lesões renais e esplénicas ), a apresentação clínica , sexo e idade dos lesionados , o mecanismo de lesão e os outcomes das mesmas . Contrariamente à leitura até este ponto , o artigo proporciona uma leitura mais intuitiva , visto que cessa a necessidade de alternar o raciocínio entre a série de casos e a revisão de literatura . A exiguidade de literatura prévia sobre outcomes não pode ser imputada aos autores , cujos resultados ganham maior relevância nesse contexto . Destacamos alguns detalhes que parecem particularmente importantes . Por um lado , percebe-se que o baço e rim são os órgãos mais frequentemente afetados e os autores sugerem a fina cápsula esplénica e a escassa gordura peri-renal como fatores facilitadores de lesão . Por outro lado , sugerem ainda que as crianças são mais suscetíveis ( que o adulto ) a lesões abdominais pela musculatura abdominal menos desenvolvida e caixa torácica mais complacente . Além disso , são descritos dois casos que culminaram em morte ( rotura do baço e rotura da aorta abdominal ) e outro que necessitou de intervenção cirúrgica , e terminou com queixas álgicas abdominais crónicas .
A conclusão resume adequada e assertivamente o detalhe estatístico que se possa ter tornado exaustivo durante o artigo , discorrendo sobre as múltiplas facetas deste problema . Tal como referido , percebe-se que , apesar da baixa prevalência , estas lesões podem conduzir a queixas crónicas e até mesmo à morte . Contudo , a maioria das mesmas é tratada de forma conservadora e raramente terá complicações . Ambos os géneros , masculino e feminino , são igualmente afetados e é também idêntico o mecanismo de lesão : contacto jogador-jogador . Destaque-se o trauma direto pelo joelho ou o murro . O baço e rim são os órgãos mais afetados . Os autores rematam com a versátil apresentação clínica destes doentes , de dor abdominal ligeira até hematúria ( todos os sinistrados com lesão renal tinham hematúria evidente ), que deve motivar um alto índice de suspeição da lesão , e encaminhamento para centros adequados ao seu tratamento .
Tendo em conta as casuísticas apresentadas pelos autores , a identificação de determinados sinais / sintomas bem como a sua localização podem sugerir o órgão lesado . As lacerações esplénicas caraterizam- -se por dor abdominal aguda ou progressiva localizada ao quadrante superior esquerdo do abdómen ou generalizada , podendo ser acompanhada por náuseas e vómitos . Na lesão renal , a dor pode ser mais localizada ao flanco , embora possa também manifestar-se nos quadrantes superiores do abdómen e ser também acompanhada por náuseas e vómitos , sendo caraterística a presença de hematúria macroscópica . Uma laceração hepática manifesta-se habitualmente por dor intensa , geralmente progressiva , no quadrante superior direito com eventual irradiação ao ombro direito ou dor epigástrica aguda . No caso de laceração do pâncreas a dor é também intensa , de início súbito ou gradual , localizada ao quadrante superior esquerdo do abdómen ou generalizada , podendo ser acompanhada por náuseas e vómitos . Lesões graves de qualquer órgão abdominal podem-se associar a sinais de irritação peritoneal ao exame físico . Por último , embora apenas com um caso descrito na literatura , mas pela sua gravidade , a rotura da aorta abdominal associou-se a síncope , dor abdominal grave com abdómen difusamente doloroso e distendido .
A brevidade de assistência é um aspeto importante e os autores referem que a visita médica imediata ao Serviço de Urgência não ocorreu na maioria dos casos , ressaltando a natureza indolente e muitas vezes insidiosa dessas lesões .
Em resumo , é um artigo de interesse sobre uma patologia rara , bem estruturado e suportado pela literatura .
Alunos do curso de pós-graduação em Medicina Desportiva da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto ( 2021 / 22 )
1 . Sayyar Khakimov , Peter Zaki , Joseph Hess , William Hennrikus . Abdominal Organ Injuries in Youth Soccer : A Case Series and Review of Literature . Curr Sports Med Rep . 2021 ; 20 ( 2 ): 69-75 . doi : 10.1249 / JSR . 0000000000000785 .
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Revista de Medicina Desportiva informa janeiro 2022 · 5