 2020 que revelou : “..., assinalando-se apenas a nível do corno posterior , ligeira heterogeneidade na interface do menisco externo , no seu corno posterior com o tendão do poplíteo , admitindo-se ligeiro tecido granulação nesta topografia , mas sem sinais de rotura dos ligamentos meniscopoplíteos superior e inferior .” Foi aconselhado a manter a reabilitação por mais 4 semanas sem treino de futebol de praia . Posteriormente realizou o 1 º treino às 15 semanas e o 1 º jogo oficial às 16 semanas após a cirurgia , respetivamente .
Discussão
A rotura ligamentar de suporte do menisco externo no ângulo póstero- -externo e a subluxação recidivante do menisco são entidades clínicas raras e de difícil diagnóstico , não esclarecidas pelo exame físico e a RMN 4 , 5 , podendo atrasar o diagnóstico até dois anos . 6 Os estudos de Jun Suganuma et al sugerem que a instabilidade rotatória interna do joelho fletido pode ser considerada um fator de risco e também um elemento de diagnóstico de subluxação recorrente do menisco externo . 8
No sentido de melhorar a eficácia clínica no diagnóstico das roturas dos FPM , Robert F LaPrade et al verificaram a validade do teste em Figura-4 ( Figura 2 ), o qual coloca o joelho em flexão , varus e rotação externa e é realizado com o paciente em supino . Deve ser comparado com o teste realizado no membro contralateral e verificar se há replicação dos sintomas . Os autores referem que se os FPM estiverem rotos , a ansa periférica normal de tensão no menisco externo falha , o que poderá resultar no deslocamento medial do menisco para a articulação . Os seis doentes testados tiveram replicação dos sintomas com este teste e tinham hipermobilidade do menisco externo , por rotura dos FPM na observação artroscópica , tendo os autores concluído pela utilidade deste teste neste contexto . Referem , ainda , a ausência de positividade deste teste para outras patologias no compartimento lateral e a necessidade da realização de estudos com mais doentes para documentar a eficácia diagnóstica deste teste . 4
Figura 2 – O teste em Figura-4 realizado com o doente em supino 4
A apresentação clínica inicial é o bloqueio articular bastante doloroso que ocorre com a flexão do joelho a 90 ° 9 , decorrente da subluxação do menisco externo com roturas periféricas à volta do hiato poplíteo do menisco externo . 10 Já em 2003 Michael George et al referiram que a subluxação ou a luxação do menisco externo intacto era controversa e raramente referida como causa de dor ou de bloqueio no joelho . 11 Embora rara , está descrita também a luxação do corno anterior do menisco medial , causadora de dor na interlinha articular ântero- -medial , tendo os autores obtido excelentes resultados após a sutura em três dos quatro doentes operados . 12 Também está descrita a bilateralidade da subluxação permanente do menisco externo . 13 Os múltiplos episódios de bloqueio do joelho em flexão máxima , numa criança de 9,5 anos , puderam ser explicados pela luxação anterior do
Revista de Medicina Desportiva informa maio 2022 · 19