Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2022 | Page 29

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. Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 1 ): 27-29 . https :// doi . org / 10.23911 / concussao _ jovem _ 2022 _ jan

O exercício aeróbio na recuperação após concussão cerebral relacionada com o desporto em adolescentes

Dr . Basil Ribeiro Medicina Desportiva , Vila Nova de Gaia .
A concussão cerebral é uma alteração funcional do cérebro que resulta de um trauma na cabeça ou no pescoço . É uma condição clínica que ocorre com alguma frequência , estimando-se 3,8 milhões de concussões cerebrais por ano ocorridas em atividades recreativas e desportivas nos Estados Unidos da América . 1 Habitualmente , refere-se a ausência de perda de consciência , mas provavelmente ela acontecerá por alguns momentos , segundos , e apenas não é constatada porque quando se aborda a vítima de concussão ela já terá recuperado o estado de consciência . O quadro clínico varia entre os sintomas ligeiros ( cefaleias e alteração do nível de consciência e do equilíbrio passageiros ) e os mais evidentes e incapacitantes , o que torna a retirada do atleta do treino / jogo mais fácil ( ver Red flags ).
O tratamento e o retorno ao desporto têm sido discutidos amplamente e os critérios têm sido muito objetivos e cada vez mais permissivos . O tratamento tradicional passava pelo repouso físico e psíquico absolutos , onde pouco ou nada era permitido para que o cérebro recuperasse espontaneamente com o decorrer do tempo . Contudo ,
Infografia do Centers for Disease Control and Prevention ( EUA )
as orientações têm sido alteradas e atualmente aconselha-se o repouso psíquico relativo , isto é , permite- -se alguma atividade cerebral em ambiente tranquilo , o uso de telemóvel e da televisão , por exemplo , desde que não provoquem agitação cerebral . Ficar em casa , faltando às aulas , está recomendado nos primeiros dias até à recuperação cognitiva cerebral .
O estudo publicado , em novembro de 2021 , no JAMA Pediatrics , pretendeu averiguar se o exercício aeróbio precoce colocaria em causa a recuperação após a concussão no adolescente . 2 Foram incluídos no estudo 103 adolescentes ( 13-18 anos de idade ) com história recente de concussão ( menos de 10 dias de evolução ), um grupo participou em exercício aeróbio moderado diariamente ( em casa ou no ginásio , bicicleta estacionária ou tapete rolante , caminhar ou jogging , 20 minutos , frequência cardíaca ( FC ) controlada , 80 % da FC subliminar avaliada no teste inicial ) e o grupo de controlo realizou exercícios de alongamento ( stretching ). Foram submetidos a teste em tapete rolante para avaliar tolerância ao exercício e depois envolvidos em exercício com intensidade que não causasse sintomas .
Através na internet os participantes reportavam as eventuais queixas diárias e a adesão ao exercício . O outcome principal foi o número de dias até à recuperação , sendo esta definida como o estado assintomático , confirmado por médico , e pela tolerância normal a um teste em tapete rolante . Os resultados revelaram que o grupo do exercício aeróbio esteve associado a melhoria em menos quatro dias no tempo de recuperação ( 13 dias vs 17 ), assim como o exercício esteve associado a taxa inferior de recuperação tardia após os 30 dias . De realce , não foram verificados eventos adversos durante a realização da investigação . Os autores concluíram que , apesar de haver algumas limitações neste estudo ( não ser duplamente cego , não haver controlo rigoroso sobre as sessões de exercício ), “ o exercício aeróbio individualizado abaixo do limiar dos sintomas durante a primeira semana após a concussão relacionada com o desporto acelera a recuperação e pode reduzir a incidência de recuperação tardia ”. Contudo , os autores referem que estes resultados não devem ser generalizados para crianças mais jovens ou adultos portadores de doença cardíaca ou doentes com concussões decorrentes de grandes acidentes , e apelam à realização de estudos com amostras maiores . 2
A investigação publicada um ano antes por Rachel Micay et al revelou resultados semelhantes , mas deve referir-se desde já que a amostra era muito pequena . 3 O objetivo foi verificar a utilidade do exercício estruturado no processo de reabilitação na fase pós-aguda da concussão cerebral relacionada com o desporto . Participaram adolescentes sintomáticos , havendo um grupo que realizou exercício aeróbio ( n = 8 ) e outro com tratamento habitual ( n = 7 ). O grupo do exercício iniciou no dia 6 após a lesão , compreendeu oito sessões com aumentos progressivos da intensidade e duração em cicloergómetro . Todos estes adolescentes completaram as sessões de exercício , não se tendo verificado agravamento dos sintomas em qualquer uma das sessões de exercício e , no final , tiveram maior resolução dos sintomas , o que levou os autores a concluírem que o “ protocolo de exercício aeróbio
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