Revista de Medicina Desportiva Maio | Page 10

Tema 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 3 ): 8-10 . https :// doi . org / 10.23911 / Pessoa _ Deficiente _ 2 _ 2022 _ mai

Elementos de Traumatologia no Desporto Adaptado

Dr . João Santos-Faria 1 , Dra . Lurdes Rovisco Branquinho 1 , Dra . Joana Pinheiro 2 , Prof . Doutor João Páscoa
Pinheiro 3 , 4 1
Interno de Formação Específica de Medicina Física e de Reabilitação ( MFR ) no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra ( CHUC ); 2 Interna de Formação Específica de Ortopedia no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte ; 3 Médico , assistente graduado sénior em MFR , especialista em Medicina Desportiva ; 4 Professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
A prática de desporto tem benefícios no atleta com deficiência . A participação de atletas no desporto adaptado tem aumentado nos últimos anos . Este aumento trouxe novos desafios , nomeadamente no que concerne ao número e à especificidade da lesão . O tipo de modalidade e de deficiência vai condicionar um risco traumático distinto . O conhecimento da clínica da doença ativa e da deficiência específica orienta a intervenção do médico no tratamento e na prevenção . Os autores apresentam a epidemiologia , os mecanismos de lesão e a abordagem terapêutica no desporto adaptado .
Adapted sports participation has benefits for athletes with disabilities . The number of participants has increased in recent years . As participation has increased , new challenges have emerged , regarding the number and specific injuries of this group of patients . The risks of trauma vary depending on the sports played as well as the type of disability . Knowledge of the clinical aspects of injury and the deficiency is essential for medical intervention regarding treatment and prevention . The authors aim to review the epidemiology , injury mechanisms , and therapeutic approach in the setting of adapted sports .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Desporto adaptado , deficiência , lesão desportiva Adapted sports , disability , sports injury
Introdução
A Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência define o desporto adaptado como Toda a atividade física que promove a integração de todas as pessoas com deficiência na sociedade . 1 A participação de atletas no âmbito do desporto adaptado continua a ganhar popularidade com o aumento em todos os escalões competitivos e a transição da prática recreativa para a competição . A prática desportiva acarreta um risco inerente de lesão , tanto micro como macrotraumática . As especificidades das lesões associadas ao desporto adaptado são determinadas pelas características intrínsecas dos atletas , particularmente as suas deficiências , pela coexistência de morbilidades e pela especificidade da modalidade em termos de prevalência , tratamento e prevenção . 2 , 3 O desporto adaptado é também observado como um processo ativo de reabilitação , promovendo a participação do indivíduo e funcionando como um elemento de inclusão .
Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão da epidemiologia , dos mecanismos lesionais e abordagem terapêutica no desporto adaptado .
Epidemiologia
Os dados relativos à epidemiologia da traumatologia em atletas com deficiência são limitados e condicionados por diversos fatores , nomeadamente a documentação inconsistente e pouco frequência das lesões .
Nos Jogos Paralímpicos participam cinco principais síndromes clínicos :
• a lesão vertebro-medular ( LVM )
• os amputados
• a doença motora cerebral
• a deficiência visual
• a deficiência cognitivo-comportamental . A prevalência de lesões varia consoante o tipo de deficiência , sendo que os doentes amputados são os que têm descrito maior prevalência de lesão ( cerca de 50 %). Um estudo realizado no basquetebol em cadeira de rodas ( CR ) identificou 48 lesões durante uma época , com 50 % das mesmas a corresponderem a lesões de overuse , agudização de lesão prévia ou recidiva . Dessas lesões , cerca de 33 % levaram à interrupção da prática desportiva . Adicionalmente , foi identificada uma diferença entre géneros relativamente ao mecanismo da lesão : no género masculino há maior incidência de lesões de contacto com outro atleta , enquanto no género feminino , a maioria das lesões corresponde a contacto com objetos em movimento . 4 Em termos de localização anatómica , um estudo realizado no Campeonato do Mundo de 2018 de Basquetebol em CR ( figura 1 ) mostrou uma maior incidência de lesões nas regiões cervical , dorsal e ombro ( 45 % do total de lesões reportadas ). 5 Um estudo realizado nos Jogos Paralímpicos de Inverno de 2018 identificou três lesões moderadamente graves ( 8 a 28 dias de interrupção de prática desportiva ) e três lesões graves ( 28 dias a 6 meses de interrupção ) que ocorreram durante a prática de para alpine skiing , para snowboard e para hóquei no gelo . Em termos de localizações anatómicas , incluíam o joelho ( lesão do ligamento cruzado anterior ), ombro ( fratura e deslocamento ), tornozelo ( entorse e fratura ) e punho ( fratura ). Todas as lesões decorreram de traumatismo direto sem contacto com outro atleta . 6 O risco associado aos desportos paralímpicos é variável , ainda que esta classificação não seja consensual entre estudos ( tabela 1 ).
Tabela 1 – Classificação de risco associado aos desportos paralímpicos proposta por Ferrara et al . 3
Baixo risco Atletismo
Boccia Esgrima Goalball
Levantamento de peso
Natação Ténis Ténis de mesa Tiro Tiro com arco Vela
Alto Risco
Basquetebol em cadeira de rodas
Ciclismo Futebol Hipismo
Râguebi em cadeira de rodas
8 maio 2022 www . revdesportiva . pt