Revista de Medicina Desportiva Maio | Page 30

por esforço repetitivo . Com a contração repetida da massa muscular do quadricípite , especialmente com a extensão forçada repetida do joelho , pode ocorrer avulsão parcial do centro de ossificação apofisária , resultando em osteocondrite . Isto verifica-se com maior frequência em desportos com protagonismo da corrida , salto , mudança de direção , remate e outros . 3 , 8
A associação entre a carga de treino e os sintomas da doença de Osgood-Schlatter nem sempre se verifica . O prognóstico tende a ser bom a excelente apesar de casos recalcitrantes e de resolução longa ou incompleta .
Quadro clínico
A clínica clássica tende a ser reportada como de início insidioso , com dor localizada na face anterior no joelho , com ou sem edema e que pode manifestar-se unilateral ou bilateralmente . A dor geralmente melhora com o repouso absoluto ou seletivo : reduzir e / ou abolir a carga de movimentos de risco e diminuir minutos / horas após a descontinuidade da atividade ou desporto incitante . Uma proeminência aumentada pode estar presente , com sensibilidade sobre o local de inserção do tendão rotuliano . No contexto do exame físico e / ou de manobras provocatórias , a dor pode ser reproduzida por extensão contra resistência do joelho e flexão ativa ou passiva do joelho . 5 , 8 , 9
Exames complementares de diagnóstico
A doença de Osgood-Schlatter tem um diagnóstico essencialmente clínico . A avaliação radiográfica geralmente não é necessária . Radiografias simples podem ser usadas para descartar outros diagnósticos , como fratura , infeção ou tumor ósseo , se a apresentação for grave ou atípica . A avaliação radiográfica também pode ser indicada para avaliar lesão por avulsão da apófise ou outras lesões após um evento traumático . Os achados radiográficos clássicos na doença de Osgood-Schlatter incluem a TAT elevada , com edema de tecidos moles , fragmentação da apófise ou calcificação no tendão rotuliano na sua extremidade distal ( figura 1 ). Importa notar que os achados referidos também podem ser vistos como variantes normais e nem sempre representam patologia , por isso a correlação clínica é determinante para a afirmação diagnóstica da doença de Osgood-Schlatter . Quando é solicitada a realização de radiografia , deve ser considerada a comparação de imagens bilaterais para delinear o estado normal versus anormal dentro de cada paciente . 8 , 10
Figura 1 – Radiografia de perfil do joelho http :// javiergalvanpt . blogspot . com / 2016 / 02 / sindrome- -de-osgood-schlatter . html
A ressonância magnética pode identificar cinco estágios da doença : normal , precoce , progressiva , terminal e cicatrização . O estágio normal não revela alterações na ressonância magnética , embora o paciente seja sintomático . A ressonância magnética mostra sinais de inflamação na área do centro de ossificação secundária . A fase progressiva revela avulsão parcial da cartilagem ao nível do centro de ossificação secundário . A fase terminal mostra ossículos separados e a fase de cicatrização pode ser definida como cicatrização óssea sem ossículos separados ao nível da TAT . 11
A ecografia do tendão rotuliano pode diferenciar três estágios da doença com base nos seguintes critérios : presença ou ausência de grande região anecoica , presença ou ausência de ossículos e irregularidade da superfície apofisária . O estágio 1 ( inserção da cartilagem ) é caracterizado por uma grande região anecoica ( cartilagem apofisária ), com ou sem ossículos . O estágio 2 ( cartilagem de inserção ) mostra a fixação das fibras de colagénio na superfície óssea , com uma fina camada anecoica de cartilagem . O estágio 3 representa a fixação madura das fibras de colagénio na superfície óssea . 11
Diagnóstico diferencial
Em todos os pacientes jovens , praticantes de exercício físico que apresentem gonalgia , de início gradual , com agravamento durante e após a prática de exercício físico , seja unilateral ou bilateral , devem ser considerados , além da doença de Osgood Schlatter , os seguintes diagnósticos : síndrome Sinding-Lansen-Johansson , síndrome de Hoffa , fratura da TAT , tumores ósseos , tendinopatia rotuliana , osteomielite da tíbia , doença de Perthes , lesão da plica sinovial e apofisite infeciosa . 12
Tratamento
Reitera-se que a condição é autolimitada , mas que pode persistir por dois anos até à fusão da apófise . Opta-se inicialmente pelo tratamento conservador , onde se obtém uma resposta positiva em cerca de 90 % dos pacientes . 13 Uma combinação de modificação da atividade , terapias passivas e programa de exercícios terapêuticos parecem constituir um algoritmo seguro e eficaz para a gestão clínica da doença de Osgood-Schlatter . O tratamento inclui repouso relativo e modificação da atividade física , conforme guiado pelo nível de dor . Não há evidências que sugiram que o repouso acelere a recuperação , mas a restrição de atividade é eficaz na redução da dor . Os pacientes podem praticar desporto desde que a dor resolva com repouso e não limite as atividades associadas ao desporto . A aplicação local de gelo e medicação anti-inflamatória não esteroide pode ser usada para alívio da dor . Uma ortótese protetora
28 maio 2022 www . revdesportiva . pt