Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2022 | Page 20

Quando há falência desta abordagem , recorrem-se aos tratamentos minimamente invasivos . A grande vantagem destes tratamentos é possuírem simultaneamente capacidade diagnóstica e valor terapêutico . Relativamente a esta questão , existe a possibilidade da injeção intra- -articular de anestésico , com ou sem corticoide , ou o recurso ao bloqueio de ramo medial . 12 Este último , feito com recurso a TAC ou idealmente a fluoroscopia , é recomendado pelas últimas guidelines de consenso ( nível de evidência B ). Em alternativa na doente grávida , a ecografia pode ser usada para guiar o procedimento ( nível de evidência B ). 17 O uso de corticoides pode contribuir para o controlo da dor de curta a média duração , mas o seu uso não está recomendado nas guidelines europeias de abordagem à lombalgia crónica . 6 , 20
Perolat et al . recomendam contra o uso de injeção intra-articular terapêutica por rotina , exceto em populações especificas , nomeadamente em doentes com elevado risco de efeitos adversos da neurólise ( ex . atletas jovens ) ou em doentes com resposta prévia muito favorável a esta abordagem ( nível de evidência D ). 6
Assim que as abordagens anteriormente descritas permitam estabelecer um diagnóstico com maior grau de certeza , devem ser ponderadas estratégias de longo prazo . 12 O candidato ideal para desnervação é o doente que realizou bloqueio do ramo medial com significativa melhoria após falência do tratamento conservador . 6 As sondas para desnervação são colocadas em dois níveis subsequentes . 21 As fibras nervosas podem ser destruídas por métodos físicos ( calor – radiofrequência ; frio – crioneurólise ) ou químicos ( álcool ou fenol ). Independentemente da técnica utilizada , a neurólise não permite a resolução definitiva da dor , dado que o tecido nervoso é capaz de se regenerar e haver recorrência da dor . 15 Atualmente , a International Spine Intervention Society recomenda um máximo de duas desnervações por ano . 22
O método mais utilizado na atualidade é a ablação por radiofrequência . As guidelines mais recentes recomendam o bloqueio de ramo medial como teste de screening prognóstico a realizar antes da ablação por radiofrequência ( nível de evidência C ) e aconselham o uso de fluoroscopia como guia ( nível de evidência B ). 6 , 17 Apesar de previamente se considerar a necessidade de dois bloqueios de ramo antes do recurso à ablação por radiofrequência , as guidelines atuais indicam apenas um bloqueio com sucesso antes do procedimento ( nível de evidência C ). 17 Apesar da variabilidade de taxas de eficácia reportadas por diferentes autores , a eficácia média do procedimento ronda os 50 % com efeitos a manterem-se por períodos de nove meses a um ano . 12
Relativamente ao tratamento cirúrgico , não existe evidência para apoiar qualquer intervenção cirúrgica no tratamento da síndrome das facetas . Em casos de espondilolistese , pode ser considerada a realização de artrodese , mas apenas na falência do tratamento conservador . Na grande maioria dos casos , a abordagem conservadora e as estratégias minimamente invasivas são consideradas em primeira linha . 6 Ressalva-se ainda que os resultados dos bloqueios das articulações zigoapofisárias não permitem prever os resultados das intervenções cirúrgicas . 17
Existem ainda novas modalidades terapêuticas neste âmbito , nomeadamente o uso de plasma rico em plaquetas ( PRP ). Dois estudos recentes que avaliaram o uso de PRP em comparação com o anestésico local / corticoide mostraram eficácia 23 , 24 superior do PRP .
Conclusões
A dor com origem facetária manifesta-se como uma causa comum de lombalgia nos países desenvolvidos , atingindo todos os estratos da população incluindo atletas . Etiologicamente , a osteoartrose constitui- -se como a causa mais comum . No que concerne ao diagnóstico , existe fraca correlação entre exame clínico e exames de imagem . Os bloqueios de ramo medial podem indicar com segurança as facetas articulares que causam dor . Após esse processo de seleção , os pacientes podem beneficiar de neurólise , nomeadamente por radiofrequência ou crioablação . Na bibliografia não se verifica evidência para apoiar qualquer intervenção cirúrgica no tratamento da síndrome das facetas , exceto em casos de espondilolistese onde pode ser considerada a realização de artrodese .
Correspondência João Faria – joaofaria1204 @ gmail . com
Os autores declaram ausência conflitos , assim como a sua originalidade e anão publicação prévia
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18 janeiro 2022 www . revdesportiva . pt