Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2019 | Page 4

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(5):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_2019_9 Dr. José Ramos Medicina Desportiva. Boavista F C. Porto É, sem dúvida, dos médicos mais antigos e mais envolvidos na Medicina Desportiva. Por onde tem andado? Durante os últimos 35 anos que estou na Medicina Des- portiva quase em exclusivo, tive a oportunidade, a sorte e a graça de me envolver em todo o tipo de instituições onde se pratica e se discute a Medicina Desportiva – Centro de Medi- cina Desportiva do Porto (23 anos), Federação Portuguesa de Canoagem (22 anos), Boavista F.C. (27 anos), Federação Portuguesa de Remo (10 anos), Presidente da Comissão Médica do Comité Olímpico de Portugal, Colégio de Especialidade de Medicina Desportiva e de estar presente em muitas competições: campeonatos regionais, nacionais, taças do Mundo, campeonatos do Mundo, UEFA e Champions League e Jogos Olímpicos (duas vezes). Tem sido médico no Boavista. A prática clínica num clube de futebol mudou muito? Mudou muitíssimo. Da medicina curativa passámos para a medicina muito mais preventiva. Quando entrei para o futebol o objetivo era a intervenção na avaliação e controle de treino, que hoje se faz com outros profissionais para além do médico e com muitos mais meios. Avaliava- mos a carga interna com os cardio- frequencímetros, usávamos os testes de lactato e as provas de avaliação cardiorrespiratória para avaliação de limiares e determinar velocidades de treino, mas tínhamos uma perceção muito limitada da carga externa. Atualmente, com com a panóplia de meios tecnológicos torna-se mais 2 setembro 2019 www.revdesportiva.pt fácil, como seja o caso do sistema de GPS. Fazia-se muito pouco trabalho de prevenção de lesões, embora já usássemos a avaliação isocinética e a prescrição individual de cargas, para prevenir desequilíbrios muscu- lares. E a experiência enquanto diretor do Centro de Medicina Desportiva do Porto? Foi muito boa, porque a equipa que conseguimos formar e com a par- ticipação de todos os funcionários, atingimos metas que nunca mais foram atingidas, como por exemplo, triplicámos o número de atletas atendidos no Centro. Conseguimos, com os mesmos meios e sem custos acrescidos, alargar o horário de funcionamento, proporcionando aos atletas um atendimento das 08 às 20 horas. Aumentámos a oferta de serviços, nomeadamente na área da fisioterapia desportiva. Estabelece- mos os primeiros protocolos com autarquias, o que facilitou o acesso dos atletas desses concelhos ao Centro de Medicina Desportiva (Fel- gueiras e Matosinhos, por exemplo). Havia um caminho para percorrer que foi cortado, nomeadamente no apoio à alta competição, na oferta de serviços especializados e na inves- tigação. Os Centros de Medicina Desportiva devem virar-se para fora e servir, ir de encontro às necessi- dades dos atletas e das Federações. Tivemos grande dificuldade, já nos últimos anos, que as entidades supe- riores entendessem isto. plataforma digital permitiria, para além de assegurar que os exames seriam feitos por médicos creden- ciados, o acesso ao historial clínico do atleta facilitava todo o processo administrativo. Sabemos pelo que nos contam que hoje há muitos exames que não são realizados pelos médicos, mas são assinados por alguém… médico!!! Tem sido um grande dinamizador dos Cursos de Pós-graduação em Medicina Desportiva na Faculdade de Medicina do Porto. Têm tido muito sucesso… O grande dinamizador foi o Prof. Dr. Ovídio Costa que me convidou para o ajudar. A FMUP tem hoje uma oferta de cursos na área da Medicina Desportiva ampla que abrange todas as áreas de interesse e de todos os grupos profissionais. Dou como exemplo os cursos de especialização em Medicina Desportiva, Medicina no Futebol e Imagiologia na Medi- cina Desportiva para médicos (pro- vavelmente no 2º semestre deste ano letivo). Temos ainda Reabilitação em Medicina do Desporto e no Futebol para enfermeiros, fisioterapeutas e profissionais de educação física e está em preparação, com a Federa- ção Portuguesa de Futebol, um curso de primeiros socorros com DAE para pessoas que, não sendo profissionais de saúde, estão em contacto com os atletas e são muitas vezes a primeira resposta quando o acidente acontece. Para terminar, o que falta ainda à Medicina Desportiva? Sabemos que é um dos responsáveis pela elaboração do boletim de exame médico, publicado em Diário da República. Faria alterações do seu conteúdo na data de hoje? Faria sobretudo na forma. Hoje não faz qualquer sentido não ter o exame numa plataforma digital e que não seja realizado por médi- cos com formação específica. A Apostar nos jovens especialistas que têm muitas ideias e um caminho maior que o nosso para percorrer. É necessário regular a lei de Assistên- cia Médico-Desportiva que já existe e entregar os destinos da Medicina Desportiva a quem sabe. Não preci- samos de mais leis: precisamos de cumprir as que temos.