Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2021 | Page 12

Tema 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2021 ; 12 ( 1 ): 10-12 . https :// doi . org / 10.23911 / Reab _ LCA _ psicologia _ 2021 _ jan

Reabilitação do ligamento cruzado anterior do joelho ( LCA ) – Performance e Retoma Segura da Prática Desportiva . Elementos a não Esquecer .

Prof . Doutor João Páscoa Pinheiro Especialista em Medicina Desportiva e em Medicina Física e de Reabilitação . Faculdade Medicina Universidade Coimbra .
RESUMO / ABSTRACT
A lesão do ligamento cruzado anterior ( LCA ) no âmbito da prática desportiva determina um risco elevado de perda de nível competitivo . Apresentamos três áreas de intervenção que consideramos relevantes para promover a saúde do atleta e reduzir o impacto lesional na retoma desportiva . Referimos , assim , o interesse da reabilitação pré-operatória , do condicionamento ao esforço e da gestão da cinesiofobia .
Anterior cruciate ligament ( ACL ) injury in sport determines a high risk of loss of competitive level . We present three areas of intervention that we consider relevant to promote the athlete ’ s health and reduce the injury impact on the return to sports . Thus , we refer to the interest of preoperative rehabilitation , conditioning to effort and management of kinesiophobia .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Ligamento cruzado anterior , pré-operatório , condicionamento ao esforço , cinesiofobia . Anterior cruciate ligament , preoperative , conditioning effort , kinesiophobia .
Introdução
A lesão do LCA é um acontecimento grave do joelho , originando instabilidade estática e dinâmica , limitando a prática do desporto e aumentando o risco de gonartrose secundária . 1-5 Com a incidência anual de 68.6 por 100 000 , a lesão do LCA é uma lesão comum . 6
A incidência é mais elevada em adultos jovens , 3 % nos atletas amadores e superior a 15 % em atletas de elite , conforme o gesto desportivo dominante 7-9 e a reconstrução ligamentar é hoje entendida como um tratamento comum . 10 No entanto , diversos estudos demostraram que 35 % a 45 % dos atletas não retomam aos dois anos a performance pré lesional 11 , 12 , que entre 3 a 22 % recidivam a rotura da plastia 13 e que 3 a 24 % rompem o LCA contralateral nos cinco anos seguintes à reconstrução ligamentar .
14 , 15
A reconstrução ligamentar , independentemente da técnica cirúrgica utilizada , não impede o aumento de incidência de gonartrose . 16-18
A alteração do momento angular de flexão do joelho , da simetria da carga , da força muscular e da atividade propriocetiva , são elementos a considerar no retorno seguro ao desporto e na prevenção do risco artrósico . 19-24 Os doentes com mais força do quadríceps femoral e maior perceção subjetiva de função apresentam maior simetria na marcha e maior força de contacto no membro afetado . Os deficites de força iguais ou maiores que 20 % também justificam valorizáveis assimetrias na marcha e agravam o prognóstico desportivo . 25-27
Apresentamos , assim , três elementos do programa de reabilitação do LCA pouco valorizados , mas com crescente evidência na performance e na retoma segura do desporto , nomeadamente a reabilitação pré- -operatória , o condicionamento ao esforço e a condição psicológica .
Reabilitação pré-operatória
Os doentes submetidos a um programa de reabilitação pré-operatório apresentam aos dois anos melhores resultados nos índices de confiança , na qualidade de vida e na retoma desportiva . 28 , 29 O exercício pré-operatório não só impediu a atrofia do quadríceps femoral , como acelerou a recuperação da força muscular e a retoma funcional . 30 A força muscular pré-operatória do quadríceps femoral é um importante preditor do prognóstico funcional após reconstrução do LCA . Assim , seis semanas de trabalho pré-operatório melhoram diferentes parâmetros funcionais , nomeadamente o single-legged hop test , o score total da escala de Cincinatti modificada , o peak torque do quadríceps femoral e diferentes aspetos da atividade contrátil da fibra muscular . 31
A história clínica pré-operatória pode identificar diversos fatores de prognóstico funcional , nomeadamente a força muscular do quadríceps femoral , o deficite de mobilidade do joelho , o ser fumador e um índice de massa corporal elevado . 32
A coexistência de lesão meniscal ( medial ou lateral ) determina de forma significativa um pior prognóstico nos índices de função 33 , mas o grau de laxidez anterior não mostrou influenciar o prognóstico funcional . 34 Por outro lado , a coexistência de patologia condral , a lesão dos ligamentos colaterais e ainda o nível de atividade pré-operatória apresenta
33 , 35
resultados controversos .
A avaliação pré-operatória das assimetrias de força no membro inferior ( músculos quadríceps femoral e isquiotibiais ) e a alteração do padrão da marcha ( momento de flexão do joelho ) podem identificar os atletas onde a retoma desportiva no nível anterior à lesão vai ser mais difícil de atingir . 36 Assim , a implementação de programas pré-operatórios para aumentar a força muscular e o controlo neuromuscular propriocetivo facilitam a aquisição mais precoce dos critérios funcionais necessários à retoma desportiva segura no pós-operatório .
36 , 37
A evidência refere que a extensão completa do joelho no pré-operatório é uma condição importante para reduzir o risco de artrofibrose e que um deficite de força do quadríceps superior a 20 % antes da cirurgia compromete de forma significativa os diferentes testes funcionais . 38
10 janeiro 2021 www . revdesportiva . pt