Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2021 | Page 19

consequência o défice da rotação medial da articulação glenoumeral . O ombro dominante tem maior risco de lesão quando a perda da rotação medial é igual ou superior a 18 ° e há uma diferença igual ou superior a 5 ° na amplitude total de movimentos entre ambos os ombros . 9
Traumatologia do voleibol
Bere T . et al estudaram as lesões registadas pela Federação Internacional de Voleibol em todos os grandes torneios ( Campeonato Mundial , Copa do Mundo , World Grand Prix , Jogos Olímpicos , Liga Mundial ) decorridos entre setembro de 2010 e novembro de 2014 , num total de 25633 lesões . A incidência de lesões durante os jogos que levaram a incapacidade de prosseguir com o jogo foi de 3.8 / 1000 horas de jogo , não se tendo verificado diferença estatisticamente significativa entre géneros . As áreas do corpo mais frequentemente lesionadas foram os tornozelos ( 25.9 %), seguidos dos joelhos ( 15.2 %), dedos das mãos ( 10.7 %), coluna lombar ( 8.9 %) e ombro ( 5 %). Os tipos de lesões mais frequentemente diagnosticadas foram as entorses ( 32.5 %), nomeadamente do tornozelo , dedos das mãos e joelhos , as roturas musculares parciais ( 14.1 %), sobretudo ao nível da região lombar e da coxa , e as contusões ( 12.7 %). 4 Por sua vez , Pollar KA . et al registaram as lesões associadas ao voleibol em idade pediátrica apresentadas aos serviços de urgência dos Estados Unidos da América ( com base num serviço eletrónico nacional comum a 100 hospitais ), entre 1990 e 2009 . Registou-se uma taxa de internamento de 1 %. Cerca de 48 % das lesões ocorreram nos membros superiores ( cerca de metade nos dedos das mãos ), 39 % nos membros inferiores ( maioritariamente ao nível dos tornozelos ), 9 % na cabeça ou pescoço e 4 % no tronco . Os tipos de lesões mais frequentes foram as roturas musculares ou ligamentares parciais ( 54 %) e as fraturas e luxações ( 17 %). 10
Alguns trabalhos identificaram o género como fator de risco para algumas lesões , a realçar um aumento na prevalência de tendinopatia patelar nos homens e de subluxação da articulação glenoumeral nas mulheres .
11 , 12
A função da coifa dos rotadores é de limitar movimentos excessivos e potencialmente lesivos da cabeça do úmero na cavidade glenoideia , bem como de auxiliar nas mobilidades do ombro . O desequilíbrio entre os rotadores mediais e os rotadores laterais da coifa dos rotadores , associado a laxidão assimétrica dos ligamentos capsulares e do labrum glenoideu , favorecem a instalação de instabilidade glenoumeral , possibilitando movimentos translacionais excessivos e possivelmente lesivos da cabeça do úmero sobre a cavidade glenoideia . 2 O conflito interior do ombro surge como resultado da subluxação anterior da cabeça do úmero nos movimentos extremos de elevação anterior , abdução e rotação lateral do ombro frequentemente executados no voleibol . Este conflito verifica-se entre a face articular dos tendões supra e infraespinhoso da coifa e a porção póstero-superior do rebordo glenoideu e labrum , podendo originar tendinopatia da coifa dos rotadores , espetro que pode variar entre tendinites , tendinoses e rotura tendinosa . As forças de cisalhamento aplicadas sobre a porção superior do labrum glenoideu , proporcionadas pelos característicos movimentos overhead do voleibol , favorecem a sua rotura . Neste desporto são típicas as roturas tipo SLAP ( superior labral tear from anterior to posterior ), que são localizadas na porção superior do labrum ao nível do local de inserção do tendão da longa porção do bicípite braquial no próprio labrum . De acordo com o seu padrão , estas roturas podem ou não também afetar o tendão da longa
13 , 14
porção do bicípite braquial . A prevalência da neuropatia do nervo supraescapular é de 12.5 – 33 % em jogadores de voleibol de alta competição . 15 É caracterizada por diminuição de força de abdução e rotação lateral do braço devido a desnervação dos músculos supra e infraespinhoso . O nervo supraescapular pode ser comprimido a nível do canal supraescapular , originando atrofia do supra e infraespinhoso , mas nos jogadores de voleibol é mais frequente a sua compressão no canal espinoglenoideu , causando atrofia isolada do infraespinhoso . 16 A sua patogénese ainda não se encontra totalmente esclarecida . Múltiplos microtraumas causados por tração repetida ou microêmbolos dos vasa nervorum do nervo supraescapular são possíveis causas . O nervo supraescapular também pode ser comprimido no canal espinoglenoideu por um quisto sinovial consequente a uma rotura do labrum posterior . 15 A eletromiografia é o exame complementar que confirma as suspeitas clínicas de diagnóstico desta síndrome .. 17 No diagnóstico diferencial da neuropatia do nervo supraescapular deve fazer parte a síndrome de Parsonage-Turner ( neurite do plexo braquial ). 2
A síndrome do espaço quadrilátero é uma entidade rara causada pela compressão do nervo axilar e artéria umeral circunflexa posterior ao nível do espaço quadrilátero . Esta compressão é habitualmente agravada aquando dos movimentos de abdução e rotação lateral dos braços , que ao condicionarem a subida dos limites inferiores do espaço quadrilátero ( longa porção do tricípete braquial e teres major ), provocam redução deste espaço e compressão do seu conteúdo . 18 Este síndrome é muitas vezes atribuído a bandas fibrosas e aderências no espaço quadrilátero que se formam por prováveis microtraumas locais repetidos . As manifestações clínicas do síndrome incluem omalgia difusa , atrofia , parestesias e parésia ao nível do deltóide e do teres minor , com diminuição da rotação lateral do ombro . Pode também apresentar manifestações vasculares , tais como isquémia digital devido a embolização arterial , sendo que todos os sintomas agravam na abdução e rotação lateral dos braços . 19-21
As lesões dos dedos das mãos são comuns no voleibol . São frequentes durante os bloqueios , por carga axial exercida sobre a extremidade dos dedos e hiperextensão dos mesmos após contacto com a bola , podendo também ocorrer na fase de desaceleração de um ataque , onde são frequentes impactos dos dedos com a rede ou outro jogador . A maioria das lesões são ligamentares e ocorrem ao nível da articulação interfalângica proximal . Estão também descritas lesões dos tendões extensores dos dedos , nomeadamente situações de dedo em martelo decorrente de trauma axial sobre a ponta dos dedos . 2
O movimento repetido de manchetes , em particular se a bola for recebida de modo incorreto na porção volar radial dos antebraços , pode conduzir a situações de sinovite da bainha dos tendões do primeiro compartimento
Revista de Medicina Desportiva informa janeiro 2021 · 17