Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2021 | Page 16

antecedentes clínicos foram obtidos através da plataforma informática “ Reuma . pt ”.
O nível de atividade física semanal dos doentes foi avaliado através da aplicação do International Physical Activity Questionnaire ( IPAQ ) presencial ou telefonicamente . Este questionário está validado para a população portuguesa e visa quantificar , em equivalentes metabólicos ( MET min / sem ), a atividade física realizada nos diferentes contextos das atividades diárias . Nestas atividades inclui-se o tempo semanal gasto em caminhada , atividades físicas de intensidade moderada , atividades de intensidade vigorosa e ainda o tempo despendido em atividades passivas realizadas na posição sentada . A partir do cálculo dos METs min / sem foi possível atribuir a cada doente um valor denominado por total activity score que permite categorizar a amostra em grupos de acordo com cut-offs de atividade física :
• Indivíduos sedentários : com valor de total activity score inferior a 600 MET min / semana ;
• Indivíduos moderadamente ativos :
• mais de 3 dias / sem de atividade vigorosa e pelo menos 20 min por sessão
• mais de 5 dias / sem de atividade moderada e / ou caminhada pelo menos 30min / dia
• 5 ou mais dias de qualquer combinação de caminhada com atividade moderada-vigorosa com um mínimo de 600 MET min / sem .
• Indivíduos ativos : mais de 3 dias de atividade vigorosa com pelo menos 1500 MET min / sem ou 7 ou mais dias de qualquer combinação de caminhada com atividade moderada-vigorosa com um mínimo de 3000MET min / sem . 5 A atividade inflamatória da AR foi calculada a partir do DAS , na variante com a contagem de 28 articulações ( DAS-28 ) validado para a população portuguesa . Nas mãos , as articulações avaliadas foram da primeira à quinta articulação metacarpofalângica , a articulação interfalângica do 1 º dedo e a 2 ª à 5 ª articulação interfalângica proximal . O parâmetro de Saúde Global representa a autoavaliação da atividade da doença pelo doente , numa escala de 0 a 100 , na qual 100 significa atividade máxima . 6 , 7
A interpretação do DAS-28 é a seguinte : 6 Tabela 1 – Interpretação do Score de Atividade da Doença ( DAS-28 )
Análise estatística
Os dados foram analisados com recurso ao programa Statistical Package for the Social Sciences ( SPSS ). Os níveis de atividade física foram comparados com o DAS-28 utilizando a análise de variância ( ANOVA ), sendo a nossa variável quantitativa contínua .
Resultados
Foram incluídos neste estudo 50 doentes , 44 do sexo feminino ( 88 %), as idades variaram entre os 35.2 anos e os 75 anos , com idade média de 60.3 anos . Dos doentes inquiridos 20 % foram classificados como ativos ( n = 10 ), 32 % moderadamente ativos ( n = 16 ) e 48 % foram classificados como sedentários ( n = 24 ). O DAS-28 variou entre 0.97 e 6.57 , com uma média de 3.73 e uma mediana de 3.48 . Os doentes ativos apresentam uma média de DAS-28 de 3.82 , os moderadamente ativos de 3.36 e os sedentários de 3.94 , ou seja , os três grupos têm uma atividade da doença moderada . Os três grupos seguem uma distribuição normal e são homogéneos . Após aplicação do teste ANOVA verificou-se que não existe diferença estatisticamente significativa ( valor p > 0.05 ) entre os grupos .
Discussão
Atualmente a literatura é consensual relativamente aos benefícios da prática de atividade física nos doentes com doenças reumatológicas , existindo recomendações para a prescrição de exercício físico bem definidas , que incluem uma combinação de exercício aeróbio ou cardiovascular , de resistência ou fortalecimento muscular , de flexibilidade e de equilíbrio ou neuromotor . 4 Contudo , ainda se verificam níveis de atividade física inferiores aos dos grupos de controlo e , simultaneamente , o incentivo à prática de atividade / exercício físico nestes doentes é inferior ao desejado . Nos dados do Eurobarómetro de 2017 , que questionaram os adultos europeus quanto à prática de atividade física ou à prática de algum desporto , Portugal pertence ao grupo de países com maior percentagem de participantes que responderam “ nunca ” ( 68 %, contra a média europeia de 46 %). 8
No nosso estudo verificámos que 52 % dos doentes ( n = 26 ) mantinham prática de atividade física regular . Este achado é superior aos valores encontrados na literatura atual , o que pode ser explicado pelo contacto mais próximo e regular com vários profissionais de saúde , que assumem regularmente uma atitude educativa e promocional face à importância da adoção de estilos de vida saudáveis , como a prática de atividade física . O contacto com estes profissionais reforça os benefícios para a atividade da doença e comorbilidades associadas , bem como para a participação do doente em atividades variadas que promovam uma melhoria do seu estado psicológico e social . Na nossa amostra , os 3 grupos de atividade física apresentaram todos um valor médio de DAS-28 correspondente a uma atividade de doença moderada , não se encontrando diferença estatisticamente significativa entre os grupos .
Limitações
• O tamanho reduzido da amostra ;
• A amostra foi constituída exclusivamente por um subgrupo de doentes com AR medicados com terapêutica biológica ;
• O questionário IPAQ é executado sob a forma de auto-relato . Muitas das avaliações foram realizadas via telefone e a veracidade ou subjetividade dos dados fornecidos é um fator que deve ser tido em consideração .
Conclusão
A eficácia e segurança da prática de exercício físico nos doentes com AR está bem demonstrada na
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