Revista de Medicina Desportiva Julho 2020 - Page 20
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(4):18-20. https://doi.org/10.23911/tendinop_ombro_2020_julho
Anátomo-fisiologia
Tema 3
Tendinopatia da Coifa
dos Rotadores. Revisão e
Atualização de Conceitos
Dr. André Duarte
Interno de Medicina Física e de Reabilitação, Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Centro
Hospitalar e Universitário de São João, Porto.
RESUMO / ABSTRACT
A tendinopatia da coifa dos rotadores é uma causa frequente de dor, fraqueza muscular
e incapacidade funcional. Grande parte da investigação científica tem-se focado na
compreensão da sua etiopatogenia, o que promoveu o aparecimento de novas estratégias
de abordagem da doença. Verifica-se pobre correlação clínica e imagiológica, sendo
o mecanismo da grande variabilidade da dor ainda pouco compreendido. Globalmente, o
tratamento passa por educação do doente, controlo álgico, recuperação de amplitudes articulares,
reeducação do ritmo escapulo-umeral, fortalecimento muscular, treino de controlo
neuromuscular e retorno à atividade laboral/desportiva.
Rotator cuff tendinopathy is a frequent cause of pain, muscle weakness and functional disability.
Much of the scientific research has focused on understanding its etiopathogenesis, which has led to
the emergence of new disease management strategies. There is a poor clinical and imaging correlation,
and the mechanism of great pain variability is still poorly understood. In general terms, the
goals of conservative treatment include patient education, pain control, recovery of joint amplitudes,
scapulohumeral rhythm reeducation, muscular strengthening, neuromuscular control training and
return to work / sports.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Tendinopatia da coifa dos rotadores, tendinopatia da coifa dos rotadores.
Rotator cuff tendinopathy, rotator cuff tendinopathy.
Introdução
É globalmente aceite que a tendinopatia
da coifa dos rotadores é causa
frequente de dor, fraqueza muscular
e incapacidade funcional. Atualmente,
permanece um tema de
interesse da comunidade científica,
sendo que a investigação se tem
focado no esclarecimento da sua
fisiopatologia e tratamento.
Em termos estruturais, o tendão é
constituído por inúmeras miofibrilas
de colagénio que se organizam progressivamente
em fibras, subfascículos
e fascículos, sendo envolvidos
por camadas de tecido conjuntivo. A
sua microestrutura varia mediante a
sua localização relativa. Ao nível do
corpo do tendão este é constituído
essencialmente por colagénio tipo
I (~60%), proteoglicanos e glicoproteínas,
ao passo que ao nível da sua
inserção este é constituído por colagénio
tipo I, II, III, IX, XI, proteoglicanos
e glicoproteínas. Em resposta às
forças que se geram entre o músculo
e o osso, o tendão vai-se adaptando
e modificando e a partir de certo
limiar fragiliza-se, deteriora-se e
rompe em virtude da perda das suas
qualidades mecânicas.
O tendão patológico caracteriza-se
por separação das fibras de colagénio,
aumento da substância fundamental,
modificação da morfologia
celular com alteração do número
de mitocôndrias e fenómenos de
neovascularização. O facto de raramente
se encontrarem células inflamatórias
no tendão patológico levou
a que a denominação da entidade
clínica fosse alterada para tendinopatia,
ao invés da habitual tendinite.
No entanto, mediadores inflamatórios,
como citocinas, metaloproteinases
e outros fatores de crescimento,
estão envolvidos na sua patogénese.
A regeneração total do tendão patológico
é rara, sendo mais frequente
a reparação cicatricial com perda de
algumas propriedades.
A coifa dos rotadores é constituída
por quatro músculos:
• O supraespinhoso e o infraespinhoso,
inervados pelo nervo
supraescapular
• O pequeno redondo, inervado pelo
nervo axilar
• O subescapular, inervado pelo
nervo subescapular superior e
inferior.
Em termos funcionais individuais,
o músculo supraespinhoso atua
como abdutor do ombro, os músculos
infraespinhoso e pequeno
redondo atuam como rotadores
externos e o subescapular como
rotador interno. Globalmente, estes
músculos atuam em conjunto, dando
estabilidade dinâmica à articulação
glenoumeral, através da coaptação
da cabeça do úmero/cavidade
glenoide. O arco coracoacromial,
constituído pela extremidade lateral
do acrómio, ligamento coracoacromial
e processo coracoide, funciona
como teto da articulação glenoumeral.
No adulto saudável, a distância
entre a superfície inferior do arco e a
cabeça umeral é de cerca de 1cm. O
espaço subacromial contém o tendão
e o músculo supraespinhoso, a bursa
subacromial, o tendão da longa porção
do bicípite braquial e a porção
superior da cápsula articular.
Incidência
A incidência exata desta patologia
permanece ainda desconhecida.
Um grande estudo epidemiológico
levado a cabo no Reino Unido, em
2014, revelou uma incidência de 87
por 100000 pessoas – ano, sendo mais
comum no género feminino. 1 A maior
incidência, de 198 casos por 100000
pessoas – ano, verificou-se em indivíduos
com idades compreendidas
entre os 55 e os 59 anos. Os grupos
socioeconómicos mais desfavorecidos
apresentavam incidência superior.
Fatores predisponentes
Existe alguma controvérsia no que diz
respeito aos fatores que predispõem
a tendinopatia no geral e sobre qual
o seu peso relativo na fisiopatologia.
É, no entanto, aceite que existem
18 julho 2020 www.revdesportiva.pt