Revista de Medicina Desportiva Julho 2020 - Page 18
progestagénico, dado que a dose de
estrogénio foi constante, a interação
entre as duas hormonas não pode
ser excluída. 2,14,15
Composição corporal
O aumento de massa gorda pode afetar
negativamente a performance ao
diminuir a velocidade e a agilidade,
além do componente estético. Apesar
de algumas atletas referirem ganho
ponderal com COC, a literatura mostra
resultados pouco consistentes.
Estes contribuem para a diminuição
de hormonas reprodutivas endógenas,
levando a diminuição da taxa
metabólica, aumento de gordura
visceral, aumento de hormonas estimulantes
do apetite e redução das
hormonas saciantes. A combinação
destes fatores sugere ganho ponderal
com COC, no entanto tal não foi
demonstrado em atletas. 3
Consumo de oxigénio (O 2
)
O pico de consumo de oxigénio
(VO 2
max) é considerado o padrão
para avaliar a capacidade de exercício
aeróbio, o qual pode variar na
mulher devido à influência das hormonas
ováricas no volume sistólico,
ventilação por minuto, capacidade
de transporte de O 2
, fluxo sanguíneo
e utilização muscular de O 2
. Embora
a flutuação hormonal endógena ao
longo do ciclo menstrual não pareça
afetar o VO 2
max, a administração de
baixas doses de estrogénio e progesterona
parecem ter influência,
levando à diminuição da capacidade
de exercício máximo, em mulheres
jovens moderadamente ativas, valor
este menos significativo em atletas
de competição. 16 Estudos recentes
referem não haver efeito significativo
dos COC no consumo de O 2
em
atletas, no entanto outras variáveis
podem influenciar os resultados: uso
de diferentes formulações de COC
ou a diferença do status físico das
participantes. 2,3,17
Conclusão
Avaliar o efeito dos contracetivos
na performance desportiva não é
fácil, existem poucos estudos, alguns
contraditórios e bastante heterogéneos.
Além disso, existem diferenças
significativas no progestativo usado,
nas doses e atividade androgénica.
Em relação à composição corporal,
as atletas respondem de forma
diferente em relação à restante
população, treinam frequentemente
e monitorizam cuidadosamente a
alimentação. Em relação à massa
muscular a frequência e carga
do exercício diário estimulam o
anabolismo muscular. Pode haver
interações entre os efeitos dos COC
e a resposta anabólica do músculo,
no entanto são necessários mais
estudos para avaliar esta interação,
assim como a influência dos COC no
metabolismo e força muscular.
O uso de contraceção hormonal
nas atletas é comum. Como
vantagens referem-se o controlo
hormonal ao longo do ciclo, possibilidade
de controlo da hemorragia
de privação, diminuição das
perdas de sangue, menos risco de
anemia, diminuição dos sintomas
da síndrome pré-menstrual. Como
possíveis desvantagens existe a
diminuição da concentração de
testosterona plasmática, com
– ATIVIDADE ANDROGÉNICA +
Tabela de contracetivos comercializados em Portugal de acordo com a sua atividade androgénica/anti-androgénica
Tipo de progestativo Dosagem hormonal EE Nomes comerciais
Acetato de ciproterona 0,035 mg Diane 35®
Dienogeste (4ª geração)
Drospirenona
(4ª geração)
0,03 mg Valette®, Denille®, Sibilla®
E2V variável*
Qlaira®
0,03 mg Yasmin®, Aranka®, Drosure®, Drosianne®
0,02 mg Yasminelle®, Arankelle®, Sidretella®, Drosural®l, Yaz®, Deylette®,
Droseffik®, Dioz®, Drosianelle®
Clormadinona 0,03 mg Belara®, Clarissa®, Libelly ®, Chariva®, Jeniasta®
Acetato de Nomegestrol E2* Zoely®
Gestodeno
(3ª geração)
Desogestrel
(3ª geração)
Levonorgestrel
(2ª geração)
0,015 mg Microgeste®, Minesse®
0,02 mg Minigeste®, Harmonet®, Estinette®, Juliperla®
0,03 mg Gynera®, Minulet®, Effiplen®,
Variável
Tri-Gynera®, Tri-Minulet®
0,02 mg Mercillon®, Novynette®
0,03 mg Marvellon®, Regulon®
Variável
Gracial®
0,02 mg Miranova®, Effilevo®
0,03 mg Microginon®
Variável
Trinordiol®
*Estrogénios naturais (E2V: valerato de estradiol, E2: 17 beta estradiol)
– ATIVIDADE ANTI-ANDROGÉNICA +
16 julho 2020 www.revdesportiva.pt