Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2021 | Page 5

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 1 ): 3-5 . https :// doi . org / 10.23911 / FMUP _ 2021 _ jan Dr . Hugo Almeida 1 , 2 , Dr . José Ferreira 1 , 3
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Médico Interno de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar , USF Barão Nova Sintra – ACeS Porto Oriental ; 3 Hospital Nossa Senhora da Oliveira , Guimarães .
Load , Overload , and Recovery in the Athlete : Select Issues for the Team Physician – A Consensus
Statement 2
Este texto publicado em 2019 na Medicine & Science in Sports & Exercise , do Colégio Americano de Medicina Desportiva , constitui uma declaração de consenso produzida por seis associações médicas americanas de medicina desportiva e que fizeram uma abordagem sobre a carga , a sobrecarga ( excesso de treino ) e a recuperação do atleta . O texto define a carga como o estímulo recebido e gerido pelo atleta antes , durante e depois da sua aplicação , que causará exigência interna do foro fisiológico e psicológico e se for adequada melhorará o rendimento e será veículo para a prevenção de lesões . A sobrecarga é definida como a carga que ultrapassa a capacidade de adaptação interna , existe desequilíbrio entre as cargas externa e interna , com consequente diminuição do rendimento e aparecimento da lesão . Neste particular , importa chamar a atenção para a eventualidade da carga externa ser adequada , mas a capacidade do organismo para a processar estar diminuída e , assim , surgir sobrecarga ( relativa ). Na sobrecarga absoluta , o organismo tem capacidade de adaptação normal , mas o estímulo externo é excessivo . Os autores realçam que também o sub-treino , onde existe carga externa insuficiente , é causa
de lesão e de diminuição do rendimento . Finalmente , a recuperação é definida como o processo interno destinado a otimizar as adaptações físicas , fisiológicas e psicossociais decorrentes das cargas internas e externas .
A abordagem apresentada pelos autores promove o bem-estar do atleta , pelo que a tecnologia portátil a usar pela equipa médica e / ou recuperador físico para monitorização da carga externa aplicada ao atleta é de grande importância e deve ser estudada através dos diversos indicadores específicos da modalidade desportiva ( número de horas e de dias de treino , distância percorrida a várias velocidades , número de lançamentos , cargas no treino de resistência , entre outros parâmetros ). Algumas cargas internas de características individualizadas , variáveis no tempo , são a idade , o sexo , a composição corporal , a aptidão física , a história prévia de lesão , a saúde psicológica , etc .
Os treinos com cargas excessivas , que condicionam alterações do equilíbrio entre a carga interna e externa , definidas neste artigo como sobrecarga , causam alteração na capacidade de adaptação do atleta ao treino , com efeito nefasto para o atleta , como o aparecimento de lesões e de fadiga , os quais o impedirão de atingir o máximo potencial nas competições .
Os autores dão atenção ao overtraining , situação caracterizada pela não evolução do rendimento apesar do repouso e da recuperação . Embora considerem a sua manifestação de carácter individual , há indicadores clínicos que alertam para a possibilidade de diagnóstico : perda de peso , fadiga persistente , alterações gastrointestinais , alterações do sono , dores musculares que persistem , diminuição da concentração plasmática de lactato no esforço submáximo , aumento da frequência cardíaca ( FC ) em repouso , diminuição da FC máxima e do VO 2
máx , aumento dos níveis de IgA , alguns estudos apresentam diminuição da variabilidade da frequência cardíaca máxima , sinal do aumento do tónus simpático , aumento da noradrenalina em repouso e diminuição da relação testosterona livre / cortisol . Contudo , é necessário estar atento à variação circadiana do ambiente hormonal .
A nível do aparelho musculosquelético a sobrecarga de treino e / ou tempo insuficiente para a recuperação origina adaptações prejudiciais . A recuperação é o processo objetivo de otimização de adaptação física , psicológica e psicossocial às cargas externas . Quando o treino excessivo não permite a adaptação positiva durante o período de recuperação surgirá a lesão , descrevendo-se vários exemplos neste texto :
• Osso – o desequilíbrio entre a atividade osteoclástica e a osteoblástica poderá criar um continuum , com reação de stress , fratura de stress e fratura total do osso ;
• Fise óssea – o excesso de tração e de força tensional devem ser dimensionadas no atleta com esqueleto imaturo ;
• Músculo – diminuição da capacidade de gerar força e de velocidade de encurtamento das fibras ;
• Tendão – a diminuição da capacidade de cicatrização dos tenócitos causará tendinopatias . A nível psicológico e mental , o ato de treinar pode produzir fatores de stress adicionais , para além do stress causado pelo treino físico , como seja a fadiga aguda , a dor , a suscetibilidade à doença e aos sintomas emocionais , havendo também variabilidade significativa inter e intrapessoal , decorrentes da idade , sexo , nível de aptidão física , estado hormonal e metabólico e de fatores genéticos . Existe stress inerente ao desporto que se pratica , que poderá resultar do repouso insuficiente , da dor musculosquelética ou dúvida sobre a própria capacidade ou evolução . Os autores referem que a avaliação subjetiva através da taxa de perceção de esforço ( RPE ) e do estado de espírito têm sensibilidade e consistência elevadas na determinação da dos estados de fadiga aguda e crónica .
O desequilíbrio entre a carga e a recuperação consequente pode resultar no aumento dos níveis de ansiedade , somatização , alterações de humor , diminuição da motivação , perda de confiança , fadiga , apatia ,
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